Nesta quarta-feira (21) o presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou que deseja acompanhar o ex-presidente da Bolívia Evo Morales na posse de Luis Arce. O presidente esquerdista também acusou a Organização dos Estados Americanos (OEA) de compactuar em um “golpe de Estado” para tirar Morales do poder em 2019.
“Gostaria de ir à posse de ‘Lucho’ Arce. Meu maior desejo é acompanhar Evo no retorno da Argentina à sua pátria”, declarou Fernández à rádio El Destape. O peronista comemorou que “a democracia voltou na Bolívia, porque é um instrumento muito importante para transformar as injustiças do continente”.
O socialista ainda destacou que para ele, Evo Morales fora quem ganhou as eleições presidenciais em 2019:
“Estou convencido de que Evo Morales ganhou as eleições (em 2019), mas o tiraram do poder e o obrigaram a se exilar com risco de vida, assim como muitos bolivianos que precisaram escapar”, afirmou Fernández.
Na análise do presidente argentino “o golpe (de Estado) na Bolívia foi um evento muito traumático para a região”. “Com a cumplicidade da OEA, construíram uma mentira para tirar Evo do poder, devemos celebrar que a democracia foi recuperada na América Latina”, disse Fernández.
Depois da declaração de Fernandéz à rádio, Morales anunciou que seu retorno à Bolívia ainda não está programado. O ex-presidente mandou os bolivianos que manterem a unidade e previu que a contagem final dará à Luis Arce uma vitória “de mais de 55% dos votos” nas urnas.
“Em uma comunidade indígena, chegamos aos 99%, em minha aldeia onde nasci, aos 99,2”, comemorou Morales, enquanto uma lenta recontagem oficial atribui a Arce mais de 53% dos votos, com 84% das urnas apuradas.
Morales renunciou ao cargo de presidente da Bolívia em 10 de novembro de 2019, sob pressão das Forças Armadas por conta de uma crise desencadeada após uma auditoria da OEA ter estabelecido que houve “manipulação dolosa” a favor de Morales na eleição em que buscava seu quarto mandato consecutivo.
Na época da apuração da eleição, Morales era apontado como na frente de seu rival, Carlos Mesa, mas a contagem foi interrompida por alguns dia e, quando voltou, a margem entre o presidente e o opositor se alongou. A direita boliviana acusou Morales de cometer fraude, enquanto os partidários de Morales disseram que a contagem foi pausada devido à demora das cédulas serem contadas em regiões distantes e de difícil acesso.
“Não tem como ocultar o que aconteceu nas eleições”, disse o ex-presidente, ao se referir às eleições. “Se Luis Almagro tivesse alguma ética e moral, deveria renunciar à OEA”, afirmou Morales sobre o secretário-geral da OEA, considerando-o “responsável pelo golpe” de Estado em seu país.
Atualmente Morales está exilado e viajou primeiro para o México e depois para a Argentina, onde vive como refugiado político.
Almagro, por sua vez, parabenizou Arce por sua vitória no domingo e desejou “sucesso em seus trabalhos futuros”, enquanto elogiou a “conduta cívica” do povo boliviano.
“A Organização dos Estados Americanos sempre defendeu a vontade popular na Bolívia, expressa através de eleições livres. Um dia como o de hoje é uma oportunidade para avançar na construção de um país mais inclusivo e tolerante”, disse a OEA em comunicado.
No último domingo, as urnas já davam vitória a Arce, tanto que o rival Carlos Mesa admitiu a derrota. Na quarta, com 87,8% das urnas apuradas, o partidário de Morales recebeu 54,41% dos votos, enquanto Mesa está com 29,34%. Na Bolívia, o candidato que tiver uma vantagem de 10% em relação ao oponente é eleito em primeiro turno.