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O ex-presidente uruguaio José Mujica afirmou que o que ocorreu nas eleições da Venezuela no último domingo não é “crível” e se distanciou de um comunicado do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN), que parabenizou Nicolás Maduro pela vitória em um “ato eleitoral exemplar”. Em declarações à revista Búsqueda, Mujica expressou suas “dúvidas” em relação ao resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
“Depois vou falar publicamente sobre a Venezuela, quando houver mais informações. Mas não há informações críveis sobre o que aconteceu nas eleições em lugar nenhum, nem de um lado nem do outro”, assegurou.
Mujica pede mais informações, uma posição semelhante à do Frente Amplio, a coalizão de esquerda uruguaia. Esse grupo político afirmou que “aguarda a publicação, por parte do Conselho Nacional Eleitoral, de todas as atas com os dados desagregados por mesa eleitoral, um elemento fundamental para a transparência, credibilidade e legitimidade dos resultados da eleição”.
Mujica também se distanciou do comunicado do MLN, a organização da qual foi fundador e é um dos líderes históricos. Na madrugada de segunda-feira, esse movimento saudou o “povo venezuelano” por um “ato eleitoral exemplar” e destacou que “decidiu continuar o caminho da paz no projeto bolivariano de soberania e justiça social”.
“A derrota do projeto golpista da direita continental e do imperialismo norte-americano se transforma ainda em um marco da indispensável integração dos povos da Pátria Grande”, dizia o texto.
Mujica, que está em casa se recuperando de um tratamento médico contra um tumor no esôfago, afirmou que não tem “nada a ver” com esse comunicado. O ex-presidente ressaltou que não participou da redação do comunicado e nem foi consultado antes da sua divulgação pública. Ele insistiu que “não o representa” e que sua posição sobre o que aconteceu no domingo é diferente.
O comunicado do MLN é um dos poucos cumprimentos à vitória anunciada de Maduro que houve no Uruguai. O presidente Luis Lacalle Pou foi um dos primeiros a condenar o ocorrido: “Assim não!”, escreveu o presidente uruguaio na rede social X.
As críticas ao regime de Maduro não são novas; Mujica já o definiu como um governo autoritário que “passou para o outro lado”. “A desgraça da Venezuela é que tem muito petróleo e se sente cercada. E tem um governo autoritário que passa para o outro lado. Mas eu aprendi uma coisa: em uma praça sitiada, qualquer discrepante é um traidor”, disse à imprensa.
Quando questionado sobre se há uma ditadura na Venezuela, Mujica respondeu: “Onde se origina o conceito de ditadura? Era uma decisão do Império Romano quando as coisas esquentavam. Concentravam o poder e davam a um só para comandar. Nada de discordar nem nada. Ordem fechada, porque em momentos de perigo não se pode discutir, tem que haver um que mande. Foi aí que se inventou a figura do ditador.”
E acrescentou: “Na Venezuela há um governo autoritário. Chame de ditadura, chame como quiser.”
O ex-presidente uruguaio Julio María Sanguinetti também criticou as eleições do último domingo, classificando-as como “fraude”. “As atas que vazaram, os boca de urnas que existem, as análises feitas pelas empresas de pesquisa são contundentes. Houve uma enorme fraude”, disse o ex-presidente uruguaio (1985-1990; 1995-2000) no noticiário do Canal 5.
“É triste, lamentável, porque adiciona à ilegalidade a essa coisa de farsa, que gera indignação, desacredita e nos mostra mais um degrau infeliz no processo da Venezuela. É também uma situação perturbadora a nível continental porque voltamos a que o silêncio nisso é cumplicidade. E não pode haver cumplicidade diante da falta de democracia”, acrescentou Sanguinetti.