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Em entrevista à revista Veja, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou que participou de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) para ‘salvar o Brasil’.
Segundo ele, o encontro teria acontecido no dia 9 de dezembro do ano passado.
Na reunião, o ainda presidente pediu que Marcos do Val gravasse conversas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
De acordo com Do Val, o plano de Bolsonaro e Silveira era flagrar Moraes falando algo comprometedor e usar a gravação como argumento para prender o ministro do STF, anular as eleições, impedir a posse de Lula e manter o ex-presidente no poder.
“Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis”, disse Do Val ao comentar sobre a reação que teve ao receber a proposta de gravar Moraes.
O senador foi indagado pela Veja que “gravar um ministro, por si só, pode ser um crime, mas não é um golpe”. Do Val respondeu:
“A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi”.
Em seguida, Marcos do Val afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro falou tudo isso para ele.
“O senhor sempre foi um aliado do ex-presidente. Ficou assustado por quê?”, questionou a Veja.
“Sou um parlamentar que representa o espectro político de direita e o presidente nunca mostrou qualquer intenção em atuar fora das quatro linhas. A relação dele com o deputado Daniel acabou ficando muito próxima, principalmente depois que o presidente concedeu a ele a anistia pela condenação naquele processo do Supremo. Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu. O Daniel estava lá instigando e o presidente comprou a ideia. Não consigo imaginar alguém vindo ao meu gabinete para tratar de um assunto desse. Uma coisa meio irracional”, respondeu Do Val ao jornal.
“Por que razão o senhor acredita que foi escolhido para essa missão?”, questionou a revista.
“Me fiz essa pergunta várias vezes. Aliás, fiquei surpreso ao saber que o presidente queria falar comigo. Foi a primeira vez que nos encontramos fora de uma solenidade oficial. Muita gente sabe que tenho uma ligação com o ministro Alexandre de Moraes. Quando ele foi secretário de Segurança de São Paulo e o Geraldo Alckmin era governador, fui contratado para dar treinamento para a polícia paulista. Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita”, respondeu o senador.