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No início, éramos caçadores-coletores, nômades vagando em pequenos grupos, impulsionados exclusivamente pela necessidade de encontrar algo para comer: e esse período corresponde a mais de noventa por cento da história do homo sapiens sobre a Terra.
Há apenas uns dez mil anos começamos a viver em pequenos assentamentos porque alguém descobriu que era possível plantar e criar animais: e foi por termos descoberto a agricultura e a pecuária para produzir nossa própria comida que deixamos de andar por aí, saqueando a natureza.
Aprendemos a manejar materiais: madeira, pedras, metais. Com eles produzimos ferramentas. Construímos moradias e aprendemos a aquecê-las e iluminá-las. Nasceram as cidades e os primeiros estados. Nasceu o comércio: não precisávamos mais produzir todas as coisas de que precisávamos porque poderíamos fazer trocas com nossos vizinhos.
Aprendemos a usar a força do vento para mover moinhos e embarcações. Aprendemos a desviar os cursos d’água para irrigar nossas lavouras. Aprendemos a conservar os alimentos para os períodos em que não eram tão abundantes.
Descobrimos que poderíamos usar o carvão para mover máquinas: e criamos máquinas capazes de cortar, perfurar, triturar, apertar, tecer e nos transportar de um lugar para outro. Depois aprendemos a tirar um óleo da terra capaz de fazer máquinas ainda mais eficientes e velozes. E usamos a força dos rios para mover turbinas e gerar eletricidade, para melhor iluminar e aquecer nossas casas e cidades; e mover mais máquinas, que produzem mais e mais coisas.
Aprendemos a misturar compostos químicos e inventamos remédios e vacinas. Inventamos também defensivos agrícolas capazes de aumentar absurdamente a produção de alimento em um mesmo pedaço de terra.
Foi assim que, apesar de vivermos em guerra (duas delas de abrangência mundial), por termos enfrentado toda sorte de epidemias (os remédios e as vacinas sempre foram inventados como resposta a elas) e termos passado por muitos episódios de fome extrema (porque nem tudo é perfeito no intrincado mecanismo social que criamos), nos últimos 200 anos (uma ínfima fração do tempo que nossa espécie existe) nossa população multiplicou-se por sete! E ainda assim vivemos amontoados em pequenas partes do planeta, que é coberto por água em mais de 70% de sua área e em que, por muitas razões, enormes faixas de terra permanecem vazias.
Hoje em dia, grande parte de nós conta com recursos inimagináveis para nossos antepassados de três ou quatro gerações anteriores à nossa. Facilidades incríveis para nos vestirmos, nos alimentarmos, nos deslocarmos, tratarmos da saúde, para nos informarmos e nos comunicarmos. Tudo muito farto, tudo muito rápido.
E passamos por tudo isso para, no finalzinho da segunda década do século 21, aparecer uma garota gordinha, de bochechas vermelhinhas, que diz ter dezesseis anos, mas aparenta ter doze, vinda da próspera Suécia (um dos países mais ricos, 7º IDH do planeta), com aquele jeitinho de quem nunca lavou uma louça e não arruma o próprio quarto, legítima representante da geração mais bem alimentada, bem assistida, bem educada, protegida e mimada da história da humanidade, nos encarar nos olhos e gritar furiosa:
— Vocês roubaram meus sonhos e minha infância!
Ô, Greta: vá procurar um lote pra carpir, minha filha.