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“A morte não é o fim de tudo, mas o começo de algo. É um novo começo”, escreveu o Papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. A frase faz parte de um texto inédito divulgado por veículos de imprensa italianos, adquirindo um significado especial após sua partida.
O texto é o prefácio do livro “À Espera de um Novo Começo: Reflexões sobre a Velhice”, do cardeal Angelo Scola, arcebispo emérito de Milão, que será lançado nas livrarias nesta quinta-feira (24), pela Libreria Editrice Vaticana.
Datado de 7 de fevereiro, o texto é uma reflexão pessoal do Papa sobre o significado da velhice, o valor da experiência e a esperança cristã na vida eterna. Foi escrito algumas semanas antes de sua internação por uma pneumonia bilateral, doença que o manteve hospitalizado por 38 dias, até 23 de março. Nas suas palavras, Francisco refletiu profundamente sobre sua fase de vida, entrelaçando sua própria experiência com o pensamento de seu “querido irmão no episcopado”.
“O título diz com sabedoria: é um novo começo, porque a vida eterna, que aqueles que amam já experimentam na Terra nas ocupações cotidianas, é o início de algo que não terá fim. E é precisamente por isso que é um ‘novo’ começo, porque viveremos algo que nunca experimentamos plenamente: a eternidade”, escreveu o Papa argentino, que encontrou no livro de Scola “uma combinação rara de experiência pessoal e sensibilidade cultural”.
Francisco ressaltou que envelhecer não é um problema em si mesmo, mas uma oportunidade espiritual e humana, dependendo de como vivemos. “É verdade que envelhecemos, mas esse não é o problema: o problema é como envelhecemos”, apontou. “Se acolhemos com gratidão e reconhecimento o tempo (mesmo longo) em que experimentamos a diminuição das forças, o aumento do cansaço corporal, os reflexos que já não são os mesmos da juventude, então, até a velhice se torna uma idade de vida.”
Em um trecho particularmente significativo, Francisco defendeu o uso do termo “velho”, o mesmo utilizado por Scola para se descrever. “Não devemos ter medo de aceitar o envelhecimento, porque a vida é vida e adoçar a realidade significa trair a verdade das coisas. Devolver o orgulho a um termo que com frequência é considerado indesejável é um gesto que devemos agradecer ao cardeal Scola”, escreveu. “Dizer ‘velho’ não significa ‘ser descartado’, como às vezes nos faz pensar uma cultura degradada do descarte”, acrescentou, em uma crítica direta aos valores dominantes. “Dizer velho, ao contrário, significa dizer experiência, sabedoria, conhecimento, discernimento, reflexão, escuta, lentidão… Valores que precisamos desesperadamente!”
O Papa também abordou o papel dos avós nas sociedades contemporâneas, destacando sua importância para o desenvolvimento integral dos jovens. “O papel dos avós é de fundamental importância para o desenvolvimento equilibrado dos jovens e, em última instância, para uma sociedade mais pacífica, porque seu exemplo, suas palavras, sua sabedoria podem incutir nos mais jovens uma visão de longo prazo, a memória do passado e o ancoramento em valores que perdurem”, afirmou.
A dimensão espiritual ocupa um lugar central no texto. Francisco elogiou as palavras de Scola sobre o sofrimento e a morte, que definiu como “joias preciosas de fé e de esperança”. Mencionou como referências teológicas as obras de Hans Urs von Balthasar e Joseph Ratzinger, duas figuras que marcaram seu pensamento. Afirmou que o texto nasce não apenas do intelecto, mas também “do afeto”, porque “o cristianismo não é tanto uma ação intelectual ou uma escolha moral, mas sim o afeto por uma Pessoa, aquele Cristo que veio ao nosso encontro”.
A carta se encerra com uma imagem carregada de simbolismo. Francisco evocou o momento em que se vestiu com o hábito papal na Capela Sistina, em março de 2013, e expressou seu desejo de voltar a abraçar “com grande estima e afeto” o cardeal Scola. “Agora, ambos, mais velhos do que naquele dia… mas sempre unidos pela gratidão a esse Deus amoroso que nos oferece vida e esperança em qualquer idade da nossa vida.”
