Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão.
Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
Archana, nome fictício, vive com a família em um vilarejo no distrito de Satara, no oeste da Índia, em uma pequena casa em uma fazenda. Mãe de uma menina de seis anos, ela percebeu mudanças no corpo da filha que a deixaram preocupada.
Segundo Archana, a menina começou a se irritar facilmente, e essas mudanças a alarmaram. Preocupada, decidiu levar a filha ao médico, especialmente após notar que a criança parecia mais velha do que sua idade.
Em Déli, outra mãe, Rashi, também observava mudanças no corpo da filha de seis anos, mas as considerava normais, pois acreditava que a menina, que pesava 40 kg, era apenas uma “criança saudável”. No entanto, um episódio de sangramento inesperado levou Rashi a buscar ajuda médica. O diagnóstico revelou que a menina havia começado a menstruar. Segundo Rashi, foi difícil para a família aceitar a situação, e a criança não compreendia o que estava acontecendo.
No caso de Archana, um médico local a orientou a consultar um ginecologista. O médico Sushil Garud, do Hospital Maternidade de Pune, que examinou a menina, constatou que ela apresentava todos os sinais de puberdade, com uma estrutura corporal semelhante à de uma adolescente de 14 a 15 anos. Segundo ele, a menstruação da menina poderia começar a qualquer momento, devido a níveis hormonais anormalmente elevados. Garud levantou a hipótese de que a exposição frequente a pesticidas armazenados em casa poderia ser um dos principais fatores para o desequilíbrio hormonal.
Essa condição é conhecida como puberdade precoce, caracterizada por mudanças físicas e hormonais que normalmente ocorrem entre 8 e 13 anos nas meninas e entre 9 e 14 anos nos meninos. Segundo o médico, essa alteração tem diversas causas em potencial, incluindo pesticidas, conservantes alimentares, poluição e obesidade.
Vaishakhi Rustegi, pediatra e endocrinologista especializada em adolescentes, observa uma aceleração no desenvolvimento da puberdade nos últimos anos. Segundo ela, enquanto antigamente as meninas menstruavam entre 18 meses e três anos após os primeiros sinais de mudanças físicas, atualmente esse intervalo caiu para três a quatro meses. Nos meninos, características como o crescimento de barba e bigode, que costumavam levar até quatro anos para se manifestar, agora aparecem em um a um ano e meio.
Estudos apontam um aumento significativo nos casos de puberdade precoce. Uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde Reprodutiva e Infantil com 2 mil meninas revelou que muitas mães não reconhecem os sinais da puberdade. Em 2020, o Hospital Bai Jerbai Wadia, em Mumbai, e o Conselho Indiano de Pesquisa Médica organizaram um acampamento para tratar casos de puberdade precoce em meninas de seis a nove anos. Entre as 60 participantes, algumas já estavam próximas de menstruar.
Os médicos destacam a obesidade como um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento precoce, agravado pelo aumento do sedentarismo e da má alimentação durante a pandemia de covid-19. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em 2022, mais de 390 milhões de crianças e adolescentes estavam acima do peso, incluindo 160 milhões com obesidade. Além disso, o uso excessivo de telas, como celulares e televisores, também tem impacto indireto no início da puberdade precoce.
No consultório de Rustegi, são registrados diariamente cinco a seis casos de menstruação precoce em meninas. As filhas de Archana e Rashi estão em tratamento para adiar a menstruação até os 10 ou 11 anos, idade em que se espera maior maturidade para cuidar da higiene pessoal. Médicos alertam que meninas que passam pela puberdade precoce podem enfrentar problemas psicossociais, como bullying e dificuldades com a imagem corporal ao longo da vida.