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De deputada mais votada do Brasil nas eleições de 2018 a uma amargada derrota na candidatura para Prefeitura de São Paulo com apenas 98.239 votos nas eleições deste ano, a Gazeta Brasil revisita a carreira de uma das figuras mais polêmicas da política brasileira, fundamentada em plágios, desinformações e boatos falsos.
Joice reduziu em 90% sua votação em comparação a 2018, quando se elegeu deputada federal.
Com 99,92% das urnas apuradas, a candidata do PSL à Prefeitura paulistana obteve 98.239 votos, 1,84%, e ficou em sétimo lugar.
Há dois anos, a Joice registrou 1.064.047 votos, e foi a segunda mais votada em São Paulo para a Câmara dos Deputados, atrás de Eduardo Bolsonaro.
De um passado no jornalismo marcado pelo plágio de mais de 60 matérias em seu blog, à atualidade, como deputada federal que clama contra corrupção e alega ser alvo de ataques de perfis fakes nas redes sociais, ao mesmo passo em que alimenta a rede propagadora que se diz vítima, Joice Hasselmann é uma das figuras mais paradoxais da política brasileira. Atual presidente municipal do Partido Social Liberal (PSL), ela candidatou-se em 2020 à Prefeitura de São Paulo, porém amargou votos, com apenas xxx, representando apenas 2% na cidade de São Paulo, em contraste com um milhão de votos que recebeu para eleger-se deputada federal, em 2018.
Plágios
Junho de 2015 – Como jornalista, Joice ganhou notoriedade pela primeira vez ao ser denunciada por plágio por diversos profissionais de veículos de comunicação. O blog da comunicóloga, www.blogdajoice.com, atualmente fora do ar, copiou 65 reportagens no período de menos de um mês e foi denunciado por mais de 20 jornalistas. Os links dos textos copiados estão indisponíveis para acesso online, mas você pode averiguá-los aqui.
Entre as publicações estão matérias de veículos conhecidos nacionalmente, tais como G1, Agência Estado, Gazeta do Povo, Bem Paraná e até mesmo a VEJA, empresa na qual chegou a trabalhar, posteriormente, como apresentadora de um semanário online. O caso foi encaminhado à Comissão Nacional de Ética e, ao todo, o processo contra ela teve mais de 100 páginas.
Joice admitiu os plágios usando um suposto “estagiário” de bode expiatório. “Lamentavelmente o meu novo auxiliar não seguiu as minhas orientações básicas de dar crédito às matérias de outros veículos e estou tendo esses problemas”, declarou em uma postagem no Facebook, a um colega que apontou uma de suas práticas.
Durante sua participação no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, em outubro de 2019, ela declarou que as denúncias haviam sido anuladas na justiça, mas apenas houve uma sentença favorável do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) em um processo que não é diretamente sobre as acusações de plágio. O processo pede a anulação de sua suspensão no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR), que ocorreu após a comprovação dos seus casos de plágio. A deputada alega que não pôde se defender, na época, e questiona a maneira na qual foi confrontada pelo sindicato. Porém ainda cabe recurso e, logo, a denúncia não foi anulada, e a ação ainda tramita no TJPR.
Polêmica com a VEJA
Abril de 2016 – Joice trabalhou na VEJA de julho de 2014 a outubro de 2015. Após sua demissão, ela continuou a usar o nome da revista para trabalhar e registrou o domínio vejajoice.com.br. Além de manter o nome da revista no seu canal do YouTube e em suas redes sociais, ela usou nas imagens promocionais a faixa horizontal vermelha da TVeja, canal de vídeos da revista que a jornalista apresentava enquanto contratada. A Editora Abril conseguiu proibir Joice de usar a palavra “veja” em qualquer meio via tutela de urgência por violação de trade dress da revista Veja.
Março de 2018 – Entretanto, após desobedecer as primeiras liminares previamente estabelecidas em 2016, ela foi condenada pela 30ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar R$ 225 mil de indenização à empresa por danos morais ao violar ordem judicial e continuar utilizando a palavra “veja” após a rescisão de contrato com a Editora Abril, detentora da marca. O desembargador Fábio Tabosa, durante a sentença de mérito, considerou que Joice violou propriedade intelectual, considerando a ação como concorrência desleal com finalidade de lucro, para confundir leitores e visto como uma “hipótese de aproveitamento parasitário da palavra veja como forma de promoção social”.
Disseminação de fake news e difamações
Outubro de 2018 – Foi a mulher mais votada para a Câmara dos Deputados nas eleições de 2018, com 1.064.047 votos, representando o estado de São Paulo, ficando atrás apenas de Eduardo Bolsonaro, também do PSL, que em março foi afastado de suas atividades partidárias e perdeu o posto de liderança para a deputada.
Outubro de 2019 – Por causa de um erro no livro Delatores — Ascensão e Queda dos Investigados na Lava Jato, no qual Joice menciona o empresário Hermes Freitas de Magnus como “delator” da operação Lava Jato e não como “denunciante”, foi condenada a pagar R$ 20 mil por danos morais. Magnus entrou com um processo na Justiça em 2018, e inicialmente queria a quantia de R$ 2 milhões. A responsável pela publicação, editora Universo dos Livros, também foi condenada.
O responsável pela decisão, juiz André Augusto Salvador Bezerra, determinou que a quantia no valor de R$ 20 mil de cada parte condenada seria “razoável” para o pagamento da indenização ao empresário. “Não há dúvidas de que o autor [Magnus] sofreu constrangimentos aptos à caracterização dos danos extrapatrimoniais”, declarou o magistrado em relação à sentença.
