Enquanto se preparava para ser mãe pela primeira vez, a feminista Gabriella Martenson decidiu não contar à criança se havia nascido menina ou menino, evitando ao máximo discutir o sexo do bebê com pessoas de fora da família e do seu círculo de amizades.
“Eu queria que eles fossem quem quisessem ser. Não quero decidir isso por eles”, afirmou Martenson. Ela tinha 30 anos de idade e morava na sua cidade-natal — a capital da Suécia, Estocolmo — quando a criança nasceu.
A atitude da mulher, que, caso não fosse pelo comprometimento da justiça com a agenda woke, poderia ser facilmente considerada um crime de tortura psicológica, foi divulgada pela BBC Worklive no ano passado.
De acordo com o jornal, ainda não se sabe exatamente quantas famílias adotaram esse modo — torturante — de criar os filhos, já que existem poucas pesquisas públicas ou acadêmicas sobre o assunto. Porém, psicoterapeutas e professores da pré-escola afirmam ter observado o crescimento dessa prática na Europa e nos Estados Unidos.
A chamada “agenda de desconstrução de gênero”, impulsionada por entidades globalistas, promove a ideia fantasiosa de que as pessoas não nascem necessariamente homens ou mulheres, podendo transformar-se naquilo que desejarem, de acordo com seus sentimentos. Segundo os defensores dessa ideologia caótica, cada indivíduo é responsável por construir sua própria identidade, incluindo a escolha do “gênero”, independentemente de seu sexo biológico.
“Esta agenda [de gênero] estuda o funcionamento da mente infanto-juvenil e sabe que se disser a sua real intenção não será atraente”,
— Psicóloga Nara Resende
Disfarçada sob o rótulo de “respeito à diversidade”, a ideologia de gênero, mesmo sem ter força de lei (até o momento), já está sendo amplamente introduzida nas escolas sem o consentimento dos pais. No Brasil, o governo socialista de Lula, decretou que as escolas devem retomar a discussão sobre “educação sexual” em suas salas de aula, ampliando ainda mais a abertura para que professores transmitam conceitos ligados à ideologia de gênero aos alunos.
Mas, afinal, o que pode acontecer na cabeça de uma criança que é exposta a essa ideia absurda? Quais os riscos?
“Aplicada à educação, ela [ideologia de gênero] destrói nas crianças a capacidade de distinguir entre realidade e fantasia”,
— Olavo de Carvalho
Ainda sobre o assunto, Olavo de Carvalho afirmou:
“A ‘ideologia de gênero’ é uma estupidez tão monstruosa que o simples fato de alguém aceitá-la como hipótese para discussão já revela uma total inépcia intelectual ou então uma má-fé que raia a criminalidade pura e simples.
Aplicada à educação, ela destrói nas crianças a capacidade de distinguir entre realidade e fantasia, entre ser e parecer, e cria uma geração de pequenos imbecis que, ao chegar à universidade, não servirão para mais nada além de se divertir, bater pezinho com exigências impossíveis, e fazer uma confusão dos diabos com o pouco que tiverem conseguido aprender”.
Psicóloga Nara Resende, Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia.
Para compreender de que maneira a ideologia de gênero pode impactar crianças e adolescentes, entrevistei a psicóloga clínica Nara Resende. Com mais de 31 anos de experiência, ela também é especialista em Psicopedagogia e Teoria Psicanalítica e ministra palestras abordando temas relacionados à Educação e Psicanálise.
Nara é autora dos livros “Divã com Poesia”, “Freud Inverso” e atua como organizadora em obras como “O Jovem Psicólogo e a Clínica”, “Manifesto Brasileiro” e “Pilares da Decadência Social”.
De acordo com a profissional, a clínica é muito grave atualmente se comparada com o que ela viveu há vinte, trinta anos.
