O presidente Biden fez um pronunciamento à nação na noite de quarta-feira sobre sua decisão de encerrar abruptamente sua campanha e insistiu que permanecerá no cargo até janeiro, apesar das preocupações generalizadas sobre sua capacidade mental.
“Eu reverencio este cargo, mas amo meu país ainda mais”, disse o presidente de 81 anos em um discurso transmitido ao vivo do Salão Oval, sendo suas primeiras declarações extensas sobre sua decisão de domingo de se retirar da corrida e apoiar a vice-presidente Kamala Harris.
“Foi uma honra para mim servir como seu presidente, mas a defesa da democracia – que está em jogo – eu acho que é mais importante do que qualquer título.”
O presidente — que tem estado longe dos holofotes desde que saiu da corrida enquanto se recuperava da COVID-19 — falou com seu filho Hunter, de 54 anos, que esteve presente à esquerda da Mesa Resoluta.
Biden afirmou que decidiu sair da corrida para “unir” os democratas, que se dividiram sobre sua aptidão cognitiva e sua capacidade de enfrentar o candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump.
“Quando vocês me elegeram para este cargo, prometi sempre ser honesto com vocês, dizer a verdade”, disse Biden — apesar de não ter abordado diretamente as preocupações sobre seu aparente declínio mental em seu discurso de 11 minutos.
“Nas últimas semanas, ficou claro para mim que preciso unir meu partido… mas nada pode impedir a salvação da nossa democracia – e isso inclui ambições pessoais”, afirmou Biden.
“Então, decidi que a melhor forma de avançar é passar a tocha para uma nova geração. Essa é a melhor forma de unir nossa nação”, disse ele.
“Vocês sabem, há um tempo e um lugar para longos anos de experiência na vida pública. Há também um tempo e um lugar para novas vozes, vozes frescas — sim, vozes mais jovens. E esse tempo é agora.”
Biden enumerou uma lista de prioridades de governo, incluindo “falar para proteger nossos filhos da violência armada, nosso planeta da crise climática.”
“Vou pedir uma reforma da Suprema Corte porque isso é crítico para nossa democracia, reforma da Suprema Corte”, afirmou ele. “Vocês sabem, eu continuarei trabalhando para garantir que a América permaneça forte, segura e a líder do mundo livre.”
Biden elogiou algumas de suas principais conquistas legislativas, incluindo a legislação sobre COVID-19 e infraestrutura de 2021, assim como projetos que financiaram energia verde e cuidados com veteranos.
“Também estamos garantindo nossa fronteira”, alegou Biden — apesar dos recordes consecutivos de atravessamentos ilegais durante seus primeiros três anos no cargo. “Os atravessamentos na fronteira estão mais baixos hoje do que quando a administração anterior deixou o cargo.”
“Em poucos meses, o povo americano escolherá o rumo do futuro da América. Eu fiz minha escolha. Fiz minhas opiniões conhecidas”, disse Biden — reafirmando seu apoio a Harris, de 59 anos.
“Gostaria de agradecer à nossa grande vice-presidente, Kamala Harris. Ela é experiente. Ela é forte. Ela é capaz. Ela foi uma parceira incrível para mim e uma líder para nosso país. Agora, a escolha é de vocês, o povo americano.”
Biden citou as palavras do Pai Fundador Benjamin Franklin, após sair da Convenção Constitucional de 1787, de que o país seria “uma república, se vocês conseguirem mantê-la.”
“Quando Ben Franklin foi questionado, ao sair da convenção, se os fundadores haviam dado à América uma monarquia ou uma república, a resposta de Franklin foi: ‘Uma república, se vocês conseguirem mantê-la.’”
Biden afirmou que Harris deve derrotar Trump, o ex-presidente de 78 anos, dizendo “Se vamos manter nossa república está agora em suas mãos.”
Biden parecia mais coerente e descansado do que nas últimas semanas, falando claramente enquanto lia de um teleprompter. Ele parecia incomumente bronzeado, com seus cabelos brancos bem penteados.
“Espero que vocês tenham alguma ideia de quão grato sou a todos vocês”, concluiu Biden. “A grande coisa sobre a América é que aqui, reis e ditadores não governam, o povo governa. A história está em suas mãos.”
Biden fez o discurso enquanto republicanos, incluindo o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson (R-La.), exigiam sua renúncia devido a preocupações sobre sua saúde mental, que levaram líderes democratas como a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi (D-Calif.), o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer (D-NY) e o ex-presidente Barack Obama a praticamente forçá-lo a se retirar, apontando pesquisas desanimadoras.
Republicanos têm atacado Harris, argumentando que ela provavelmente sabia e escondeu o declínio de Biden antes de seu desempenho desastroso no debate de 27 de junho, o que desencadeou a rebelião democrática contra ele.
Trump continuou a criticar o presidente de saída, dizendo em um comício em Charlotte, NC, momentos antes do discurso de Biden, que “Biden não sabe que está vivo.”
Horas antes do discurso de Biden, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que Biden estava perfeitamente capaz de servir um segundo mandato e que preocupações com a saúde não influenciaram sua decisão — apesar de Biden ter dito dias antes de sua decisão que apenas um diagnóstico médico poderia convencê-lo a se retirar.
“Olhem, ele não desistiu da campanha ou de se candidatar porque não acredita que pode servir um segundo mandato. Isso não é o motivo”, disse ela — insistindo também que não houve “encobrimento” dos problemas cognitivos de Biden, apesar da percepção generalizada em contrário.
