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Hassan Nasrallah, o chefe do grupo terrorista chiita libanês Hezbollah, foi abatido nesta sexta-feira durante uma onda de “ataques de precisão” que Israel lançou sobre Dahiya, nos subúrbios do sul da capital libanesa, Beirute. A operação teve como foco os quartéis da organização e representou um golpe duro para o grupo, que nas últimas semanas intensificou suas ofensivas contra Israel.
“As FDI (Forças de Defesa de Israel) atacaram recentemente a sede central da organização terrorista Hezbollah, que fica localizada abaixo de edifícios residenciais no coração de Dahiya, em Beirute”, informaram as autoridades militares, enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aproveitava sua intervenção na ONU para garantir que “estamos vencendo” nesta guerra e prometer que “não descansaremos até que nossos cidadãos possam retornar para suas casas”.
Nascido em agosto de 1960 em um bairro pobre do leste de Beirute, Hassan Nasrallah era o mais velho de nove irmãos. Sua infância foi marcada pela guerra civil libanesa, que começou quando ele tinha cinco anos. Esse conflito devastador, que durou 15 anos, levou sua família a retornar para sua cidade natal, Bazourieh, no sul do país, uma região majoritariamente xiita.
Durante sua educação primária e secundária, Nasrallah viveu no sul do Líbano, onde se agarrou à sua identidade xiita e às suas raízes étnicas. Aos 15 anos, uniu-se ao Movimento Amal, uma organização político-militar xiita fundada pelo clérigo iraniano Musa al Sadr. Aos 16 anos, emigrou para Najaf, no Iraque, onde conheceu Abbas Mousavi, que se tornou seu mentor.
A Revolução Iraniana de 1979, liderada por Ruhollah Khomeini, teve um profundo impacto sobre os xiitas libaneses. Em 1981, Nasrallah foi nomeado representante de Khomeini no Líbano, o que fortaleceu seus laços com o Irã. Em 1982, após a invasão israelense ao Líbano, os comandantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã decidiram criar o Hezbollah, que foi anunciado oficialmente em 1985.
Nasrallah, que se juntou ao Hezbollah aos 22 anos, mudou-se para Qom, Irã, para continuar seus estudos religiosos, embora tenha continuado a estreitar seus vínculos com o regime persa. Ao retornar ao Líbano, tornou-se o segundo no comando do grupo, mas em 1992, após o assassinato de Abbas Mousavi por agentes israelenses, Nasrallah assumiu a liderança do Hezbollah, com apenas 32 anos.
Sob sua liderança, o Hezbollah se tornou um ator político significativo no Líbano, conquistando oito assentos no Parlamento nas eleições de 1992. A retirada de Israel do sul do Líbano em 2000 foi celebrada como uma grande vitória pelo grupo terrorista, que conseguiu consolidar sua legitimidade e manter suas armas.
Além disso, o apoio financeiro do Irã permitiu que o Hezbollah oferecesse serviços sociais à comunidade xiita no Líbano, criando uma rede de escolas, hospitais e associações beneficentes. Inclusive, seu nível de influência no país foi tão alto que, em 2008, apesar da redução dos assentos parlamentares, Nasrallah conseguiu manter o direito de veto no gabinete libanês.
Durante todo o seu tempo à frente do grupo, Nasrallah, de 64 anos, enfrentou diversas crises, incluindo a Primavera Árabe, a guerra civil síria e a atual crise econômica no Líbano, e chegou a ser considerado um líder político-militar único no país, com um histórico de décadas de luta. De fato, nenhuma das elites libanesas conseguiu deslocá-lo do campo político ou diminuir significativamente seu poder.
Nasrallah sempre manteve uma retórica constante de resistência terrorista contra Israel. Em um discurso em 2000, após a retirada israelense do sul do Líbano, descreveu o Estado judaico como uma “frágil teia de aranha”, apesar de seu arsenal nuclear. Essa visão foi a que, nas décadas seguintes, definiu sua abordagem, fundindo teologia xiita e retórica de libertação.
Sua ideologia também foi moldada ao longo de sua vida. Em uma entrevista em 2006 com Robin Wright, do The Washington Post, Nasrallah descreveu como sua crença na resistência armada foi formada ao observar os conflitos na Palestina. Essa ideologia de resistência requer um conflito contínuo com Israel para justificar a existência e o poder do Hezbollah no Líbano.
Sanam Vakil, diretora do programa do Oriente Médio e Norte da África na Chatham House, explicou ao The Guardian que o Hezbollah compreende bem seus adversários, por meio de uma observação estratégica e paciente.
Desde os anos 2000, o Hezbollah evoluiu significativamente, tornando-se uma força política e social poderosa no Líbano; no entanto, a situação atual levou Nasrallah a uma posição delicada, onde a ambiguidade de suas declarações oscilava entre ameaças a cidades israelenses e a insistência de que não buscava uma guerra total. Inclusive, sua capacidade de reverter a crise atual era cada vez mais limitada.
Isso ficou evidente recentemente, quando, apesar de a crise no Líbano ter contido o terrorista de provocar uma guerra total, tanto o Hezbollah quanto Israel demonstraram uma mudança em sua percepção desse limiar. Segundo um ensaio de David Daoud e Ahmad Sharawi para o Atlantic Council, o Hezbollah acredita que esse limiar não é fixo e aumenta à medida que as operações israelenses em Gaza se aprofundam, o que lhes dá mais liberdade de ação.
Nasrallah, que tinha uma relação estreita com a República Islâmica do Irã e seu líder, o aiatolá Ali Khamenei, evitava aparições públicas por medo de ser assassinado por Israel. No entanto, seus discursos, distribuídos quase semanalmente, permitiam que ele exercesse sua influência e comentasse sobre questões que afetam o Líbano e o mundo.