O governo da Etiópia ordenou a expulsão de sete altos funcionários das Nações Unidas do país por “intromissão” em seus assuntos internos.
A mudança na quinta-feira ocorreu em um momento em que trabalhadores humanitários deram o alarme sobre o acesso limitado à região de Tigray, que está sendo devastada pelo conflito há quase 11 meses.
Os sete funcionários, que incluem indivíduos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA), foram declarados “persona non grata” e têm 72 horas para deixar o país, uma declaração de o Ministério das Relações Exteriores disse na quinta-feira.
.@mfaethiopia declared ”persona non grata” for seven individuals who have been working for some #UN humanitarian agencies in #Ethiopia for meddling in the internal affairs of the country. They must leave the country within the next 72 hrs. 30 September 2021 pic.twitter.com/IDHv6AD145
— The Ministry of Foreign Affairs of #Ethiopia 🇪🇹 (@mfaethiopia) September 30, 2021
Grant Leaity, vice-coordenador humanitário do OCHA, e Adele Khodr, representante do UNICEF na Etiópia, estavam entre os expulsos. Kwesi Sansculotte do OCHA, Saeed Moahmoud Hersi, Ghada Eltahir Midawi e Marcy Vigoda também foram obrigados a deixar, junto com Sonny Onyegbula, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que ficou “chocado” com a expulsão, disse a porta-voz da ONU, Stephanie Tremblay, em uma coletiva de imprensa.
“Estamos agora engajados com o governo da Etiópia na expectativa de que a ONU em questão terá permissão para continuar seu importante trabalho”, disse Tremblay.
O correspondente diplomático da Al Jazeera, James Bays, relatando da sede da ONU em Nova York, disse que a ação do governo etíope causou “grande preocupação” na ONU.
Ele observou que o chefe da ONU buscou “uma diplomacia muito tranquila e paciente … não falando muito, pelo menos inicialmente em público, não condenando muito, porque ele pensou que poderia cutucar [o primeiro-ministro Abiy Ahmed] na direção certa. ”
“[Mas] essa estratégia claramente não funcionou”, disse Bays.
Separadamente, os EUA disseram que imporão sanções relacionadas à “ausência de progresso significativo” da Etiópia, explicou a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
Anteriormente, em uma entrevista coletiva com repórteres, Psaki disse que a administração Biden condena uma ação do governo etíope de expulsar funcionários da ONU, dois dias depois que o chefe de ajuda da ONU alertou que as pessoas na região norte de Tigray provavelmente estavam passando fome devido ao bloqueio governamental de ajuda.
‘Era esperado que isso acontecesse’
Os combates na região norte de Tigray, na Etiópia, têm ocorrido entre as forças federais e os aliados da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) desde novembro de 2020. Milhares de pessoas morreram no conflito marcado por estupros de gangues, expulsões em massa e destruição de centros médicos.
Os resultados de uma investigação conjunta sobre a guerra pelo escritório de direitos humanos da ONU e pela Comissão Etíope de Direitos Humanos, criada pelo governo – uma organização rara que atraiu preocupação e críticas – estão programados para serem lançados em 1º de novembro. Não ficou claro imediatamente se a investigação será afetado pela expulsão de Onyegbula, um membro da equipe conjunta da ONU.
Na terça-feira, o chefe de ajuda da ONU, Martin Griffiths, disse que um “bloqueio de fato” de quase três meses restringiu as entregas de ajuda a 10 por cento do que é necessário na região de cerca de seis milhões de pessoas.
As memórias da fome dos anos 1980 na Etiópia, que matou aproximadamente um milhão de pessoas e cujas imagens chocaram o mundo, estão vivas em sua mente, “e esperamos fervorosamente que não esteja acontecendo no momento”, disse Griffiths.
Leaity, a vice-coordenadora humanitária do OCHA, alertou este mês que os estoques de ajuda humanitária, dinheiro e combustível estavam “muito baixos ou completamente esgotados” e os estoques de alimentos acabaram no final de agosto.
Por sua vez, as autoridades etíopes acusaram trabalhadores humanitários não identificados no país de favorecer e até mesmo armar as forças de Tigray, embora não tenham fornecido provas para apoiar as suas alegações. Anteriormente, o governo suspendeu as operações de dois grandes grupos de ajuda internacional – Médicos Sem Fronteiras e Comitê Norueguês para Refugiados – acusando-os de espalhar “desinformação” sobre a guerra.
Samuel Getachew, um jornalista independente na capital, Addis Abeba, disse que a mudança de quinta-feira “era esperada”, observando que as agências da ONU e as alegações etíopes têm negociado alegações sobre uma série de questões.
“O lado etíope tem dito que está aberto para ajudar a ONU [na] entrega de ajuda … [enquanto] a ONU tem acusado o lado etíope de impedi-los de entregar ajuda … as alegações entre eles são negras e brancas , ”Explicou Getachew.
“Então isso era esperado. Está acontecendo desde o primeiro dia ”, acrescentou.
Enquanto isso, o porta-voz da TPLF, Getachew Reda, disse no Twitter que as expulsões refletiam uma situação “triste, mas real” na qual Abiy não pode ser “aconselhada a ter sanidade” – (Aljazeera)
