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Associação Brasileira de Imprensa repudia “Folha” por capa com foto de Lula

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Na noite desta quinta-feira (19), a Associação Brasileira de Jornalismo (ABI), publicou nota na qual classifica a imagem capturada pela fotojornalista Gabriela Biló  de  “atentado ao jornalismo”.

A foto publicada na do jornal imprenso da Folha de São Paulo, causou ira nos lulistas, que acusaram o veículo de sugerir que o presidente Lula “leve um tiro no coração”.

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O veículo explica  na legenda da própria fotografa, a técnica utilizada para captar a imagem: “foto feita com múltipla exposição mostra Lula ajeitando gravata em vidro avariado”. 

 

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Eis a nota da ABI:

Gabriela Biló é uma jovem fotojornalista de 34 anos que começou a carreira cobrindo as manifestações de junho de 2013 pela agência Futura Press. Dedicou-se ao jornalismo político e dez anos depois, neste 19 de janeiro de 2023, abriu debate sobre Verdade e Jornalismo ao usar da tecnologia para produzir uma realidade criada a partir de uma foto que escapa ao princípio da captura do instante, compromisso consagrado no exercício da profissão que tem a responsabilidade de informar a sociedade com o registro imagético dos acontecimentos como de fato se dão.

A foto do presidente Lula superposta por vidro em que o ponto do estilhaço está na altura do coração do mandatário vem causando alvoroço nas redes jornalísticas e sociais em geral. É primeira página de um dos ainda chamados grande jornal que vem se notabilizando pela orgânica cumplicidade com o golpismo disfarçada de flerte pela edição de matérias que levam a pensar tratar-se de veículo imparcial. Como se houvesse imparcialidade em qualquer meio de comunicação.

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O veterano fotojornalista Helio Campos Mello, ex-diretor de Redação da revista Isto É e do jornal O Estado de São Paulo, agora dedicado à organização de seu material desde o governo Médici no site HCM, disse que reconhece o talento de Gabriela mas “fotojornalismo não permite montagem ou múltipla exposição, que foi a técnica usada”. Hélio observa que “esse tipo de serviço diz respeito à editoria de Arte e, ainda assim, só deve ser feito com a concordância do fotógrafo”.

Gabriela, filha deste tempo que realiza estéticas a partir de ética relativizada, se colocou no Instagram: “fui ‘intimada’ a me explicar sobre minha foto- fato curiosíssimo. Aceito o desafio”, e esclareceu que usou a técnica de múltipla exposição “muito antiga no fotojornalismo desde a fotografia analógica”.

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Gabriela se explicou pela tecnologia. O limite da técnica não capta nem alcança o fato bruto. Sem dúvida, edulcora, embeleza ou enfeia dependendo do ângulo e do recorte, mas se afasta do fotojornalismo que não desistiu do caso de amor e ódio com a realidade pura e simples.

“Técnica de ‘múltipla exposição de imagens’, na capa da Folha. Um eufemismo, em tempos de pós-verdade, para definir a manipulação da informação. Isso não é jornalismo. Isso é uma perversa adulteração da realidade. No caso, perigosíssima, pela gravidade da atual situação do país”, protestou o escritor Lira Neto pelo Twitter.

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“Se a Folha de São Paulo diz que esta foto foi “feita com múltipla exposição” (na prática, uma montagem), está admitindo que teve a intenção de criar (e publicar) uma imagem cuja conotação imediata é de um tiro contra Lula, ou seja, um atentado. Mesmo que fosse um recorte de foto mais ampla, a forma como foi utilizada também leva à sugestão de um atentado. Fotomontagem não é jornalismo! Como já perguntaram, seria um caso de “apito de cachorro” (mensagem cifrada para que alguém aja neste sentido)? Ou “apenas” uma demonstração de ódio dos editores do jornal?”, indaga Aguinaldo Ramos, veterano repórter fotográfico.

“Gabriela Biló, fotógrafa de grande desenvoltura e com cacoete de youtuber, com mais de 65 mil seguidores no instagram, sentiu-se impelida a usar uma dupla exposição para reunir na mesma imagem um retrato do presidente Lula com a vidraça do Palácio do Planalto estilhaçada pelos terroristas. Esse gesto, por si só, tira a imagem da natureza do fotojornalismo e a desloca para o âmbito da ilustração. Colagem, montagem, justaposição, são práticas de artistas e ilustradores, não de fotojornalistas. Logo, tal artifício desloca Biló da função de repórter e a coloca como cronista, articulista, ilustradora, editorialista, funções que na redação da Folha – na qual trabalhei 13 anos (1991 a 2004), sendo 09 anos como editor de fotografia – têm liberdade para expressar opiniões próprias à revelia da linha editorial. Que Biló deseje ultrapassar limites éticos e estéticos à revelia das normas que regem a prática do fotojornalismo, na ânsia de ser, talvez, uma artista, é uma questão dela. O problema está na Folha em bancar essa atitude”, escreveu Eder Chiodetto, jornalista, fotógrafo, curador independente e crítico de fotografia, no Instagram.