Fernanda Salles: De acordo com um relatório da OMS publicado em maio deste ano, cerca de um bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental no mundo. Desse total, 14% são adolescentes. Você considera esses números alarmantes?
Nara Resende: Alarmantes, sim. Já sinalizam um alerta vermelho psicossocial. É o reflexo de uma sociedade doentia com consequências desastrosas inimagináveis, pois esses adolescentes serão os futuros pais, professores e governantes de países em todo o mundo. Vivemos um tempo de trem descarrilado e só o debate sério e sem sentimentalismo poderá evitar uma catástrofe ainda maior.
A ciência psicológica nos ensina que apenas dar vazão às emoções não evita automutilação, bulimia, anorexia e, menos ainda, o suicídio. Ao contrário, Freud postulou os Dois Princípios do Funcionamento Mental, nos quais o Princípio do Prazer deveria ser contido pelo Princípio de Realidade, ou seja, adiar a satisfação é o que conduz um ser humano ao desenvolvimento emocional e, consequentemente, o ensina a lidar com as dificuldades inerentes à própria vida.
É preciso resgatar a capacidade de pensar do indivíduo; a inteligência humana pede socorro. Os pais, durante décadas, delegaram a educação dos filhos ao sistema educacional. Eles precisam retomar essas rédeas e acompanhá-los em sua rotina diária e se atentar para a escola em que eles estudam. Estamos em um momento de alerta vermelho e precisamos de uma força-tarefa entre pais, escola e intelectuais que pensam honestamente para sairmos desse lamaçal em que mergulhou a nossa sociedade. A escola precisa voltar a cumprir a função principal, a de ensinar conteúdos específicos.
Outro ponto sensível, mas que precisa ser encarado: os termos moral, limites, deveres, desenvolvimento cognitivo, consciência e ética precisam voltar a fazer parte dos assuntos da sociedade e dos currículos escolares.
Fernanda Salles: De que forma a imposição da ideologia de gênero pode afetar a identidade de uma criança?
Nara Resende: Pode ser devastador. Veja bem, o próprio conceito de ideologia vem de ideia e no campo das ideias tudo é possível. Porém, para por aí, porque a identidade de um ser humano não comporta apenas as ideias; há um corpo envolvido, e este corpo tem limites, queiramos ou não. Querer não é poder, mas infelizmente, hoje, o contrário tem sido propagado incessantemente, que os desejos devem ser satisfeitos, caso contrário o indivíduo frustrado poderia vir a cometer um atentado contra a sua própria vida. Afirmam, exatamente, o oposto do que a Psicologia ensinou até o momento, resultando daí inúmeras distorções das noções que, até recentemente, eram claras.
Hoje, você vê universidades federais renomadas realizando palestras com o título: “Mulheres com próstata”; ou seja, a ideologia de gênero perverte conceitos de áreas que podem assegurar à mente em formação certa estabilidade conceitual. Vivemos uma situação tão séria que os adeptos dessas ideologias, por não se verem contestados, se sentem autorizados a dar um passo ainda mais ousado em direção às ciências naturais e até exatas.
Não mais se intimidam em afirmar, categoricamente, que a biologia é irrelevante quando se trata do corpo humano; portanto, ser homem e ser mulher é apenas uma questão de identificação psicológica, e que esta premissa deve prevalecer sobre as demais. Percebe-se que a realidade fisiológica não só pode como deve ser banida do debate. E a distorção atinge outras áreas, tais como a Educação, a Psicologia, a Política, a Economia, a Literatura e a Antropologia.
Tempos atrás, quiseram revisar a obra de Monteiro Lobato, alegando discriminação racial em sua literatura, desconsiderando toda uma época, um contexto social, ou seja, um anacronismo maléfico para a formação educacional das crianças e jovens brasileiros. Outros ainda querem alterar a língua portuguesa com o intuito de torná-la inclusiva, sem pensar nas dificuldades que tal regra trará a inúmeros grupos de pessoas que têm dificuldades com a palavra escrita e falada.
