Nesta sexta-feira (3), o jornal O Globo, publicou, um editorial com críticas ao quadro econômico do governo Lula. Segundo o jornal carioca, a adesão “ao ideário dilmista se fará sentir não apenas nos indicadores econômicos”, mas também na popularidade do petista.
O jornal crítica ainda os ataque ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Como se a Selic fosse simples questão de preferência pessoal, e não resultado da análise criteriosa em cima de modelos testados e comprovados pela equipe técnica do BC”, afirma o jornal O Globo.
Eis a íntegra do editorial do jornal O Globo:
É verdade que parte desses resultados não é sustentável. No quarto trimestre, o PIB recuou 0,2% em relação ao terceiro, efeito sobretudo dos juros que subiram ao longo de todo o ano para conter a inflação (e fecharam 2022 em 13,75%). O superávit nas contas públicas também foi influenciado por fatores conjunturais, como o adiamento no pagamento de dívidas e receitas extraordinárias que não se repetirão. De todo modo, foi esse o Brasil que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ao tomar posse. O julgamento sobre o seu governo terá como base de comparação esses números.
Lula começou bem nas esferas política, ambiental e externa. Resgatou a confiança na democracia, a preservação da Amazônia e o papel internacional do Brasil. Na economia, infelizmente ele tem sido errático e retomou o ideário que já deu errado no governo Dilma Rousseff. Insatisfeito com os juros, criticou a autonomia do Banco Central (BC), conquista inquestionável na governança monetária. Com ataques pessoais ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, tentou baixar os juros na marra, como se a Selic fosse simples questão de preferência pessoal, e não resultado da análise criteriosa em cima de modelos testados e comprovados pela equipe técnica do BC.
Agora, em nova investida à moda de Dilma, Lula tenta intervir no preço dos combustíveis. No discurso, o governo critica o lucro recorde da Petrobras — R$ 188 bilhões em 2022 — e diz que os brasileiros ficam à mercê das flutuações no preço do barril de petróleo. A solução proposta é retirar dinheiro dos acionistas da empresa para beneficiar o “povo”. Aplicada no governo Dilma, a ideia levou a empresa a acumular a maior dívida do planeta (mais de US$ 160 bilhões). Obrigada ainda a reconhecer os danos da corrupção, a Petrobras quase foi à bancarrota.
O preço do petróleo é ditado pelo mercado internacional. O resultado astronômico da Petrobras é circunstancial. Decorre da alta que se seguiu à retomada da pandemia e à guerra na Ucrânia. Assim como não faz sentido a empresa recorrer ao Tesouro em anos ruins, o governo não deveria intervir na política de preços em anos bons, para não desvalorizá-la no mercado acionário nem prejudicar sua capacidade de investimento.
Poderia usar os dividendos a que tem direito como maior acionista para subsidiar os combustíveis, mas essa decisão cabe ao Congresso — e também teria custos. Mascarar o preço nos postos incentiva o consumo em tempos de alta, quando há necessidade de reduzir emissões de gases. Não faz sentido. Por fim, é contraditório um governo que se diz a favor dos pobres tomar uma medida que beneficia quem tem carro.
Lula ainda tem tempo para mudar de rumo. Mas é bom não demorar, do contrário sua adesão ao ideário dilmista se fará sentir não apenas nos indicadores econômicos, mas também em sua popularidade.