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O impacto da mineração para as novas tecnologias de geração energética é menor do que o dos combustíveis fósseis, segundo um novo relatório.
As disputas políticas sobre mineração e minerais estão se acirrando, e com elas crescem também as preocupações ambientais e sociológicas sobre como obter os materiais necessários para construir novas tecnologias energéticas.
De acordo com um novo relatório do Breakthrough Institute, lançado em abril de 2024, fontes de energia de baixa emissão, incluindo energia eólica, solar e nuclear, teriam um impacto de extração menor que o carvão e o gás natural. As conclusões do relatório fortalecem um já crescente conjunto de evidências de que as tecnologias usadas para enfrentar as mudanças climáticas têm mais probabilidade de reduzir a mineração, comparadas a um mundo movido por combustíveis fósseis. Especialistas indicam, porém, que será necessária alguma supervisão para minimizar os danos decorrentes da mineração requerida para viabilizar a transição para fontes de energia de menor emissão de carbono.
“Falamos muito sobre a mineração de tecnologias de energia limpa e esquecemos da sujeira do nosso sistema atual”, diz Seaver Wang, autor do relatório e co-diretor de Clima e Energia no Breakthrough Institute, um centro de pesquisa ambiental norte-americano. Em suas mais recentes análises, Wang e seus colegas consideraram o impacto total de mineração de diferentes tecnologias energéticas, incluindo a quantidade de matérias-primas requerida por essas fontes de energia e o volume total de rocha que precisa ser movida para extraí-las. Muitos minerais aparecem em pequenas concentrações na rocha-mãe, então o processo de extração deles tem um impacto considerável em relação à quantidade de produto final. Uma operação de mineração precisaria mover cerca de 7kg de rocha para obter 1kg de alumínio, por exemplo. Para o cobre, a proporção é muito maior, chegando a mais de 500kg de rocha para cada quilo do metal.
Considerar essas proporções permite comparações mais diretas da mineração total necessária para diferentes fontes de energia. Com essa calibração, fica claro que a fonte de energia com o maior impacto de mineração é o carvão. Gerar um gigawatt-hora de eletricidade com carvão requer 20 vezes o volume de mineração de rocha, em comparação com a geração da mesma eletricidade com fontes de energia de baixo carbono, como eólica e solar. Produzir, ainda, a mesma eletricidade com gás natural requer mover cerca de duas vezes mais material. Contabilizar a quantidade de rocha extraída é uma aproximação imperfeita do potencial de impacto ambiental e sociológico da mineração para diferentes tecnologias, mas os resultados do relatório permitem que os pesquisadores apontem algumas conclusões amplas. Uma delas é que estamos no caminho para menos mineração no futuro.
Outros pesquisadores projetaram a diminuição da mineração acompanhando a mudança para fontes de energia de baixas emissões. “Mineramos tantos combustíveis fósseis hoje que a soma das atividades de mineração diminui mesmo ao considerarmos uma expansão incrivelmente rápida das tecnologias de energia limpa”, pondera Joey Nijnens, consultor na Monitor Deloitte e autor de outro estudo recente sobre demanda de mineração. Contudo, reduzir potencialmente o movimento de rocha no futuro “não quer dizer que a sociedade deva parar de buscar novas oportunidades para reduzir os impactos da mineração durante a transição energética”.
Já houve algum progresso na redução da matéria-prima necessária para tecnologias de geração energética como a eólica e a solar. Os módulos solares tornaram-se mais eficientes, então a mesma quantidade de material pode gerar mais eletricidade. A reciclagem pode ajudar a reduzir ainda mais a demanda por material no futuro e será especialmente crucial para reduzir a mineração necessária para construir baterias. A extração de recursos pode diminuir no geral, mas também é provável que aumente em alguns lugares à medida que nossa demanda mude, apontaram os pesquisadores em um estudo de 2021. Entre 32% e 40% do aumento da mineração no futuro pode ocorrer em países com governança de recursos naturais fraca, carente ou insuficiente, onde a mineração é mais propensa a prejudicar o ambiente e pode não beneficiar as pessoas que vivem perto dos sítios extrativos.
“Precisamos garantir que a transição energética seja acompanhada por uma mineração responsável que beneficie as comunidades locais”, afirmou Takuma Watari, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Ambientais de Tsukuba, no Japão, e autor do estudo. Caso contrário, a mudança para fontes de energia de baixas emissões poderia levar à redução das emissões de carbono no Norte Global “às custas do aumento dos riscos socioambientais nas áreas locais de mineração, muitas vezes no Sul Global”. Fiscalização rigorosa e responsabilidade são cruciais para garantir que possamos obter minerais de maneira responsável, diz Wang: “queremos uma transição energética rápida, mas também queremos uma transição energética que seja equitativa”.