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Um novo estudo da Universidade da Virgínia (UVA) aponta que milhões de pessoas que passaram por experiências de quase morte (EQMs) estão sendo deixadas sem apoio adequado, sentindo-se isoladas e desamparadas após vivenciarem eventos que desafiam a compreensão da realidade.
As EQMs ocorrem geralmente durante crises médicas graves e costumam incluir sensações fora do corpo, encontros com seres espirituais, lembranças de toda a vida, paz profunda e até a percepção de ter visitado outro plano de existência.
Embora muitos descrevam essas experiências como transformadoras e marcadas por uma sensação intensa de amor incondicional, o retorno à vida cotidiana pode ser doloroso e confuso. Diversos sobreviventes relatam depressão, raiva e uma profunda saudade do que chamam de “lar espiritual”.
Falta de acolhimento e ceticismo médico
De acordo com o estudo, cerca de 10% dos norte-americanos — o equivalente a 34 milhões de pessoas — afirmam já ter passado por uma EQM. No entanto, a maioria encontra ceticismo e falta de empatia por parte dos profissionais de saúde ao buscar ajuda.
“Nem toda pessoa que tem uma experiência de quase morte enfrenta dificuldades para compreendê-la”, explicou a psiquiatra Marieta Pehlivanova, autora principal da pesquisa e professora de ciências neurocomportamentais da UVA.
“Mas o que constatamos é que, quanto mais intensa a EQM, maior a probabilidade de ela transformar profundamente a vida do indivíduo”, afirmou à imprensa americana.
Pehlivanova destacou que muitos sobreviventes descrevem a experiência como “mais real que a própria vida”, lembrando-a com detalhes mesmo décadas depois.
O levantamento também mostrou que 64% dos participantes buscaram algum tipo de apoio — seja psicológico, espiritual ou em comunidades online — e 78% deles consideraram a ajuda útil.
Apoio e acolhimento são essenciais
O fator mais determinante para uma recuperação saudável, segundo a pesquisa, é a reação das pessoas ao ouvir o relato. Uma resposta positiva e acolhedora aumenta significativamente as chances de o sobrevivente conseguir integrar a experiência em sua vida.
Outros fatores que favorecem a recuperação incluem boa saúde mental prévia, infância feliz e o contato com grupos especializados, como a Associação Internacional de Estudos de Experiências de Quase Morte (IANDS), que conecta pessoas com vivências semelhantes.
“A primeira atitude deve ser validar o que o outro viveu — ouvir sem tentar desmentir, diagnosticar ou impor crenças”, enfatizou Pehlivanova. “É fundamental criar um espaço seguro para que o relato possa ser compartilhado com respeito.”
Histórias de quem voltou da morte
O estudo também reuniu relatos emocionantes de pessoas transformadas pelas EQMs.
Uma delas é Brianna Lafferty, de 25 anos, que teve o coração parado por oito minutos após uma complicação médica. Ao retornar, ela descreveu ter aprendido que “a morte é uma ilusão”.
Diagnosticada com uma rara doença neurológica, Brianna contou que a experiência eliminou o medo da morte e a fez enxergar a vida com um novo propósito.
Outro caso é o de Pegi Robinson, que passou por uma gravidez ectópica e relatou ter “morrido e ido ao céu”, onde pediu a Deus para voltar aos filhos pequenos.
“Percebi que não existe morte. Nunca estamos sozinhos”, disse. A experiência, segundo ela, a transformou em uma pessoa mais grata e confiante na presença divina.
O desafio da reintegração
Os pesquisadores ressaltam que muitas dessas pessoas enfrentam mudanças profundas de valores e prioridades após o episódio. Alguns perdem o interesse pelo antigo trabalho ou relações, enquanto outros têm dificuldade em expressar o que viveram, o que amplia o sentimento de isolamento.
Em contrapartida, uma parcela dos participantes afirmou não precisar de ajuda externa, mostrando força e capacidade de adaptação.
Outros, porém, evitam buscar apoio por medo de serem julgados, ridicularizados ou rotulados como “loucos” — um reflexo, segundo os autores, da falta de preparo do sistema de saúde para lidar com esse tipo de experiência.
O estudo, publicado na revista APA PsychNet, conclui que reconhecer e legitimar as experiências de quase morte é o primeiro passo para oferecer suporte emocional e psicológico eficaz.
“Essas vivências são profundamente humanas”, conclui Pehlivanova. “Negá-las é negar a oportunidade de compreender melhor a mente, a consciência e o próprio sentido da vida.”