Zelensky Propõe Troca de Territórios se Trump Mediar Acordo com Rússia

O presidente da Ucrânia, Volodímir Zelensky, alertou nesta terça-feira que, se seu homólogo norte-americano, Donald Trump, retirar a ajuda à Ucrânia, a Europa sozinha não será capaz de sustentá-la.

Além disso, o ucraniano afirmou que, se Trump conseguir levar a Ucrânia e a Rússia à mesa de negociações, planeja propor uma troca direta de territórios. Segundo ele, Kiev cederia o território que controla na região russa de Kursk desde o início de uma ofensiva surpresa há seis meses.

“Trocaremos um território por outro”, afirmou Zelensky, embora tenha reconhecido que ainda não sabe qual zona ocupada pela Rússia a Ucrânia exigirá em troca. “Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há prioridade”, acrescentou.

“Há vozes que dizem que a Europa poderia oferecer garantias de segurança sem os Estados Unidos e eu sempre digo que não. As garantias de segurança sem os Estados Unidos não são garantias reais”, disse o presidente ucraniano em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian.

Trump reiterou sua intenção de pôr fim à guerra na Ucrânia, mas os mais céticos temem que um pacto mediado pelos Estados Unidos implique em obrigar Kiev a ceder às demandas maximalistas do presidente russo, Vladímir Putin.

Por isso, Zelensky afirmou estar preparado para negociar, desde que a Ucrânia esteja em uma “posição de poder”, e sugeriu que tentaria manter Trump ao seu lado oferecendo contratos lucrativos para a reconstrução e concessões de investimentos em seu país para empresas norte-americanas.

“Aqueles que nos ajudam a proteger a Ucrânia terão a possibilidade de renovar seus investimentos com suas empresas, junto com as empresas ucranianas. Estamos prontos para falar sobre todas essas questões em detalhes”, acrescentou o presidente ucraniano.

Em uma entrevista à Fox News, Trump disse que, em compensação pela ajuda fornecida à Ucrânia, quer ter acesso prioritário aos minerais de “terras raras” de um país que possui as maiores reservas de urânio e titânio da Europa.

Em resposta, Zelensky comentou ao The Guardian que “não está nos interesses dos Estados Unidos” que esses minerais caiam nas mãos russas e, potencialmente, sejam compartilhados com a Coreia do Norte, China ou Irã.

“Não estamos falando apenas de segurança, mas também de dinheiro. Recursos naturais valiosos nos quais podemos oferecer aos nossos parceiros possibilidades de investimento que antes não existiam… Para nós, isso criará empregos, para as empresas dos EUA, criará lucros”, acrescentou.

Questionado sobre uma possível reunião com Trump, Zelensky assegurou que “ainda não há uma data”, embora as equipes de ambos os líderes estejam trabalhando para ajustar as agendas.

Essas declarações acontecem poucos dias antes da Conferência de Segurança de Munique (Alemanha), que começa nesta sexta-feira, onde se espera que Zelensky se encontre com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, um dos mais críticos da Administração Trump em relação à guerra na Ucrânia.

A guerra na Ucrânia e a expectativa em torno de um possível plano dos EUA para pôr fim a ela marcarão a Conferência de Segurança de Munique, segundo o diretor do evento, Christoph Heusgen.

“Temos que ouvir ambos para ver se apresentam um plano de paz para a Ucrânia”, disse Heusgen.

Ele destacou, por outro lado, que todo plano de paz deve incluir garantias de segurança, pois não há nada que assegure que, caso o presidente russo aceite um acordo, ele realmente o respeitará.

“Digo isso como alguém que participou dos acordos de Minsk, que poderiam ter sido uma possibilidade de paz, mas Putin os atropelou. O mesmo aconteceu com outros acordos, pensem no Memorando de Bucareste ou na Carta de Paris”, acrescentou.

“O lema da conferência é a paz por meio do diálogo. Mas enquanto Putin não reconhecer o governo de Zelensky, consideramos que não há base para o diálogo”, disse Heusgen.

Heusgen opinou que “acho que raramente chegamos a uma Conferência de Segurança em uma situação tão tensa, se olharmos todos os conflitos no mundo. Para encontrar uma situação parecida, seria preciso voltar aos primórdios da Conferência de Segurança, à crise de Cuba ou à construção do muro de Berlim”, afirmou.

(Com informações da EFE)