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“Não Vai Ter Golpe“, documentário produzido pelo Movimento Brasil Livre, exibido em pré-estreia em São Paulo na última segunda feira, é um documento precioso para quem quiser relembrar uma página relevante da história recente do Brasil e para quem pretende compreender o ativismo político na segunda década do século 21: a política nos tempos de redes sociais.
Contando a história da formação do grupo – que deveria ser apenas uma produtora de conteúdo para a internet – e a forma, inesperada e completamente improvisada, como foi feita a primeira manifestação de rua contra o PT, o filme mostra o embrião do que viria a ser o maior, mais plural e mais vigoroso movimento de massas já visto por aqui – tendo o MBL como um de seus protagonistas: e a importância de outros grupos, com visões inicialmente distintas, não é esquecida.
Os bastidores das articulações no Congresso Nacional, a maneira como Eduardo Cunha se utilizou do movimento para, enquanto pôde, chantagear o governo e tentar livrar-se de seu próprio destino e a forma como a suposta oposição – com Aécio Neves e boa parte do PSDB à frente – de tudo fez para frustrar o movimento pela destituição da presidente – são mostrados com detalhes. Os argumentos e motivos que fizeram com que o grupo abrisse mão do seu próprio pedido de impeachment em favor do redigido pela advogada Janaína Paschoal é outro fato relevante: e o protagonismo de Janaína no processo é, justamente, enaltecido.
Com muitas imagens das grandes manifestações e muitas filmagens caseiras entrecortadas por depoimentos atuais, o documentário chega a seu ápice ao retratar o dia 17 de Abril de 2016, quando a Câmara dos Deputados votou pela admissibilidade do pedido de impeachment, fato que, na prática, selou o destino de Dilma Rousseff e colocou fim a mais de treze anos de PT no poder.
Para quem presenciou, participou, esteve lá, é muito emocionante.
Faço apenas duas pequenas ressalvas.
A primeira é sobre uma informação errada, logo na introdução, em texto lido por Fernando Holiday, que dá a entender que o Foro de São Paulo – organismo transnacional que congrega partidos e organizações de esquerda da América Latina – foi fundado depois (ou mesmo em consequência) da eleição de Lula: na verdade a fundação do Foro de São Paulo aconteceu 12 anos antes, em 1990.
A outra é a indesculpável ausência de uma das mais emblemáticas cenas ocorridas durante o período das grandes manifestações: Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que de tudo fizeram para inviabilizar o andamento do processo de impeachment, mas que no final, quando o movimento já se tornara gigantesco e irresistível, tentaram pegar carona, sendo expulsos por populares da Avenida Paulista no ato de 13 de Março de 2016 – a maior de todas as manifestações -, quando tentavam justamente chegar ao caminhão do MBL para discursar.
O documentário é sobre política: e sobre a defesa explícita e pragmática da atividade política como único meio de ação, repudiando todas as teses golpistas (vem disso a ironia do título) e arroubos revolucionários.
Traz também o que o MBL tem de melhor: o bom humor, a zoeira, a capacidade de improvisar, de admitir erros e se corrigir e de rir de si mesmo. Em um tempo em que o debate político é constantemente dominado por uma massa amorfa, ignorante, fanatizada e que se orgulha de ser desagradável, é um alívio lembrar que, sim, pode ser diferente.
Ao notarmos, três anos após o impeachment, o Brasil muito (muito!) distante da normalidade institucional, da pacificação social e da serenidade que todos desejamos para que possamos, enfim, viver em paz e encontrarmos nosso destino enquanto nação, é bom saber que o MBL continua vivo, ativo, se renovando, se reinventando, amadurecendo e ganhando espaços.
Nunca se sabe quando precisaremos deles de novo.
E eles têm um know-how valioso.