Novembro de 2019 – Algumas semanas depois, Joice comparou o presidente Jair Bolsonaro ao PT. Em live, ela relatou que teria dito a Bolsonaro para “não trair um aliado”. “Não se pode fazer isso com um amigo como o Santos Cruz, não se pode fazer isso com o Bebiano, que era seu amigo. Não se trata aliados dessa forma. Não se deixa as pessoas feridas pelo meio do caminho. Não se explode reputações. Isso é coisa do PT”, declarou.
Joice também atacou os filhos de Bolsonaro. Em uma única sequência, ela trocou farpas Carlos, vereador do Rio de Janeiro e conhecido por causar polêmicas no Twitter, Flávio, que fora implicado no caso Queiroz, e Eduardo Bolsonaro, que na época tentava assumir a liderança do partido.
Criação de perfis falsos
https://www.youtube.com/watch?v=qpQm0JbxP5w&feature=emb_title
Abril de 2020 – Em abril, foi vazado um áudio em que Joice ordena um interlocutor a criar perfis falsos em redes sociais para promover ataques a adversários políticos. Na gravação, escuta-se o seguinte diálogo:
“Acabei de chegar em São Paulo, cheguei há pouco para algumas entrevistas, mas podia falar com a turma aí para fazer vários perfis e entrar de sola no Twitter especialmente, Instagram, porque eles estão botando todas as milícias lá e os robôs em cima de mim”.
De acordo com uma auditoria realizada pela ferramenta Hype Auditor, que analisa desempenho de mídias sociais, ao menos 700 mil seguidores da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) são fakes.
Pedido de impeachment ao presidente e antibolsonarismo
A deputada foi uma das principais apoiadoras e protagonistas do início do governo Jair Bolsonaro. Quando o PSL sofreu crise, decidiu ficar ao lado da direção do partido e tornou-se crítica voraz ao governo Bolsonaro em declarações públicas e redes sociais.
Chegou, inclusive, a protocolar um pedido de impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro. Ela baseou-se nas acusações feitas pelo Sergio Moro, ex-ministro da Justiça. Foi à casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem a prerrogativa de aceitar ou não pedidos de impeachment e expôs a ele os motivos, alegando interferência política na Polícia Federal e uma suposta falsidade ideológica no Diário Oficial como motivo da instauração do processo. Maia não se manifestou a favor nem contra.
Oficialização da candidatura à Prefeitura de São Paulo
Agosto de 2020 – No dia 31 de agosto, o Partido Social Liberal (PSL) registrou a candidatura da deputada à Prefeitura de São Paulo. Entre os nomes propostos pelo partido para o cargo de vice estiveram Marcos Cintra, Luís Felipe de Orleans e Ivan Leão Sayeg, sendo o último sido o escolhido.
Alto nível de rejeição e planos de campanha eleitoral
Setembro de 2020 – Após iniciar a campanha eleitoral ignorando as medidas de isolamento social impostas pelo Ministério da Saúde e pelo TSE, reunindo cerca de 1.500 pessoas sem utilizar máscara e repleto de abraços em um galpão de eventos no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, a estratégia de campanha eleitoral para chegar ao segundo turno, anunciado pelo coordenador de campanha Julio Bozella, apostará na defesa da Lava Jato. Junto a seus milhões de seguidores nas redes sociais, a legenda aposta na rejeição de Bolsonaro na capital e no discurso de combate à corrupção para chegar ao segundo turno – mas, apesar da tática escolhida, Joice foi apontada como candidata de fraco apelo para com o público.
Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha com 1.092 eleitores durante os dias 21 e 22 de setembro, ela, Bruno Covas (PSDB) e Levy Fidelix (PRTB), serão políticos fáceis de derrotar nas urnas. De acordo com o instituto, entre as possíveis intenções de voto entre os três candidatos, a deputada fica em último lugar, com apenas 28%. Covas e Fidelix tiveram, respectivamente, 31% e 30% de intenções.
Abertura de investigação sobre suspeita de vários crimes
No dia 28 de setembro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, fez um requerimento ao Supremo de abertura de inquérito contra a Joice, sob a suspeita de utilização funcionários do gabinete para gerar perfis falsos nas redes sociais e espalhar fake news contra adversários políticos.
No pedido, o procurador afirma que há indícios de crimes de constrangimento ilegal, por constrangimento de assessores, mediante ameaça, para a criação de perfis falsos. Hasselmann também é acusada de difamação, imputação de fatos ofensivos a terceiros, falsidade ideológica – pela suspeita de uso de CPFs falsos para criação dos perfis – e associação criminosa.
Eleições 2020
Novembro de 2020 – Obteve menos votos neste domingo do que teve em 2018 como deputada federal, considerando que é relativamente mais fácil ter uma votação maior ao disputar o Executivo, com menos concorrência do que ao Legislativo, com centenas de candidatos. Com 92,239 votos, representou apenas 1,84% de votantes, em contraste com de um milhão de votos em 2018 e admitiu derrota horas antes dos resultados finais.
Joice Hasselmann, desde que desvinculou-se – e tornou-se crítica ferrenha – do governo Bolsonaro, entrou em queda livre: perdeu o controle da vida pessoal, política, se transformou em ex-líder do governo no Congresso, ex-jornalista e agora caminha em direção a um inevitável ostracismo, tornando-se cada vez mais apagada entre parlamentares que são influentes digitalmente, já que caiu 13 posições no ranking.
E para finalizar, Joice Hasselmann inaugurou o ‘selo fake news’ do Twitter em terras brasileiras e rotulou a publicação da parlamentar como “contestada” a afirma de “fraude”.
FIM