Karla Rubilar, ex-porta-voz do segundo governo de Sebastián Piñera e uma funcionária muito próxima dele, afirmou na noite desta terça-feira (6), em entrevista ao Canal 24, que as últimas palavras do ex-presidente foram com a intenção de salvar a vida daqueles que o acompanhavam, após o capotamento do helicóptero que ele pilotava no Lago Ranco.
“Saltem vocês primeiro, porque se eu saltar com vocês, o helicóptero cai em cima de vocês”, disse.
Segundo Rubilar, foi Magdalena Piñera, apelidada de “Pichicha”, sobrevivente do acidente, quem revelou isso na noite desta terça-feira, durante a vigília do ex-presidente em Valdivia (850 km ao sul de Santiago).
A também ex-ministra de Desenvolvimento Social afirmou que apenas um dia antes, Piñera havia solicitado a colaboração de seus amigos para ajudar na reconstrução da região de Valparaíso, devastada por um grande incêndio no último fim de semana.
“Ontem o presidente (Piñera) nos pediu para ajudar este governo, legitimamente, de forma muito discreta. Ele nos disse ‘não contem isso, vamos ficar quietos, ajudemos o presidente na reconstrução, coloquemo-nos à disposição’. Ele nos pediu para ligar para os ministros, ele nos pediu para escrever. E por que eu conto isso? Porque esse era ele”, disse Rubilar.
Visivelmente emocionada, ela relatou que Magdalena Piñera, irmã do ex-presidente e uma das sobreviventes do acidente, teria revelado extraoficialmente as últimas palavras do ex-chefe de Estado.
“Agora nós sabemos das declarações da Pichita, perdão, mas esse era o presidente Piñera. Aquele que nos disse ontem, ‘ajudem este governo, não importa como tenha sido a oposição, ajudem-no, porque o Chile vem primeiro’ (…) o homem que diz a eles, ‘saltem vocês primeiro, porque eu não posso pensar em mim, porque o helicóptero pode cair em cima’, sendo suas últimas palavras (…) esse era o presidente, e é por isso que estamos aqui, com o coração partido”, concluiu a ex-ministra entre lágrimas.
Na noite de terça-feira, quando questionada pela imprensa, Magdalena Piñera se limitou a dizer: “Ele foi um grande homem, um homem muito generoso e muito corajoso”.
O acidente
Até agora, não está claro por que Sebastián Piñera decidiu voar na fatídica tarde de terça-feira, após almoçar na casa de seu amigo José Cox. O que está confirmado é que estava chovendo no Lago Ranco e as condições eram adversas, que seu amigo pediu para ele não sair de sua casa e preferir estender a sobremesa, e que Piñera fez ouvidos moucos e optou por ir para sua residência, localizada do outro lado do lago, na baía Coique, voando em seu helicóptero Robinson R66.
No entanto, o helicóptero caiu a apenas 400 metros da casa de José Cox, sendo sua esposa quem deu o alerta. Cox então pegou seu barco e partiu rapidamente para buscar os tripulantes, embora do lago só tenham conseguido sair Magdalena Piñera, Ignacio Guerrero e Bautista Guerrero. O ex-presidente não pôde ser resgatado porque não conseguiu soltar o cinto de segurança e seu corpo foi encontrado mais tarde pela Marinha, flutuando no lago.
Até agora, a tese mais plausível que está sendo considerada sugere que uma das janelas do helicóptero pode ter ficado entreaberta, o que embaçou os vidros do aparelho em questão de segundos, fazendo com que Piñera perdesse a noção das distâncias.