Nesta quinta, dia 03, a história revelada semana passada pelo ex-procurador geral da república, Rodrigo Janot, narrando que, no dia 11 de Maio de 2017, no auge da Lava Jato, ele teria ido armado a uma sessão do STF decidido a matar o ministro Gilmar Mendes e se suicidar em seguida, começou a mostrar sinais de, no mínimo, inconsistência.
O portal Jota, especializado em assuntos jurídicos, resolveu investigar a agenda do ex-PGR e descobriu que, naquele dia, ele não só não esteve no STF, como sequer estava em Brasília:
no dia anterior, 10 de Maio, viajou para Belo Horizonte, onde cumpriu agenda institucional; no dia 12, fez uma palestra na Universidade Federal de Minas Gerais e só na segunda-feira seguinte, dia 15 de Maio, retornou a Brasília.
Mais que isso: Janot viajou em uma aeronave da FAB, que confirma a informação.
Em suas entrevistas concedidas à revista Veja e ao jornal Folha de São Paulo, Janot narra que chegou a engatilhar a pistola por baixo da toga; ao sentir o “dedo paralisado”, desistiu de cometer o crime e solicitou que seu secretário convocasse o vice-PGR, Bonifácio de Andrada, para que assumisse a cadeira na sessão plenária do Supremo. Porém, as atas do Supremo mostram que, desde o dia 10 – data em que Janot já estaria ausente de Brasília – a representação da PGR já estava a cargo de Bonifácio Andrada.
É difícil interpretar o que motivou Rodrigo Janot a conceder as declarações: se confundiu-se com as datas (e o “quase assassinato” teria ocorrido em uma outra sessão do STF) ou se apenas quis usar a narrativa fantasiosa para provocar seu desafeto e, ao mesmo tempo, voltar para os holofotes, inclusive para promover o livro que está lançando e do qual a história faz parte.
As entrevistas concedidas por Janot motivaram ação da Polícia Federal em seu apartamento – uma busca e apreensão em que foram levadas a pistola, munição, um tablet e um celular. A decisão pela busca, dois anos e meio depois do que seria um fato, na versão de Janot, partiu do ministro Alexandre de Moraes em inquérito aberto pelo próprio STF. A investigação poderá com facilidade mostrar que a narrativa é inconsistente, por ter muitos lapsos.
Segundo a reportagem do portal Jota, para muitos em Brasília e no meio jurídico, a versão de Janot é um wishful thinking, um pensamento ilusório, uma fantasia:
ele de fato sentia ódio de Gilmar Mendes, pensou em matá-lo, chegou a dizer isso a pessoas próximas e passou a acreditar que o desejo transformou-se em ação – ou, no caso, em “quase ação”.
O fato é que o ressurgimento do ex-PGR serviu apenas para jogar mais gasolina na fogueira na qual o STF tenta, dia após dia, calcinar a Operação Lava Jato, prejudicando o Ministério Público e seus ex-assessores.
Foi mais um desserviço de Rodrigo Janot à vida institucional do Brasil; que tenha sido o último: que agora ele se recolha ao ostracismo e permita que, definitivamente, nos esqueçamos dele.