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Reuters- O presidente dos EUA, Joe Biden, disse neste sábado (24), que os massacres de armênios no Império Otomano em 1915 constituíam genocídio, uma declaração histórica que enfureceu a Turquia e estreitou ainda mais os laços desgastados entre os dois aliados da OTAN.
O movimento amplamente simbólico, rompendo com décadas de linguagem cuidadosamente calibrada da Casa Branca, será bem-vindo pela diáspora armênia nos Estados Unidos, mas ocorre em um momento em que Ancara e Washington lutam com profundas divergências políticas sobre uma série de questões.
O ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, disse que a Turquia “rejeita totalmente” a decisão dos EUA, que ele disse ter sido baseada “apenas no populismo”. Seu ministério disse que isso abre “uma ferida profunda” entre os dois países.
A mensagem de Biden foi recebida com “grande entusiasmo” pelo povo da Armênia e pelos armênios em todo o mundo, escreveu o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, em uma carta ao presidente dos Estados Unidos.
Em sua declaração, Biden disse que o povo americano honra “todos os armênios que morreram no genocídio que começou há 106 anos hoje”.
“Ao longo das décadas, os imigrantes armênios enriqueceram os Estados Unidos de inúmeras maneiras, mas nunca se esqueceram da trágica história”, disse Biden. “Honramos a história deles. Vemos essa dor. Afirmamos a história. Fazemos isso não para lançar a culpa, mas para garantir que o que aconteceu nunca se repita.”
Em comentários que procuravam amenizar o golpe, um alto funcionário do governo disse a repórteres que Washington continuava a ver a Turquia como um aliado crítico da OTAN e estava incentivando a Armênia e a Turquia a buscarem a reconciliação.
Por décadas, as medidas de reconhecimento do genocídio armênio estagnaram no Congresso dos EUA e a maioria dos presidentes dos EUA se absteve de chamá-lo assim, frustrado por preocupações sobre as relações com a Turquia e intenso lobby de Ancara. Ronald Reagan, o ex-presidente dos EUA da Califórnia, um centro da diáspora armênia nos Estados Unidos, foi o único presidente dos EUA a chamar publicamente as mortes de genocídio.
A Turquia aceita que muitos armênios que viviam no Império Otomano foram mortos em confrontos com as forças otomanas durante a Primeira Guerra Mundial, mas contesta os números e nega que as mortes tenham sido sistematicamente orquestradas e constituam um genocídio.
Em Montebello, Califórnia, uma cidade no condado de Los Angeles que é lar de muitos armênio-americanos, membros da comunidade realizaram uma pequena e sombria cerimônia durante a qual colocaram uma cruz feita de flores em um monumento às vítimas. Alguns participantes usaram distintivos com os dizeres “genocídio negado, genocídio repetido”.
‘RELAÇÕES JÁ EM SHAMBLES’
Um ano atrás, quando ainda era um candidato presidencial, Biden comemorou os 1,5 milhão de homens, mulheres e crianças armênios que perderam suas vidas nos anos finais do Império Otomano e disse que apoiaria os esforços para reconhecer essas mortes como um genocídio.
Os laços entre Ancara e Washington têm sido tensos por questões que vão desde a compra pela Turquia de sistemas de defesa aérea russos S-400 – sobre os quais foi alvo de sanções dos EUA – a diferenças políticas na Síria, direitos humanos e um processo judicial visando o Estado majoritário da Turquia- possuía Halkbank.
A declaração de Biden segue uma resolução não vinculativa do Senado dos EUA, adotada por unanimidade em 2019, reconhecendo as mortes como genocídio.
Presidentes anteriores dos EUA abandonaram as promessas de campanha para reconhecer o genocídio armênio por medo de prejudicar as relações entre os EUA e a Turquia, disse Nicholas Danforth, bolsista não residente da Fundação Helênica para Política Europeia e Externa.
“Com as relações já em frangalhos, não havia nada que impedisse Biden de seguir adiante”, disse Danforth. “Ancara não tem mais aliados no governo dos EUA para fazer lobby contra isso e Washington não está preocupado se isso irritará mais a Turquia.”
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, estabeleceu um vínculo estreito com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, mas desde que Biden assumiu, Washington tem se tornado mais vocal sobre o histórico de direitos humanos da Turquia. Também manteve sua exigência de que Ancara se livre dos sistemas de defesa russos.
Biden também adiou uma conversa por telefone com Erdogan até sexta-feira – visto em grande parte como um ombro frio para o presidente turco – quando o informou de sua decisão de reconhecer os massacres como genocídio.
Erdogan e Biden devem se reunir em junho, paralelamente a uma cúpula da Otan em Bruxelas.
O anúncio de sábado foi criticado pelo governo turco e vários políticos da oposição. O porta-voz presidencial da Turquia, Ibrahim Kalin, disse no Twitter que os comentários de Biden “apenas repetem as acusações daqueles cuja única agenda é a inimizade contra nosso país”.
A Embaixada dos EUA na Turquia disse que suas missões no país seriam fechadas na segunda e terça-feira para serviços de vistos devido à possibilidade de protestos.
