Forças de segurança sudanesas disparando balas ao vivo e gás lacrimogêneo mataram cinco manifestantes anti-golpe e feriram dezenas de outros durante a repressão aos renovados protestos pró-democracia, de acordo com um sindicato independente de médicos.
O Comitê Central de Médicos Sudaneses disse no sábado que quatro pessoas foram mortas por tiros e uma por uma bomba de gás lacrimogêneo na capital, Cartum, e em sua cidade gêmea de Omdurman, acrescentando que muitos outros ficaram feridos enquanto os manifestantes “enfrentavam repressão excessiva usando todos formas de força, incluindo balas vivas ”.
Dizia que um jovem de 18 e um de 35 estavam entre os mortos “a tiros do conselho militar golpista”.
As forças de segurança invadiram um hospital em Omdurman e detiveram vários feridos, acrescentaram os médicos.
Pascal Cuttat, chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Sudão, disse em uma postagem no Twitter que a assistência médica não deve ser obstruída.
“A passagem das ambulâncias deve ser permitida, o trabalho dos profissionais médicos deve ser facilitado e os acidentados devem ter acesso aos cuidados de que necessitam”, disse. “A missão médica tem que ser protegida.”
A polícia sudanesa disse que as manifestações de sábado foram pacíficas, mas rapidamente saíram do caminho, informou a televisão estatal. A polícia disse que 39 policiais ficaram gravemente feridos depois que manifestantes atacaram delegacias de polícia.
‘Resistência contra o regime militar’
Dando continuidade a uma campanha de desobediência civil e protestos, dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas da capital e em outros lugares para protestar contra o golpe do mês passado e a criação de um novo conselho de governo pelo chefe do exército nesta semana que excluiu quaisquer representantes de a aliança das Forças de Liberdade e Mudança civis.
O general Abdel Fattah al-Burhan renomeado na quinta-feira como chefe do Conselho Soberano, enquanto Mohamed Hamdan Dagalo, o líder das temidas Forças de Apoio Rápido paramilitares também conhecido como Hemeti, manteve seu posto como deputado. Os militares deveriam entregar a liderança do corpo a civis nos próximos meses.
Os acontecimentos irritaram a aliança pró-democracia e frustraram os países ocidentais que pediram aos militares para reverter o golpe.
“Os protestos continuam, mais e mais pessoas estão aderindo aos protestos, gritando que não querem o regime militar”, disse Resul Serdar, da Al Jazeera, relatando os protestos em Cartum.
Ele acrescentou que, apesar da forte presença de segurança, os manifestantes pareciam determinados “a permanecer nas ruas para mostrar sua resistência contra o regime militar”.
Os militares sudaneses tomaram o poder em 25 de outubro, dissolvendo o governo de transição e prendendo dezenas de funcionários e políticos, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, que continua em prisão domiciliar. A aquisição alterou a frágil transição planejada do país para um governo democrático, mais de dois anos depois que um levante popular forçou a remoção do antigo líder Omar al-Bashir.
As forças de segurança no sábado fecharam pontes entre o centro de Cartum, Omdurman e Cartum Norte para veículos e pedestres, colocando arame farpado para bloquear o acesso. As estradas para locais estratégicos também foram fechadas.
Conforme os manifestantes começaram a se reunir no início da tarde em torno da capital, as forças de segurança agiram rapidamente para tentar dispersá-los, disparando gás lacrimogêneo e perseguindo os manifestantes pelas ruas laterais para tentar impedi-los de chegar aos pontos de encontro centrais.
“As pessoas ficaram surpresas por terem disparado gás lacrimogêneo tão cedo”, disse um manifestante em Omdurman.
Os manifestantes “recuaram para o bairro e barricaram as ruas e agora estão voltando para a estrada principal”.
Os protestos de sábado foram convocados pela Associação Profissional do Sudão (SPA) e pelos Comitês de Resistência. Ambos os grupos se opuseram ao retorno do acordo de divisão de poder que estabeleceu o governo de transição deposto em agosto de 2019. Eles exigem a entrega do governo aos civis para liderar a transição para a democracia, com outros partidos políticos e movimentos aderindo à convocação.
Testemunhas estimam que o número de manifestantes em torno de Cartum chega a dezenas de milhares.
“Não estamos surpresos com o comparecimento da população porque é isso que está acontecendo desde 25 de outubro”, disse Samahir El Mubarak, porta-voz da SPA, à Al Jazeera de Cartum.
“Esta é a voz do povo sudanês que recusa al-Burhan, recusa o golpe militar e recusa o seu conselho, e considera toda esta parceria inválida e totalmente recusada por todos.
“Infelizmente e como de costume, esses protestos pacíficos no terreno estão sendo confrontados com gás lacrimogêneo, estão sendo confrontados com tiros.
“O número de manifestantes está aumentando. Os manifestantes estão montando barricadas para tentar se proteger dos caminhões e veículos das forças conjuntas que enfrentam os manifestantes ”, disse El Mubarak.
Não houve comentários imediatos das forças de segurança, mas al-Burhan disse anteriormente que protestos pacíficos são permitidos e os militares não matam manifestantes.
Anteriormente, o enviado das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes, instou as forças de segurança a “exercerem o máximo de contenção” durante os protestos planejados e pediu aos manifestantes que “mantivessem o princípio do protesto pacífico”.
Desde a aquisição, pelo menos 17 manifestantes anti-golpe foram mortos devido ao uso excessivo de força pelas forças de segurança do país, de acordo com médicos.
Os esforços contínuos de mediação procuram encontrar uma saída para a crise.
Perthes disse que manteve “boas discussões” na sexta-feira com representantes dos comitês de resistência em Cartum, ativistas da sociedade civil e Mohamed Hassan al-Taishi, que era um membro civil do conselho soberano dissolvido. Nasredeen Abdulbari, ministro da Justiça do governo deposto, também participou.
Yohannes Woldemariam, professor de relações internacionais na George Mason University, disse à Al Jazeera que os manifestantes continuariam a exigir um governo civil.
“O povo sudanês não vai se conformar com uma ditadura militar”, disse ele. “Al-Burhan está basicamente tentando salvar sua pele, ele está implicado em muitos crimes no Sudão, assim como em Hemeti. Esses caras estão querendo fugir da responsabilidade. ”
FONTE : AL JAZEERA E AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
