Para sobreviventes de um acidente vascular cerebral (AVC), a riqueza relativa do seu bairro pode ser um fator importante na forma e na rapidez com que se recuperam, de acordo com uma pesquisa recente.
Em comparação com os brasileiros que vivem em áreas mais abastadas, aqueles que residem em locais com alto índice de desemprego, baixos níveis de educação, moradias precárias e renda familiar baixa apresentaram um risco maior de ter uma má recuperação após o AVC um ano depois do ataque.
“A magnitude desse impacto é o mais surpreendente”, afirma a autora principal do estudo e pesquisadora de pós-graduação da Faculdade de Medicina de Yale, Leah Kleinberg.
“Não esperávamos uma disparidade tão grande nos resultados, mas encontramos que os pacientes das áreas mais pobres economicamente tinham o dobro de chances de ter resultados desfavoráveis”, disse ela em um comunicado de imprensa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A equipe de Kleinberg apresentará seus resultados na próxima semana no Congresso Brasileiro de Cardiologia, que será realizado em São Paulo.
O estudo se baseia em dados coletados entre 2018 e 2021 como parte do Estudo Longitudinal de Yale. A pesquisa acompanhou os resultados de sobreviventes de AVCs internados no Sistema de Saúde de Yale, coletando dados aos três meses, seis meses e depois anualmente após a alta hospitalar.
Para cerca de 2.200 desses pacientes, os dados do código postal estavam disponíveis. A idade média dos pacientes era de 69 anos, e cerca de 15% da população era negra ou parda.
Os níveis de incapacidade relacionada ao AVC dos pacientes foram classificados em uma escala padrão.
A equipe de Kleinberg descobriu que, um ano após o AVC, quase metade (46%) dos pacientes que viviam em áreas que os pesquisadores classificaram como de “alta privação” ainda apresentavam uma recuperação ruim do ataque incapacitante.
Isso se compara aos 40% observados entre as pessoas que vivem em bairros de privação intermediária e 35% entre os que residem nas áreas mais prósperas, destacaram os investigadores.
Um “mau resultado” na recuperação do AVC foi definido como o paciente ainda necessitar de ajuda para algumas das atividades da vida diária. Bons resultados significaram que a pessoa ainda poderia enfrentar alguns efeitos residuais do AVC, mas conseguia viver de forma independente, segundo os pesquisadores.
“Esta pesquisa foi inspirada nas pessoas com as quais trabalho diariamente”, disse Kleinberg. “Embora pacientes com AVC de diferentes origens socioeconômicas frequentemente tenham um estado funcional similar ao receber alta, os resultados podem variar drasticamente um ano depois. Como médica, posso interagir com eles muito além da finalização do seu tratamento urgente, o que despertou meu interesse em explorar os resultados a longo prazo para esses pacientes”.
O Dr. Marcelo Queiroga, presidente da SBC, afirma que os fatores do dia a dia, como “o acesso a atendimento de qualidade, alimentos nutritivos, moradia estável ou outras necessidades básicas de saúde, são cruciais para as pessoas que se recuperam de um AVC”.
Mas viver em áreas de “vulnerabilidade social” pode dificultar o acesso a esses recursos, disse Queiroga, por isso “infelizmente, esses dados não são surpreendentes”.
Como os resultados foram apresentados em um congresso médico, eles devem ser considerados preliminares até que sejam publicados em uma revista revisada por pares.
Para mais informações sobre reabilitação e recuperação de AVC, visite o site da Sociedade Brasileira de AVC.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), comunicado de imprensa, 1º de fevereiro de 2024
