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Bob Woodward, o lendário jornalista que revelou o escândalo do “Watergate”, apresenta em seu novo livro, “War”, as conversas nos bastidores da Casa Branca e as trocas de insultos entre Joe Biden, Donald Trump, Kamala Harris e Vladimir Putin, segundo uma prévia publicada nesta terça-feira pela CNN.
O livro, baseado em centenas de horas de entrevistas com autoridades e testemunhas diretas, oferece um retrato dos conflitos internacionais e das disputas pessoais que marcaram a presidência de Biden. Uma das revelações mais surpreendentes é a forma como Biden se referiu ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu: “Aquele filho da puta, Bibi Netanyahu, é um cara mau. Ele é um cara mau”, disse o presidente a um de seus assessores na primavera de 2024, enquanto as tensões em Gaza aumentavam.
O livro, que será lançado no dia 15 de outubro, também expõe a frustração de Biden com o presidente russo, Vladimir Putin, logo após a invasão da Ucrânia: “Putin é mau. Estamos lidando com a epítome do mal”, disse Biden aos seus conselheiros no Salão Oval, referindo-se a Putin como “aquele maldito Putin”.
A relação complicada com Netanyahu
O livro de Woodward revela a natureza tensa e complexa da relação entre Biden e Netanyahu, que atingiu seu ponto mais crítico durante o conflito em Gaza em 2024. Apesar das demonstrações públicas de apoio a Israel, as conversas privadas entre os dois líderes foram marcadas por fortes desentendimentos e duras críticas.
“Qual é a sua estratégia, amigo?”, perguntou Biden a Netanyahu durante um telefonema em abril de 2024, questionando a falta de um plano claro na ofensiva israelense em Gaza. Quando Netanyahu respondeu que seu objetivo era “entrar em Rafah”, Biden retrucou secamente: “Bibi, você não tem estratégia”.
A tensão aumentou ainda mais em julho, quando um ataque aéreo israelense em Beirute matou um alto comandante do Hezbollah e três civis. “Bibi, que porra é essa?” Biden gritou com Netanyahu, segundo Woodward.
O presidente dos Estados Unidos não escondeu sua frustração: “Vocês sabem que a percepção de Israel no mundo é cada vez mais a de que eles são um Estado desonesto, um ator desonesto”, criticou ele.
O livro detalha como Netanyahu tentou justificar suas ações, argumentando que eles “viram uma oportunidade e aproveitaram-na”, afirmando que quanto mais Israel fosse atingido, “mais bem-sucedida seria a negociação”.
No entanto, Biden, desconfiado das intenções de Netanyahu, aconselhou-o a não realizar mais operações militares: “Não precisa fazer outro movimento. Não façam nada”, insistiu Biden após um ataque israelense na Síria que provocou retaliação massiva do Irã. No final, Israel lançou um ataque limitado ao Irã, que Biden considerou uma vitória. “Eu sei que ele vai fazer alguma coisa, mas a maneira de limitá-lo é dizer-lhe para não fazer nada”, disse Biden aos seus conselheiros, de acordo com Woodward.
Em uma chamada subsequente, Biden confrontou Netanyahu novamente e acusou-o de ser desonesto: “Ele é um maldito mentiroso”, disse Biden em privado depois que Israel entrou em Rafah, apesar dos avisos de Washington.
A reação aos planos de Putin: “Isso seria uma loucura”
Antes da invasão da Ucrânia, Woodward relata como o presidente Biden foi informado pela CIA em outubro de 2021 sobre a iminente invasão russa. “Foi um golpe de inteligência surpreendente, proveniente das joias da coroa da inteligência americana, incluindo uma fonte humana dentro do Kremlin”, descreve Woodward, revelando que os dados recolhidos mostravam claramente que Putin planejava enviar 175 mil soldados.
Bill Burns, diretor da CIA, levou essa informação a Biden, que ficou perplexo com a magnitude do ataque que se aproximava. “Isso é o que Putin planeja fazer”, disse Burns a Biden, que respondeu incrédulo: “Isso seria uma loucura”.
Em dezembro de 2021, Biden confrontou diretamente Putin em uma videochamada, apresentando-lhe evidências dos planos russos. Em certo ponto, a conversa se tornou tão acalorada que, segundo Woodward, Putin “levantou o risco de uma guerra nuclear de maneira ameaçadora”.
“É impossível vencer uma guerra nuclear”, respondeu Biden a Putin, reafirmando a posição dos Estados Unidos. Apesar desses avisos, a invasão ocorreu em fevereiro de 2022.
