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Um novo estudo questiona a crença amplamente difundida de que uma dieta baseada em plantas é sempre benéfica para a saúde. A pesquisa revela uma conexão surpreendente: o consumo de alimentos ultraprocessados de origem vegetal, como biscoitos, produtos de confeitaria industrial e refrigerantes, pode estar associado a um maior risco de doenças cardiovasculares e até morte prematura.
Alimentos Ultraprocessados e Saúde
Esses alimentos, que contêm aditivos como aromatizantes, corantes e emulsificantes para torná-los mais atraentes, incluem refrigerantes e bebidas energéticas, batatas fritas, doces, iogurtes com sabor, margarina, nuggets de frango, hot dogs, salsichas, frios, macarrão instantâneo, fórmulas infantis, a maioria dos pães embalados, leites vegetais, substitutos de carne e cereais matinais.
Novas Evidências
Uma nova pesquisa publicada na revista The Lancet Regional Health — Europe revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados de origem vegetal está vinculado a um aumento do risco de doenças cardiovasculares e morte prematura. Descrito como “o primeiro” estudo a demonstrar essa associação, ele analisou dados de mais de 118.000 pessoas no Reino Unido.
Especialistas Alertam
Duane Mellor, nutricionista e professor da Aston Medical School em Birmingham, Reino Unido, alertou sobre os riscos de presumir que uma dieta baseada em plantas é automaticamente saudável. “Não podemos sempre assumir que o que é baseado em plantas é saudável. Afinal, o açúcar é de origem vegetal”, disse Mellor. “Muitos alimentos que não contêm produtos de origem animal, como biscoitos, batatas fritas, doces e refrigerantes, são tecnicamente de origem vegetal, mas a maioria das pessoas não os consideraria essenciais para uma dieta saudável.”
Impacto do Nível de Processamento
Renata Levy, autora principal do estudo e pesquisadora no Centro de Pesquisa Epidemiológica em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), explicou que o impacto na saúde depende do nível de processamento dos alimentos. “Os produtos baseados em plantas podem ser benéficos, atuando como proteção contra problemas de saúde, ou podem representar um risco – tudo depende do nível de processamento desses alimentos”, afirmou Levy.
Dados do Estudo
O estudo analisou dados do Biobank do Reino Unido, um estudo longitudinal que inclui participantes da Inglaterra, Escócia e País de Gales, com idades entre 40 e 69 anos, que responderam a perguntas sobre seus hábitos alimentares. Esses dados foram vinculados a registros hospitalares e de mortalidade para estudar o desenvolvimento de fatores de risco cardiovascular. Fernanda Rauber, outra autora principal do estudo, indicou que os aditivos alimentares e os contaminantes industriais nesses alimentos poderiam causar estresse oxidativo e inflamação, agravando os riscos.
Riscos e Benefícios
Os alimentos ultraprocessados passam por múltiplos processos industriais e contêm químicos adicionados para alterar cor, cheiro, sabor e textura, sendo formulados para serem hiperpalatáveis e extremamente convenientes, exigindo pouco ou nenhum tempo de preparação.
Em contraste, alimentos não processados incluem frutas e verduras frescas, ovos e leite. Alimentos minimamente processados incluem ingredientes culinários como sal, ervas e óleos, assim como conservas e vegetais congelados.
Conclusões do Estudo
O estudo encontrou que esses alimentos de origem vegetal aumentaram o risco de doenças cardiovasculares em 5% e a mortalidade em 13%. Em contrapartida, a substituição de 10% desses alimentos ultraprocessados por plantas frescas, congeladas ou minimamente processadas reduziu o risco de desenvolver doenças cardiovasculares em 7% e ofereceu uma redução de 13% no risco de morte por doenças cardíacas.
O estudo também investigou produtos de carne de origem vegetal, como salsichas, nuggets e hambúrgueres, que, por natureza, caem na categoria de ultraprocessados. Peter Scarborough, professor de saúde populacional na Universidade de Oxford, comentou que era difícil determinar exatamente quanto risco esses alimentos acarretam. “As alternativas de carne à base de plantas constituem apenas 0,5% de todos esses alimentos de origem vegetal incluídos no estudo”, disse Scarborough.
A maioria dos alimentos ultraprocessados de origem vegetal estudados eram pães, bolos, tortas e biscoitos embalados. Tom Sanders, professor emérito de nutrição e dietética no King’s College London, afirmou que grande parte do reportado já era conhecido. “É amplamente aceito que dietas baseadas em plantas bem equilibradas, como as dietas mediterrânea ou DASH, são favoráveis à saúde cardiovascular e já enfatizam evitar alimentos não saudáveis como batatas fritas, bebidas açucaradas, bolos, biscoitos e doces”, disse Sanders.
Importância da Escolha
Enquanto esses alimentos de origem vegetal podem ser convenientes, seu consumo pode acarretar riscos à saúde cardiovascular. Os especialistas destacam a importância de optar por alimentos frescos, congelados ou minimamente processados para melhorar os resultados de saúde cardiovascular.