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Mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, delator na ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado, indicam que ele teria usado um perfil falso no Instagram para conversar com o advogado Eduardo Kuntz, defensor de um dos réus no processo. As informações constam de um requerimento enviado na segunda-feira (16) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e trazem registros que colocam em xeque a validade do acordo de colaboração premiada firmado pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

(Reprodução/ Veja)
Segundo Kuntz, que representa Marcelo Câmara, as conversas ocorreram nos primeiros meses de 2024, por meio da conta @gabrielar702, atribuída a Mauro Cid. Para comprovar sua identidade, o militar teria enviado uma selfie fazendo um “joinha” com o polegar em uma mensagem de visualização única.
“Assim, sem ter a certeza de qual a intenção do contato, mas imaginando que talvez possa ser uma possível contratação ou, ainda, eventualmente estar sendo alvo de algum tipo de ação controlada por parte do delator e autoridades, registro que seguirei o contato pelo aplicativo, caso seja procurado novamente”, escreveu Kuntz no documento enviado ao STF.
A defesa de Câmara argumenta que Cid violou os termos da delação ao compartilhar informações com outro réu do processo, o que, segundo o advogado, invalida o acordo. “O malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC Cid não pode e nem deve prosperar e, assim sendo, toda a sua prova dele derivada também deve ser imediatamente desconsiderada”, diz a peça apresentada ao ministro.
O material foi reunido em uma ata notarial com mais de 50 páginas de conversas, anexada a um documento de 143 laudas. O objetivo, segundo Kuntz, foi se proteger de eventual envolvimento em uma “ação controlada”.
A autenticidade da conta usada por Cid foi confirmada pelas mensagens, o que derruba a tese da defesa do delator — representada pelos advogados Cezar Bitencourt, Jair Alves Pereira e Vânia Adorno Bitencourt — de que o conteúdo revelado pela revista Veja seria “uma miserável fake news”.
Nas conversas, Mauro Cid se refere a Bitencourt pelo apelido de “Biden”, numa crítica a erros cometidos por seu advogado, e chega a sugerir que poderia trocá-lo. Mas logo em seguida, justifica sua permanência com o defensor: “Ele é muito respeitado… E senta com o AM (Alexandre de Moraes). Por isso que não voltei para a cadeia”.
As críticas também atingem o próprio Moraes, a quem Cid chama de “Kadafi do Judiciário”, em tom de reprovação à forma como o magistrado conduz as investigações. Em outro trecho, o tenente-coronel relata que a então vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, teria o alertado sobre as investigações que tramitavam contra ele no STF.
“Quando começaram a quebrar minha vida, em 2021, a PF fez um relatório…. E não encontrou nada… O ministro não gostou e mandou reanalisar tudo… Deu ordem para que fosse feito relatórios semanais de tudo que pudesse encontrar. Qualquer linha de mensagem… Qualquer depósito em dinheiro virava hipótese criminal. E sabe o que é pior… PR sabia disso… Lindôra falava tudo para ele…”, disse Cid, referindo-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A revelação do conteúdo das mensagens ocorreu dias após a Veja publicar trechos de conversas atribuídas ao perfil @gabrielar702. Moraes já havia determinado à Meta, dona do Instagram, que fornecesse ao STF os dados cadastrais dos perfis suspeitos e preservasse o conteúdo das contas.
Nesta segunda-feira, a defesa de Jair Bolsonaro também pediu que o Supremo anule o acordo de delação de Mauro Cid, alegando que ele quebrou o sigilo e comprometeu a credibilidade das informações prestadas. O pedido usa como base as reportagens e os registros reunidos pelo advogado Eduardo Kuntz.
Ouça todos os áudios atribuídos a Mauro Cid sobre delação
