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O ex-presidente Evo Morales está sendo investigado por um caso de estupro, além de tráfico e trata de pessoas, conforme divulgado pela advogada Sandra Gutiérrez, que foi procuradora departamental de Tarija e destituída de seu cargo após o surgimento desse caso. Na noite de quarta-feira (2), foi revelado que havia um mandado de apreensão contra o ex-presidente, o qual foi anulado após a concessão de um habeas corpus.
De acordo com a ex-procuradora Gutiérrez em uma entrevista na televisão, a investigação teve início a partir de uma denúncia apresentada na semana passada, sobre a qual não quis fornecer detalhes. Na ordem de apreensão, é mencionado que o caso envolve um suposto vínculo com uma menor de idade que teria ocorrido em 2018.
Após a denúncia, foi formada uma comissão de procuradores, que decidiu abrir uma investigação pelo crime de tráfico e trata de pessoas, além de emitir um pedido de apreensão contra Morales e outras duas pessoas, cujas identidades não foram reveladas, enquanto as investigações prosseguem.
Em entrevista ao site argentino Infobae, a advogada Cecilia Urquieta, integrante da equipe jurídica do Movimento ao Socialismo (MAS), classificou a investigação como uma “perseguição judicial” contra o ex-presidente e afirmou que, após a marcha de protesto que ele realizou contra o governo no meio de setembro, cinco processos foram abertos contra ele.
Sobre a denúncia de tráfico e trata de pessoas em particular, Urquieta indicou que se baseia em “um rumor, um boato de anos atrás que nunca pôde ser comprovado” e afirmou que a suposta vítima não faz parte da denúncia. Ela acrescentou que a investigação teve origem na Procuradoria de Tarija e que o caso apresenta “muitos vícios e irregularidades”, razão pela qual os advogados de Morales acreditam que todo ato será nulo.
Urquieta afirmou que o ex-presidente tomou conhecimento do caso “por acaso”, já que não recebeu nenhuma notificação formal. “Foi um momento de preocupação para todos, mas (a Evo Morales) eu o ouvi muito forte porque ele tem o apoio do povo”, disse, relatando que seus seguidores no trópico de Cochabamba se organizaram para protegê-lo. “Se houver esse tipo de irregularidades, o povo vai se mobilizar (…) Isso assusta (o governo), a força social e política que Evo Morales possui”, sustentou.
O caso surge em meio à disputa interna no MAS entre facções ligadas a Morales e ao presidente do país, pela liderança do partido e pela candidatura presidencial nas eleições gerais de 2025.
Nesse contexto, na semana passada, o ex-ministro da Justiça Iván Lima anunciou que nos próximos dias serão iniciados processos judiciais contra pessoas que “fizeram mal ao povo boliviano”. “Vou assumir a defesa, a acusação e levar adiante processos contra pessoas que prejudicaram o povo boliviano, que participaram não apenas da destruição da inocência de meninas, mas também da inocência de famílias”, afirmou Lima em seu discurso de despedida.
Procuradora que conduziu o caso é destituída
Sandra Gutiérrez denunciou que, após emitir o mandado de apreensão, o procurador-geral do Estado, Juan Lanchipa, exigiu que ela apresentasse sua renúncia e lhe impediu de entrar em seu gabinete. “Para mim, isso é uma perseguição e denuncio publicamente, e também farei uma denúncia à comunidade internacional”, declarou.
Gutiérrez não apresentou sua renúncia, mas recebeu um memorando de agradecimento por seus serviços. “A partir de agora deixo de ser procuradora departamental porque acabo de ser notificada”, afirmou.
A notícia sobre a ordem de apreensão de Evo Morales gerou uma onda de reações no país. Políticos da oposição afirmaram que o processo investigativo deve continuar, apesar da destituição da procuradora Gutiérrez. “Não se pode menosprezar o que foi feito até agora, e ao procurador-geral (Juan Lanchipa) só cabe dar continuidade a esse caso”, afirmou a deputada Luciana Campero.