Enfim, o ataque ideológico precisa assumir inúmeras frentes e ocupar o maior número de espaços públicos possível, para que essa colcha de desinformação não deixe pontas soltas. O objetivo maior de toda essa cultura é criar um mundo mental fragilizado em seu âmago, pois uma mente fragilizada em sua identidade é muito mais facilmente manipulável. Detalhe, muitos que bradam por essa bandeira nem suspeitam que são massa de manobra de grandes interesses políticos, econômicos e financeiros mundiais.
O que digo aqui não são opiniões apenas, é fruto de um estudo teórico e prático diário, pois atinge, diretamente, a minha profissão. A clínica atual é muito mais grave se comparada com a que eu vivi há vinte, trinta anos.
Como agir se eu souber que a escola está impondo ideologias ao meu filho?
“Parem de sexualizar nossas crianças”: Milhares de canadenses saíram às ruas em protesto contra a imposição da ideologia de gênero nas escolas. Marcha aconteceu em setembro/2023 em vários estados do país.
Nara Resende: Muitos pais nem atribuem o sofrimento do filho na escola a uma espécie de doutrinação ideológica; só percebem a seriedade da questão quando atinge o seu filho em particular. Se não sabem do que se trata, exatamente, o problema, como vão lutar contra algo que tem nome acobertado por outro?
O nome ideologia não é nem citado por pais; alguns, quando se aborda essa palavra, se calam, e outros até atacam quem ousou tocar nessa ferida. Você percebe que há um tabu em torno do conceito? Então, o primeiro passo é encorajar os pais a tocarem no assunto em casa com os próprios filhos, bem como manifestarem a sua opinião na escola, porque ali estão embutidas ideias sobre masculino, feminino, beleza, feiura, bondade, maldade, família, pai, mãe, grandeza, pequenez, força, fraqueza, riqueza, pobreza, Deus, fé, amor, ódio.
Outra dica é incentivar os pais a formarem grupos para acompanhar o desenrolar das atividades escolares em geral, desde a verificação do conteúdo de apostilas e livros, até se atentarem para as ideias e os posicionamentos dos professores, direção e equipe técnica escolar. Enfim, a família precisa se voltar para a escola de seus filhos, repito.
Fernanda Salles: Você acredita que a chamada “agenda woke” pode estar contribuindo para a desestabilização mental de crianças, adolescentes e jovens adultos que aderem a essas ideias?
Nara Resende: Sem dúvida alguma, ela é devastadora pois se apresenta como uma substituta materna e paterna muito melhor, acolhedora e compreensiva do que o que oferecem os pais. Esta agenda estuda o funcionamento da mente infanto-juvenil e sabe que se disser a sua real intenção não será atraente, por isto usa a sedução como a sua principal isca. Entretanto, é ditatorial pois se um jovem escolhe seguir outro caminho é eliminado brutalmente do círculo de amizade que se submeteu a ela.
Ou seja, o adolescente foge da autoridade dos pais e se vê refém de outros jovens vorazes por poder controlar a vida dele e de modo cruel pois utiliza de fofocas, mentiras, distorções e cancelamento virtual em questão de minutos. Hoje, uma vida pode ser destruída rapidamente pois há um modo de operar em bando contra o indivíduo que não se identifica com a agenda woke. Veja essa onda de usar moletom cinza e preto mesmo quando o tempo está quente.
Se uma menina decide se vestir de modo mais feminino já entra para o radar dos vigilantes, ou seja, ter uma mente própria, pensante, autônoma, criativa, consciente, inteligente e autoral se tornou uma ameaça para aqueles que querem aprisionar o indivíduo em uma ratoeira em que se oferece água apenas se o rato obedecer às ordens daquele que libera a gota d’água.
Nara Resende: Psicóloga clínica de adolescentes, adultos e idosos há 31 anos. Instagram nara.resende.psi
