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Pesquisadores alertam que pessoas que tiveram Covid-19, especialmente com sintomas prolongados, podem ter risco significativamente maior de desenvolver demência precoce, antes mesmo dos 70 anos de idade. A preocupação é crescente entre especialistas nos Estados Unidos e no Reino Unido.
De acordo com o neurologista Dr. Gabriel de Erausquin, da Universidade do Texas Health em San Antonio, estudos indicam que indivíduos com mais de 57 anos que sofreram com a chamada Covid longa “têm o perfil de uma pessoa com Alzheimer em estágio muito inicial”.
“Não parece, em adultos mais velhos, que esse seja um processo reversível”, afirmou Erausquin ao Wall Street Journal. O médico lidera um estudo com 4 mil pacientes que contraíram Covid após os 60 anos. Dados preliminares revelam que até um terço dos pacientes com mais de 65 anos que apresentam sintomas prolongados se enquadram nos critérios de comprometimento cognitivo leve — condição que pode ser precursora da demência.
“Trata-se de um aumento de quatro a cinco vezes na prevalência em comparação com indivíduos da mesma faixa etária que não têm sintomas persistentes”, disse o pesquisador.
Embora nem todos os casos de comprometimento cognitivo leve evoluam para demência, cerca de 1 em cada 6 pacientes diagnosticados com esse quadro desenvolve a condição dentro de um ano.
As descobertas de Erausquin se somam a um número crescente de estudos que apontam o risco elevado de Alzheimer em pessoas expostas ao coronavírus. Um relatório do governo britânico divulgado no fim de 2023 revelou que pouco mais da metade dos pacientes com Covid longa relatou dificuldades cognitivas, como problemas de concentração.
Outro estudo, realizado com quase 1 milhão de pacientes e publicado em agosto do ano passado, mostrou que dois terços dos infectados com mais de 65 anos que foram hospitalizados evoluíram com declínio cognitivo.
A Covid longa ainda é uma condição pouco compreendida. Os sintomas podem durar meses — ou até anos — após a infecção inicial e incluem fadiga, falta de ar, lapsos de memória e dificuldades de concentração.
Ainda não está claro se o vírus provoca alterações diretas que levam à demência ou se apenas acelera problemas cerebrais já existentes. Tampouco se sabe se o risco de deterioração cognitiva se agrava com o passar do tempo.
A demência precoce — diagnosticada antes dos 65 anos — também está em crescimento. No Reino Unido, os casos aumentaram 69% em uma década, de acordo com registros oficiais.
Alguns especialistas estudam se os danos cognitivos causados pela Covid podem ser revertidos. O Dr. Igor Koralnik, chefe de doenças neuroinfecciosas no Northwestern Medicine, em Chicago, observou melhora em metade dos 70 pacientes com Covid longa tratados com reabilitação cognitiva — uma abordagem que envolve o uso de tecnologia, lembretes e adaptação da rotina.
No entanto, um terço dos pacientes não apresentou melhora significativa após o tratamento, segundo estudo publicado nos Archives of Physical Medicine and Rehabilitation.
Casos como o de Juan Lewis, ex-comandante adjunto de uma base aérea na Alemanha, mostram a gravidade do problema. Ele foi hospitalizado com Covid em abril de 2020 e, um ano depois, recebeu o diagnóstico de comprometimento cognitivo leve. Hoje, teme desenvolver demência. “Quase não saio sozinho. Minha esposa está quase sempre comigo. Fico facilmente distraído. Vivo esquecendo cartões de crédito em restaurantes”, contou.
No Reino Unido, cerca de 2 milhões de pessoas tinham sintomas persistentes da Covid até março de 2023. Destas, 1,3 milhão relataram efeitos por mais de um ano. Nos Estados Unidos, 17% da população afirma ter sintomas prolongados da infecção, embora algumas estimativas apontem taxa real de cerca de 3,6%.
Estudo publicado na revista Nature Medicine estimou que cerca de 409 milhões de pessoas em todo o mundo apresentavam sinais de Covid longa até o fim de 2023. Especialistas apontam que entre 3% e 5% dos hospitalizados com o vírus desenvolvem sintomas duradouros.
Autoridades de saúde recomendam que todas as pessoas elegíveis tomem as vacinas e reforços contra a Covid-19, já que não há cura conhecida para a Covid longa. O tratamento atual foca apenas no alívio dos sintomas.
No Reino Unido, cerca de 44 milhões de pessoas — cerca de 65% da população — já haviam contraído o vírus até fevereiro de 2022, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas. O número, no entanto, pode ser subestimado, já que os testes não eram amplamente disponíveis no início da pandemia.
