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Neste domingo (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, destacando a ineficiência das medidas globais adotadas pela instituição, especialmente no que diz respeito às mudanças climáticas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em um tom crítico, Lula afirmou que, apesar dos avanços serem “louváveis e significativos”, as ações continuam insuficientes. “Nos faltam ambição e ousadia”, declarou.
Lula fez duras críticas ao andamento dos ODS, que foram estabelecidos pela ONU como parte da Agenda 2030, com metas que incluem a erradicação da pobreza, a redução da desigualdade e a proteção do meio ambiente. Segundo o presidente, apenas 17% das 17 metas devem ser alcançadas dentro do prazo estipulado, tornando o projeto “o maior fracasso coletivo” das últimas décadas.
O presidente também apontou a falta de autoridade e meios eficazes das instituições multilaterais para implementar suas decisões, destacando a perda de relevância de importantes órgãos da ONU. “A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade, e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado”, disse Lula, acrescentando que o Conselho de Segurança da ONU tem sua legitimidade cada vez mais questionada por aplicar “duplos padrões” em suas decisões e se omitir em momentos críticos.
Durante seu discurso, Lula ressaltou que a pandemia, os conflitos armados na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e as mudanças climáticas evidenciaram as limitações dos organismos multilaterais. Antes de ter seu microfone cortado ao ultrapassar o tempo limite, o presidente afirmou que o Sul Global, que reúne países em desenvolvimento, continua sub-representado nas discussões globais, apesar de seu crescente peso político no cenário internacional.
Leia o discurso do presidente na íntegra
Agradeço ao Secretário-Geral António Guterres pela iniciativa de promover esta Cúpula do Futuro.
Cumprimento a Alemanha e a Namíbia, por meio do chanceler Olaf Scholz e do presidente Nangolo Mbumba, por conduzirem o processo que nos trouxe até aqui.
Há quase vinte anos, o então Secretário-Geral Kofi Annan nos convidou a pensar em como revigorar o multilateralismo para fazer frente aos desafios do novo milênio.
Naquela ocasião, ressaltei nesta tribuna a necessidade de reformas para que a ONU pudesse cumprir seu papel histórico.
Aquela reflexão conjunta rendeu frutos como a Comissão de Consolidação da Paz e o Conselho de Direitos Humanos.
Outras ideias não saíram do papel.
Temos duas grandes responsabilidades perante aqueles que nos sucederão.
A primeira é nunca retroceder.
Não podemos recuar na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação.
Tampouco podemos voltar a conviver com ameaças nucleares.
É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência.
Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso.
Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornarem nosso maior fracasso coletivo.
No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo.
Na presidência do G20, o Brasil lançará uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza para acelerar a superação desses flagelos.
Na COP28 do Clima, o mundo realizou um balanço global da implementação das metas do Acordo de Paris.
Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro.
Em parceria com o Secretário-Geral, como preparação para a COP30, vamos trabalhar por um balanço ético global, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade.
Nossa segunda responsabilidade comum é abrir caminhos diante dos novos riscos e oportunidades.
O Pacto para o Futuro nos aponta a direção a seguir.
O documento trata de forma inédita temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação internacional.
A criação de uma instância de diálogo entre Chefes de Estado e de Governo e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial.
O Pacto Global Digital é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva, que reduza as assimetrias de uma economia baseada em dados e mitigue o impacto de novas tecnologias como a Inteligência Artificial.
Todos esses avanços serão louváveis e significativos.
Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia.
A crise da governança global requer transformações estruturais.
A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais.
A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões.
A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado.
A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades.
As instituições de Bretton Woods desconsideram as prioridades e as necessidades do mundo em desenvolvimento.
O Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico.
A Carta da ONU não faz referência à promoção do desenvolvimento sustentável.
Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos.
O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão.
Muito obrigado.