O banco central da Rússia na segunda-feira (28) mais que dobrou a taxa de juros do país de 9,5% para 20%, já que sua moeda, o rublo, atingiu uma baixa recorde em relação ao dólar, devido a uma série de novas sanções e penalidades impostas à Rússia pela Europa e os EUA por sua invasão da Ucrânia.
O aumento da taxa, disse o banco central, “foi projetado para compensar o aumento do risco de depreciação e inflação do rublo”.
Isso segue a ordem do banco central de suspender as ofertas de estrangeiros para vender títulos russos em um esforço para conter as consequências do mercado. O rublo caiu até 119,50 por dólar, uma queda de 30% em relação ao fechamento de sexta-feira. Mais tarde, reduziu algumas de suas perdas, negociando a 93,04 por dólar às 15h30 em Moscou, ainda com queda de cerca de 20% em relação ao dólar no ano passado.
Os mercados de ações e derivativos da Rússia permanecerão fechados na segunda-feira, disse o banco central.
O banco também disse que liberaria 733 bilhões de rublos (US$ 8,78 bilhões) em reservas bancárias locais para aumentar a liquidez. A presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, realizará um briefing às 13h, horário de Londres, na segunda-feira.
Os acontecimentos dramáticos reforçam os temores de uma corrida aos bancos da Rússia. Já foram vistas longas filas para sacar dinheiro em caixas eletrônicos em cidades russas. O Sberbank Europe, de propriedade do Sberbank, estatal russo, diz que experimentou “saídas significativas de depósitos em um período muito curto”.
Em um comunicado na segunda-feira, o Ministério das Finanças russo e o banco central anunciaram planos para ordenar que os exportadores domésticos vendam suas receitas cambiais a partir de 28 de fevereiro.
No fim de semana, os EUA, aliados europeus e Canadá concordaram em cortar os principais bancos russos do sistema de mensagens interbancárias, SWIFT, que conecta mais de 11.000 bancos e instituições financeiras em mais de 200 países e territórios. A UE também anunciou no domingo que estava fechando seu espaço aéreo para aeronaves russas.
A volatilidade nos mercados russos “mostra que o congelamento dos ativos dos bancos centrais russos, que foi decidido no fim de semana pela UE, bem como pelos outros países ocidentais liderados pelos EUA – mostra o quão significativo é esse movimento”, David Marsh, presidente do think tank de política econômica OMFIF, disse ao “Squawk Box Europe” da CNBC na segunda-feira.
“Na verdade, isso é muito mais significativo do que a ação SWIFT, que estava quebrando um tabu da Alemanha quando se juntou a ela no fim de semana”, disse ele, referindo-se às sanções que cortaram vários bancos russos do sistema global de pagamentos SWIFT.
“Isso significa que haverá essa enorme disputa por dólares na Rússia – vimos as filas do lado de fora dos bancos e assim por diante.”
Nos últimos anos, a Rússia acumulou uma reserva de guerra de cerca de US$ 630 bilhões em reservas estrangeiras, seu nível mais alto de todos os tempos, o que analistas dizem que a ajudará a suportar sanções e perdas na receita de exportação. Mas se alguns desses ativos forem congelados, isso muda o cálculo para a Rússia.
“Vamos paralisar os ativos do banco central da Rússia”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado no domingo. “Isso vai congelar suas transações. E impossibilitará o Banco Central de liquidar seus ativos.”
“O fato de os russos não poderem empregar boa parte desses US$ 600 bilhões em reservas em moeda estrangeira que o banco central russo vem acumulando cuidadosamente significa que estamos em uma economia de guerra de emergência”, disse Marsh. “E a ideia de isolar a Rússia, que apenas alguns dias atrás seria considerada impensável, agora é uma realidade.”
O aumento das medidas punitivas contra a Rússia – as mais fortes que a UE já implantou contra ela – ocorre quando as forças russas enviadas pelo presidente Vladimir Putin realizam ofensivas em toda a Ucrânia. Segue-se vários dias de bombardeios pesados e ataques com mísseis em grandes centros urbanos, incluindo as duas maiores cidades da Ucrânia, sua capital Kiev e Kharkiv, que juntas têm uma população de quase 5 milhões de pessoas.
Até agora, as forças ucranianas conseguiram conter os avanços russos e permanecer no controle das duas cidades, disse o Ministério da Defesa da Ucrânia neste domingo.