Preocupação com o uso de armas nucleares na Ucrânia
“War” revela que a equipe de segurança nacional de Biden temia que Putin usasse armas nucleares táticas na Ucrânia. Com base em relatórios de inteligência, Biden passou a acreditar que havia 50% de chance de a Rússia recorrer a esse tipo de armamento. “Diga a eles o que faremos em resposta”, ordenou Biden ao seu conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, referindo-se aos russos.
O livro descreve uma conversa tensa entre o secretário de Defesa Lloyd Austin e seu então homólogo russo, Sergei Shoigu, em outubro de 2022. “Se você fizer isso, todas as restrições sob as quais operamos na Ucrânia serão reconsideradas”, disse Austin a Shoigu, alertando-o sobre as consequências do uso de armas nucleares. “Isso isolaria a Rússia no cenário mundial a um nível que vocês, russos, não conseguem apreciar totalmente.”
“Não gosto de ser ameaçado”, respondeu Shoigu. Austin replicou: “Sr. Ministro, sou o líder do exército mais poderoso da história do mundo. Eu não faço ameaças”.
Dois dias depois, os russos solicitaram outra ligação. Desta vez, Shoigu alegou dramaticamente que os ucranianos estavam planejando usar uma “bomba suja”, uma história falsa que os EUA acreditavam que o Kremlin estava promovendo como pretexto para implantar uma arma nuclear.
“Não acreditamos em você”, respondeu Austin com firmeza, de acordo com Woodward. “Não vemos nenhum sinal disso e o mundo vai notar.”
“Não faça isso”, disse ele a Shoigu.
“Eu entendo”, respondeu Shoigu.
“Foi provavelmente o momento mais assustador de toda a guerra”, disse Colin Kahl, um alto funcionário do Pentágono, sobre o episódio, segundo Woodward.
Biden culpa Obama pela crise com Putin
Um dos momentos mais reveladores do livro são as críticas de Biden à administração Obama e à forma como lidou com a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Segundo Woodward, Biden disse a um amigo: “Eles erraram em 2014. É por isso que estamos nessa situação. Nós estragamos tudo. Barack nunca levou Putin a sério”.
Biden também acrescentou frustrado: “Não fizemos nada. Demos carta branca para Putin continuar. Bem, eu revogo essa maldita permissão dele!”
Trump e Putin: conversas secretas
Woodward também revela detalhes inéditos sobre o relacionamento de Trump com Putin. De acordo com o livro, em 2020, Trump enviou secretamente a Putin máquinas de teste de Covid para uso pessoal durante o auge da pandemia.
“Por favor, não conte a ninguém que você as enviou para mim”, disse Putin a Trump por telefone. Trump respondeu: “Eu não me importo. Tudo bem”.
“Não, não”, disse Putin. “Não quero que você conte a ninguém porque as pessoas vão ficar com raiva de você, não de mim. Eles não se importam comigo.”
Desde que deixou a Casa Branca, Trump continuou a manter contato com Putin. “Houve vários telefonemas entre Trump e Putin, talvez até sete, desde que Trump deixou o cargo em 2021”, relata Woodward, citando um assessor do ex-presidente.
No entanto, quando questionado, Jason Miller, conselheiro de Trump, negou ter conhecimento dessas conversas: “Não ouvi dizer que eles estão se falando, então discordo disso”, disse ele a Woodward.
“Trump está se tornando mais errático”
O livro também documenta conversas entre Trump e o senador Lindsey Graham, revelando um retrato íntimo das lutas do ex-presidente para reconquistar a presidência em 2024. Woodward escreve que Graham, um dos aliados mais próximos de Trump, tentou repetidamente aconselhá-lo a parar de focar nas eleições de 2020 e concentrar-se nos problemas atuais.
“Você tem um problema com mulheres moderadas”, disse Graham a Trump após as eleições de meio de mandato. “Pessoas que pensam que a Terra é plana e que não fomos à Lua, essas você tem. Deixe isso para lá.” Graham, tentando convencer Trump a superar a eleição perdida, avisou-o que, se ele ganhasse em 2024, “então o 6 de janeiro não seria seu obituário”.
Mas Trump, de acordo com Woodward, não conseguiu deixar essa questão de lado. O ex-presidente certa vez vangloriou-se a Graham, dizendo: “Fiz um discurso hoje e só mencionei as eleições de 2020 duas vezes!”, como se tivesse demonstrado, em suas palavras, “o maior autocontrole”.
Graham, no entanto, notou uma mudança preocupante em Trump. “Trump está se tornando mais errático. Esses processos judiciais
