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Pandemia agrava ansiedade em adolescentes franceses e alimenta fenômeno da “fobia escolar”

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RFI – O retorno às aulas presenciais para todos os estudantes franceses em setembro, após um longo período de aulas à distância, acabou amplificando o estresse de alunos sensíveis, que enfrentam agora dificuldade para acompanhar o ritmo normal de aprendizado. O ministério francês da Educação faz atualmente uma pesquisa nos colégios para quantificar o fenômeno das crises de ansiedade e fobias, que aumentaram significativamente entre adolescentes de 11 a 17 anos desde o início da pandemia de Covid-19.

Segundo a associação Fobia Escolar (Phobie Scolaire), que orienta pais sobre esse problema desde 2008, 25% dos alunos do 6° ao 9° ano e do ensino médio têm medo de ir à escola na França, por razões diversas. Esse comportamento já era notado antes da pandemia. Alguns detestam ir à escola por timidez, por dificuldades para fazer amigos, outros porque lidam mal com a pressão para ter boas notas ou porque são vítimas de bullying. Mas o que preocupa é que esse número, já expressivo, tem aumentado.

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Em poucos meses, o número de pais que se inscreveram nessa associação para receber ajuda passou de 7 mil para 10 mil famílias. O sindicato nacional das enfermeiras que trabalham nos colégios e liceus franceses (Snics-FSU) confirma “uma explosão” dos pedidos de autorização de alunos para ir embora para casa no meio do dia de aula, o que teoricamente é proibido, mas elas acabam cedendo porque veem os adolescentes passando mal. 

Alguns estudantes, em grande dificuldade, desmaiam na classe, outros desaparecem entre uma aula e outra, apavorados com a possibilidade de serem chamados a responder a alguma pergunta dos professores ou ter de fazer uma atividade em grupo.

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Ambiente mais agressivo

O sindicato das enfermeiras escolares nota que a pandemia gerou um aumento da agressividade entre os alunos, induzida pelo clima generalizado de ansiedade e também pelas medidas restritivas, que tornaram a máscara obrigatória em sala de aula e obrigam crianças e adolescentes a ficarem distantes uns dos outros e a obedecer a uma série de rituais sanitários que perturbam os mais sensíveis. 

Muitos alunos alegam que não têm mais motivação para aprender e que a pandemia mexeu demais com o ritmo de vida deles no cotidiano. Os mais frágeis se sentem desmotivados e deprimidos. Paralelamente, vários casos de suicídio de meninos e meninas de 11, 14, 17 anos, vítimas de bullying de colegas de classe ou nas redes sociais, não tornam o ambiente escolar muito atraente nesse momento. 

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Hospital em Paris nota aumento das tentativas de suicídio

Não há estatísticas oficiais vinculando o suicídio de adolescentes franceses à pandemia, nem ao bullying na escola ou nas redes sociais. Mas uma associação criada por um francês de 22 anos, Hugo Martinez, que foi vítima de bullying no ambiente escolar durante 12 anos, contabiliza casos relatados na imprensa desde o início do ano e aponta 20 suicídios de adolescentes relacionados com bullying, em 2021. Esse número é contestado por alguns especialistas, que consideram que nem todos os casos compilados foram comprovados como bullying. 

Por outro lado, um estudo recente publicado por psiquiatras franceses do Hospital Robert Debré, em Paris, que tem um pronto-socorro especializado no atendimento de crianças e adolescentes, nota uma clara tendência de aumento das tentativas de suicídio nos últimos dois anos.

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Pouco antes de 2020, o número de adolescentes que tentaram se matar e foram atendidos neste hospital do norte de Paris já tinha quase dobrado. Este ano, só esta unidade de psiquiatria infantil tem registrado em média 40 internações por tentativa de suicídio de adolescentes por bimestre, o que é o dobro de antes de 2020, e até quatro vezes mais do que no período de 2011 a 2017. 

Os autores desse estudo atribuem essa alta a um duplo fenômeno: uma longa tendência de aumento das tentativa de suicídio entre jovens, que vinha se manifestando desde 2016, e uma forte aceleração durante a pandemia. De acordo com o psiquiatra Richard Delorme, um dos autores dessa publicação, “há uma correlação positiva entre as tentativas de suicídio entre os mais jovens e a epidemia, mas as causas exatas são desconhecidas”. O estudo aponta várias hipóteses, “como a sensibilidade específica das crianças às medidas preventivas, a deterioração da saúde ou da situação econômica da família, o aumento do tempo passado diante das telas de computador ou celulares, a dependência das redes sociais ou o luto” de uma pessoa querida. 

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Esses dados, recentemente publicados na revista da associação médica americana (The Journal of the American Medical Association), não podem ser estendidos para toda a França, mas impressionam especialistas preocupados com os efeitos deletérios da pandemia na saúde mental de crianças e adolescentes.

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