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Começou, nesta terça-feira (21), o julgamento da pior tentativa de atentado antissemita na Alemanha desde o final da Segunda Guerra Mundial: o ataque a uma sinagoga em pleno Yom Kippur, o Dia do Perdão, uma das celebrações mais importantes do judaísmo. No banco dos réus está o extremista de direita Stephan Balliet, 28 anos.
Em 9 de outubro passado, o alemão, fortemente armado, tentou entrar na sinagoga da pequena cidade de Halle, no leste do país, onde 52 fiéis estavam presentes. Mas, sem conseguir ingressar no templo, Balliet matou dois pedestres. A ação foi transmitida ao vivo na internet pelo próprio agressor. Ele estava equipado com armas pesadas e explosivos.
“Quero entender como o criminoso chegou a cometer esse ataque, como ele se tornou um assassino”, declarou Max Privorozki, presidente da pequena comunidade judaica de Halle, em entrevista ao jornal Jüdische Allgemeine. Privorozki está entre as partes civis do processo aberto contra o extremista de direita.
O agressor responde na Justiça por duplo homicídio, tentativa de homicídio contra outras nove pessoas e incitação ao ódio racial. Balliet é acusado de ter cometido “um ataque contra cidadãos de fé judaica com um motivo antissemita, racista e xenofóbico”, de acordo com a acusação. Ele pode ser sentenciado à prisão perpétua, com uma pena mínima de 15 anos de reclusão.
O tribunal de Magdeburgo, na Saxônia-Anhalt (leste), previu 18 dias de audiências.
No dia do ataque, uma quarta-feira, o jovem vestido com trajes militares, usando máscara e capacete, tentou forçar a entrada da sinagoga com explosivos e tiros, incluindo de um fuzil feito com uma impressora 3D. Ao não conseguir abrir a porta, matou uma mulher que passava pelo local e um homem que estava em um restaurante de kebab. Após perseguição, a polícia conseguiu prendê-lo.
Os serviços de inteligência alemães estabeleceram um paralelo com os ataques contra duas mesquitas em Christchurch (Nova Zelândia), alguns meses antes, que causaram 51 mortes.
Durante a gravação ao vivo, feita com uma câmera instalada em seu capacete, Balliet negou a existência do Holocausto e insultou os judeus. Ele também publicou um “manifesto” na internet, no qual expressava seu ódio pelos judeus.
Segundo a Justiça alemã, o agressor pretendia “cometer um massacre”, mas a solidez da porta trancada da sinagoga o impediu.
Distúrbio de personalidade e tentativa de fuga
Balliet vivia socialmente isolado e havia abandonado a escola. Seguidor de teorias da conspiração neonazistas, morava com a mãe em uma pequena cidade na Saxônia-Anhalt e passava a maior parte do tempo navegando na internet.
“Pela maneira como vê o mundo, ele culpa os outros por sua própria miséria”, comentou seu advogado, Hans-Dieter Weber.
Depois de examinar o assassino, o psiquiatra Norbert Leygraf o descreveu em um documento consultado pela revista Der Spiegel como alguém com um complexo distúrbio de personalidade com características de autismo. No entanto, estava ciente da injustiça de suas ações.
Balliet, em detenção preventiva e fortemente vigiado, tentou escapar da prisão no final de maio, provocando indignação da comunidade judaica. Ele conseguiu enganar os guardas escalando um muro de 3,40 metros de altura e depois entrou em um edifício penitenciário adjacente sem ser visto. Não encontrando saída, voltou a ser detido sem resistência.
O incidente fez com que um secretário de Estado no ministério regional da Justiça fosse afastado do cargo. Como resultado, Balliet ficará algemado pelos pés e mãos quando transferido para o tribunal e será monitorado permanentemente durante as audiências.
O ataque de Halle ocorreu em um momento de ressurgimento do terrorismo de extrema direita na Alemanha. Há um mês, começou o julgamento de um simpatizante neonazista, acusado de ter matado um político conservador favorável à acolhida de migrantes no país.
Em fevereiro, um homem a favor de teorias racistas e antissemitas matou nove pessoas de origem estrangeira em Hanau, a leste de Frankfurt. Uma tendência que também atingiu o exército e a polícia alemães, abalados por escândalos de que alguns de seus membros estariam ligados à extrema direita.
Com informações da AFP