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Um ataque de hacker capaz de derrubar o site de uma grande empresa, um tribunal de Justiça ou um órgão do governo é vendido sem restrições na internet. O mercado criminoso oferece serviços de sobrecarregar páginas virtuais em fóruns da Deep Web, uma camada da internet não acessível por navegadores e endereços convencionais. Os preços pelas ações variam conforme o impacto e o tempo da ação cibernética.
A lista de preços médios dos crimes virtuais comercializados na Deep Web é divulgada anualmente pelo Privacy Affairs, um coletivo de profissionais de cibersegurança. Na cotação mais recente, um ataque tipo DDoS com até 50 mil requisições a cada segundo e duração de uma hora sai por US$ 10 dólares. A investida contra o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no primeiro turno das eleições, por exemplo, teve 463 mil conexões por segundo e tempo total de ataque de 20 minutos.
Mais conhecido por ataque de negação de serviço, o Distributed Denial of Service, DDoS na sigla em inglês, é o produto do momento no mercado do crime da internet. A partir de vírus introduzidos em computadores em geral, transformados em máquinas “zumbis”, esse ataque envia pedidos de conexões a um site ou servidor, de modo a sobrecarregar o sistema, deixá-lo lento ou derrubá-lo.
No submundo cibernético, o contratante do serviço precisa apenas fazer contato com o hacker, apresentar a demanda e efetuar o pagamento – geralmente, em criptomoedas. O mercado hacker funciona sob demanda contra alvos específicos, mas também com a oferta de ferramentas que exigem de quem paga por elas pouco conhecimento de programação de computadores.
Com cadastros que exigem somente um e-mail e pagamento em criptomoedas, é possível realizar o ataque de negação de serviço por conta própria. Esse modelo “self service” é um dos principais avanços do cibercrime nos últimos anos para vender o serviço. Ele dispensa a necessidade de um hacker coordenar a investida. “Há um marco em 2018, a partir de hackers israelenses que criaram esse mercado”, diz o diretor de tecnologia e especialista em DDoS, Tiago Ayub. “Os cibercriminosos partiram para a linha do eufemismo. Eles oferecem um teste de ‘estresse de IP’”, afirma. “No Brasil, graças à facilidade de fazer ataques, alguns começaram a usar como ação anticompetitiva, para deixar concorrentes fora do ar.”
Em tese, a ferramenta “estresse de IP” funciona para verificar se determinado endereço suporta certo volume de conexões. Na prática, não exige nenhum contrato ou identificação e pode ser usado contra qualquer alvo. Como os pagamentos são em criptomoedas, torna-se difícil a identificação de quem recorre ao serviço para causar prejuízos.
A reportagem se passou por interessada no serviço de sites que oferecem o “estresse de IP”. A uma pergunta se o sistema poderia ser usado contra sites do governo brasileiro, o responsável de um desses serviços não descartou a possibilidade. “Não lançamos testes de estresse por nossa conta. Por favor, tente por sua conta mesmo”, sugeriu. A um segundo site, a reportagem perguntou se aquilo não era ilegal, e se não poderia haver problemas com as autoridades brasileiras. “Não sou advogado e as leis são diferentes em todos os países. Não saberia te dizer”, foi a resposta.
Consultores da área registram uma escalada robusta dos chamados ataques distribuídos de negação de serviço. O crescimento, afirma, ocorre no momento em que o mundo é obrigado a concentrar comunicações, negócios e serviços em canais digitais, em razão da pandemia. O mecanismo serve para sobrecarregar servidores, derrubar sites, impedir o acesso de usuários e minar a credibilidade de empresas e instituições.
Funciona assim: hackers geram um tráfego artificial a sites e servidores, em escala superior ao que os sistemas suportam. Esses acessos vêm de “botnets”, redes de dispositivos infectados para operar como os atacantes desejam. Podem ser roteadores, celulares e até eletrodomésticos conectados. A sobrecarga derruba o alvo ou deixa a navegação lenta para usuários comuns. E, ainda, pode vir acompanhada de extorsão para cessar as investidas.
*Com informações de O Estadão