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“A escolha editorial de estampar a imagem-ilustração de Biló na primeira página – decisão que passa pela direção do veículo, como vivenciei em 09 anos na função que me era devida – é só mais uma que vem dentro dessa lógica de fazer “shownalismo” de crítica ao governo que ainda está começando. Uma imagem dúbia de gosto suspeito que amplifica possibilidades interpretativas à direita e à esquerda, com a intenção de “lacrar”, momentos após o país passar por uma tentativa de golpe, não é o jornalismo que queremos ou precisamos. No lugar de suscitar o debate, se contenta em por fogo no circo num momento tão complexo para a democracia. Esse caso parece espelhar de forma canhestra o 8 de janeiro. A repórter fotográfica fez o ataque, mas a pena maior deve ser imputada a quem patrocinou e legitimou tal ato”, acrescentou Chiodetto.

“No que uma montagem, ou “uma foto de múltipla exposição”, difere de uma fakenews? Sigo perguntando: para que uma montagem que sugere Lula alvejado no coração a não ser lacrar e vender jornal? Vale a pena contribuir com essa imagem na alimentação dos milhares de grupos de zap que formam uma teia de extrema direita no país. Informação é um serviço. No caso da Folha, um serviço pago, por assinantes e anunciantes. Essa imagem é um serviço cidadão? Ou apenas obedece a uma lógica de lacração causadora, contribuindo para a onda antianalitica que permitiu a chegada do ex-presidente ao poder? Como alguém que se formou em jornalismo, sinto raiva. Antes dela, vergonha. Muita. Imensa. Depois dela, náusea”, desabafou no Instagram a crítica e duradora de arte da Revista Caju, Daniela Name.

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“Fotojornalismo NÃO permite manipulação da imagem. Nesse assunto, então, é muito grave. Erra quem faz, erra quem edita. Erra em que aceita. Primeira página não é entretenimento. Foto mentirosa”, criticou o repórter-fotográfico Custódio Coimbra.

“Como eu já previa, o hate ,veio forte com essa foto do Lula: na foto tem quem veja morte, tem quem veja resistência, só um trincado, tem quem veja um sorriso atrás, o Lula arrumando a gravata. Não vou dizer o que vc tem que ver. Fotojornalismo não feito pra agradar. Minhas fotos são o espelho do meu olhar. Essa só é a forma como eu vejo o mundo. Você pode ter o seu olhar, discordar do meu, tudo bem, o mundo é plural. Para mim, fotojornalismo é arte. Arte pode incomodar e fotojornalismo não é feito para agradar”, se defendeu a fotógrafa Gabriela Biló.

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“Fotojornalismo não é arte, é fotografia aplicada ao jornalismo”, rebate Salomon Cytrynowicz, o Samuca, que foi repórter fotográfico da Veja e professor aposentado de Fotografia e Fotojornalismo da Comunicação da PUC-SP.

“Eu sou do tempo em que se dizia que uma foto vale mais do que mil palavras. Nesse caso, nem mil palavras vão conseguir justificar esse verdadeiro atentado ao jornalismo e ao fotojornalismo. Ao contrário do que tentou explicar a jovem fotógrafa, a sua foto não é um flagrante de uma cena. Lula não estava atrás daquele vidro quebrado. Ou seja, a foto não retrata um momento. É uma montagem. Aquela cena simplesmente não existiu. Sem falar que a foto não tem nenhuma relação direta com o texto da matéria”, argumenta o diretor de jornalismo da ABI, Moacyr Oliveira Filho. “Fotojornalismo não é arte. É o registro fotográfico e jornalístico de um momento real. O que não impede que uma fotojornalística seja uma foto artística pela sua beleza plástica e visual. O que não é o caso. Seria como se um repórter inventasse uma frase e colocasse na boca de seu entrevistado. Ou seja, deixa de ser jornalismo para ser ficção”, completa.

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Eis a explicação da fotojornalista Gabriela Biló:

 

 

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