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Durante celebrações em preparação ao seu 90º aniversário, o líder espiritual do budismo tibetano, Dalai Lama, afirmou nesta quarta-feira (2) que a instituição que representa continuará existindo após sua morte. A declaração encerra anos de especulações sobre o fim da linhagem iniciadas pelo próprio líder, que já havia sugerido que poderia ser o último a ocupar o cargo.
Em mensagem gravada e transmitida durante uma cerimônia religiosa em Dharamshala, na Índia — onde vive desde que fugiu do Tibete após a repressão chinesa em 1959 —, o Dalai Lama reforçou que sua reencarnação deverá ser identificada conforme os rituais tradicionais do budismo tibetano e que a China não deve interferir nesse processo.
“A busca por um futuro Dalai Lama deve seguir a tradição passada”, afirmou. “Ninguém mais tem autoridade para interferir neste assunto”, declarou, ressaltando que essa missão cabe exclusivamente ao Gaden Phodrang Trust, organização que ele próprio fundou em 2015 para lidar com os assuntos da liderança espiritual.
A sucessão do Dalai Lama é um tema sensível não só para os tibetanos que vivem sob o controle rígido da China, como também para os milhões de budistas tibetanos que veem o líder como a manifestação viva de Chenrezig, o bodisatva da compaixão.
Disputa com a China
O anúncio deve aumentar as tensões com o governo chinês, que insiste que apenas Pequim tem autoridade para aprovar o sucessor do Dalai Lama. A China exige que a nova encarnação seja localizada dentro das regiões tibetanas sob sua administração, o que permitiria ao Partido Comunista controlar diretamente o processo de seleção.
Questionada sobre o posicionamento do Dalai Lama, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que a sucessão deve ocorrer “com aprovação do governo central”, obedecendo “rituais religiosos, contexto histórico e as leis nacionais”.
Muitos analistas internacionais preveem a possibilidade de surgirem dois Dalai Lamas no futuro: um reconhecido por Pequim e outro indicado por líderes espirituais tibetanos leais ao atual líder exilado.
Direito à liberdade religiosa
Para organizações de direitos humanos, a tentativa de interferência chinesa no processo é vista como uma violação à liberdade religiosa. “Os budistas tibetanos devem poder escolher seus líderes espirituais sem coerção ou interferência do governo”, afirmou Sarah Brooks, diretora da Anistia Internacional na China.
O Dalai Lama já pediu reiteradas vezes que seus seguidores rejeitem qualquer figura imposta pelo regime chinês. O governo tibetano no exílio, sediado em Dharamshala, também reforçou essa orientação após o anúncio.
Penpa Tsering, presidente do governo tibetano no exílio, declarou que a decisão de manter a instituição veio após “um pedido sincero e devoto” de tibetanos ao redor do mundo. “Em resposta a esse apelo esmagador, Sua Santidade demonstrou compaixão infinita e aceitou continuar a linhagem nesta ocasião especial de seu 90º aniversário”, disse.
Tsering alertou ainda que a sucessão é uma “tradição exclusivamente budista tibetana” e criticou duramente as tentativas chinesas de explorar a reencarnação do Dalai Lama para fins políticos. “Condenamos firmemente e jamais aceitaremos esse tipo de manipulação pela República Popular da China”, concluiu.
Segundo a tradição budista tibetana, a busca pelo novo Dalai Lama só começa após a morte do líder atual. O processo pode levar anos e envolve sinais espirituais, visões e testes até que uma criança seja reconhecida como a reencarnação e preparada para assumir o papel.
