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A campanha eleitoral do Frente Amplio no Uruguai não contou, pela primeira vez em muitos anos, com seus três líderes históricos. Durante o último período de governo, faleceram o ex-presidente Tabaré Vázquez e o ex-ministro da Economia Danilo Astori, enquanto o ex-mandatário José Mujica teve que enfrentar a recuperação de um câncer no esôfago, o que o afastou das atividades que costumava participar.
Mujica esteve presente em alguns eventos — inclusive apareceu de surpresa no fechamento da campanha de seu setor político — mas não participou com a mesma intensidade de antes. No entanto, ele concedeu algumas entrevistas nas quais falou sobre sua recuperação e opinou sobre os principais assuntos da campanha eleitoral.
“Não posso apagar minha preocupação política. Sou um animal político até o dia em que morrer”, disse o ex-presidente nesta quarta-feira, durante uma entrevista no noticiário VTV Notícias.
Mujica afirmou que sua saúde está “muito melhor”. “Ainda me alimento com um tubo. Os médicos que me trataram da doença no esôfago me disseram: ‘Isso a gente resolve’. E eles estavam certos, mas ficou um buraco que precisa ser preenchido e isso leva tempo. Estou me sentindo bem, a cada dia um pouco melhor. Muito lentamente”, afirmou Mujica.
O líder da esquerda uruguaia destacou que sua esposa, Lucía Topolansky, está o ajudando em sua recuperação. “É um luxo estar perto dos 90”, disse. Ele também ressaltou que tem uma “médica militante” que vai à sua chácara nos arredores de Montevidéu para vê-lo “a cada instante”.
O candidato à presidência pelo Frente Amplio, Yamandú Orsi, é considerado um tipo de herdeiro de Mujica. De fato, o apoio do ex-presidente é o maior impulso em termos de popularidade que o presidenciável recebeu. Orsi é o favorito para as eleições de domingo, embora seja altamente improvável que alcance os 50% dos votos necessários para vencer no primeiro turno.
Durante a campanha eleitoral, Mujica se pronunciou sobre alguns dos temas mais polêmicos. Por exemplo, afirmou que a aprovação de um plebiscito sobre as aposentadorias proposto pela central sindical “seria um caos”. Na entrevista desta quarta-feira, o líder criticou a “pouca preocupação” que observa na maioria dos candidatos com “o crescimento da economia”. Além disso, sustentou que há “pouca visão” sobre a produção no interior do país.
“Somos um país agroexportador. Falam em repartir; um dos candidatos disse que vai reforçar a renda dos aposentados de baixa renda, e tudo mais. Ótimo! Eu aplaudo tudo isso. Mas, de onde vem isso se a economia não cresce? Se o bolo não cresce…”, opinou Mujica.
O governo de Luis Lacalle Pou fez “muitas estradas” durante os cinco anos de governo, destacou Mujica, mas questionou que o custo dessas investidas deve ser pago no futuro. “O próximo governo encontrará uma enorme dívida a ser paga. Portanto, se queremos repartir com a dívida social, a economia tem que crescer. E vejo pouca preocupação”, insistiu.
Mujica reiterou sua oposição ao plebiscito sobre segurança social proposto pelo PIT-CNT, o movimento sindical uruguaio. Se aprovado, seria estabelecido na Constituição a idade de aposentadoria de 60 anos, o salário mínimo seria equiparado à aposentadoria mínima e seriam eliminados os fundos privados de pensões.
“Eu sou contra a lei que está em vigor e contra a solução que o plebiscito pretende apresentar. Compreendo que haja pessoas insatisfeitas, mas não se pode resolver isso pela Constituição. Isso deve ser ajustado por lei. Acredito que o país precisa modificar essa lei, mas o caminho não é o plebiscito”, opinou.