Devido às suas vastas populações no planeta, os mosquitos são considerados os animais mais letais para os seres humanos, alertam os especialistas. Embora nem todas as espécies de mosquitos piquem ou transportem patógenos, eles estão atualmente em foco por serem vetores de doenças que impactam a saúde pública global.
Algumas espécies de mosquitos podem transmitir vírus e outros parasitas, causando doenças devastadoras como malária, dengue, febre amarela, Chikungunya, zika e encefalomielite equina do Oeste, entre outras.
Apenas as fêmeas de mosquitos picam seres humanos e animais para se alimentarem de sangue, necessário para a produção de ovos. Contudo, elas se infectam com germes, como vírus e parasitas, ao picar pessoas e animais infectados.
De acordo com a Dra. María Sol De Majo, pesquisadora do Conicet e do Instituto de Ecologia, Genética e Evolução da Faculdade de Ciências Exatas da UBA (Universidade de Bueno Aires), o aumento da propagação desses vírus causados pelos mosquitos ocorreu devido às chuvas, formação de poças e à postura de ovos pelas fêmeas dessa espécie em solo úmido nas margens das poças. Após a chuva, as larvas nascem quando os ovos se molham, desenvolvem-se até o estágio de pupa e, em seguida, emergem os adultos. Ocorrendo em vários locais simultaneamente, isso resulta na emergência de muitos mosquitos adultos.
O que atrai os mosquitos?
Agora, entende-se melhor o que os atrai ou repele. “O que mais atrai os mosquitos quando estão perto de seres humanos é o dióxido de carbono, que produzimos com nossa respiração, e diferentes compostos gerados pela nossa pele, como ácido lático. Além disso, a microbiota da pele, formada por bactérias, produz diferentes odores”, explicou a Dra. Romina Barrozo, do Instituto de Biodiversidade, Biologia Experimental e Aplicada do Conicet e da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires.
Isso se soma ao calor e à umidade, permitindo que os mosquitos reconheçam os humanos à distância. “Cada pessoa pode ser mais ou menos atraente com base no seu próprio perfil químico para os mosquitos. Portanto, algumas pessoas são mais picadas por mosquitos do que outras”, acrescentou.
Odores que afastam os mosquitos
Existem também odores percebidos pelos mosquitos que os fazem fugir. “Plantas como citronela, eucalipto, jarilla e paraíso podem fornecer óleos essenciais repelentes para os mosquitos”, disse o biólogo Andrés Visintin, professor na Cátedra de Entomologia da Faculdade de Ciências Exatas, Físicas e Naturais da Universidade Nacional de Córdoba e pesquisador do Conicet.
Assim como outros insetos, “os mosquitos evitam pousar e se alimentar ao detectar substâncias amargas, pois as percebem como potencialmente tóxicas. Em suas patas, antenas e peças bucais, possuem neurônios sensoriais gustativos que detectam os compostos amargos. Quando essas neurônios são ativados, geram um comportamento de fuga ou rejeição. Também no canal alimentar dos mosquitos, existem detectores internos”, destacou Barrozo.
A Dra. Barrozo e o cientista Claudio Lazzari, da Universidade de Tours, na França, juntamente com outros colaboradores, publicaram recentemente um estudo que determina a reação dos mosquitos ao entrar em contato com cafeína – presente no café ou no mate – ou com quinina ou quina. O estudo foi publicado no Journal of Chemical Ecology.
“Os compostos amargos indicam a presença de um alimento potencialmente tóxico ou prejudicial. Portanto, os mosquitos os evitam. Por outro lado, os sabores doces indicam um alimento nutritivo e calórico”, comentou.
Os pesquisadores descobriram que os mosquitos rejeitam mais a quinina (uma substância extraída da planta de quina) do que a cafeína, quando expostos às mesmas concentrações. Se um líquido contendo cafeína ou quinina entra em contato, as neurônios sensoriais internas também desencadeiam o comportamento de fuga nos insetos.
Por que os mosquitos voam perto da orelha?
A cabeça das pessoas (e suas orelhas) fica mais exposta quando estão dormindo, geralmente cobertas por lençóis. Por isso, “o zumbido dos mosquitos nas orelhas é mais perceptível quando as pessoas estão na cama. Trata-se de espécies de mosquitos noturnos que podem viver dentro de residências. Vale ressaltar que nem todas as espécies vivem em ambientes domésticos”, afirmou o Dr. Visintin.
Os mosquitos picam humanos pelo sabor doce?
“Na pele humana, não há açúcar. Mas os mosquitos podem detectar o dióxido de carbono exalado, o calor e outros odores produzidos pela microbiota da pele humana, entre outros sinais”, explicou Barrozo. “Se essas pistas sensoriais indicarem uma fonte potencial de alimento em uma pessoa, a fêmea de mosquito a picará. Por outro lado, se detectar uma substância aversiva, ela fugirá”, esclareceu.
Por que estudar as preferências dos mosquitos?
Atualmente, são utilizados repelentes voláteis que os mosquitos podem detectar à distância e que os afastam. No entanto, se ultrapassarem a barreira do repelente, os mosquitos podem picar a pessoa. “Estamos pesquisando repelentes não voláteis que poderiam oferecer uma proteção de maior duração do que os produtos convencionais. Os mosquitos pousariam, detectariam as substâncias amargas e não picariam as pessoas”, explicou Barrozo, cujo grupo recebeu apoio da Agência Nacional de Promoção Científica e Tecnológica da Argentina e do CNRS da França.
Esses repelentes em desenvolvimento são de origem natural, baseados em plantas e ecologicamente corretos. “Procuramos que sejam de longa duração e de baixo custo. Estamos testando no laboratório uma série de potenciais repelentes”, afirmou.
