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Após atuar por vinte e dois anos na magistratura no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e notabilizar-se por condenar à prisão políticos do estado envolvidos em casos de corrupção, Selma Arruda aposentou-se em 2018, filiou-se ao PSL e candidatou-se ao Senado, sendo eleita com 678 mil votos.
Em Abril, pouco mais de dois meses após ter assumido o cargo, Selma teve seu mandato cassado pelo TRE do Mato Grosso, acusada de contratar propaganda antes do período eleitoral e por efetuar pagamentos de campanha com recursos não declarados, o que caracterizaria caixa 2.
Por caber recurso à instância superior – o TSE -, continuará no cargo até que decisão definitiva seja proferida.
Em meio à judicialização de seu mandato, Selma entrou, nos últimos dias, no olho do furacão da guerra que se trava neste momento no Senado pelas forças que tentam, de todas as formas, barrar a abertura de uma CPI destinada a investigar o Poder Judiciário – a chamada CPI da Lava Toga.
Ocupando uma das quatro cadeiras conquistadas pelo PSL, partido do Presidente da República, Selma relata estar sofrendo intensa pressão e até mesmo chantagens – dada a fragilidade de seu mandato, sujeito à cassação definitiva – para retirar sua assinatura favorável à instalação da CPI. Acusou o presidente do Senado, David Alcolumbre, de pressioná-la “de forma muito explícita e até constrangedora“. E acusou também, de forma muito mais enfática, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente e seu colega de partido, que, como ficou claro nos últimos dias, trabalha de forma desesperada para impedir que a CPI aconteça.
Segundo declarou a senadora em entrevista à revista Veja, Flávio lhe telefonou aos berros, dizendo:
— Vocês querem me foder! Vocês querem foder o governo!
Selma ainda declarou que “pessoas do partido” a teriam chantageado, dizendo que se ela não retirasse o apoio à CPI, o processo contra ela na Justiça Eleitoral teria um resultado certo: a cassação.
Em outro movimento que parece demonstrar que todas as engrenagens parecem trabalhar para blindar o judiciário da ameaça de ser devassado por uma CPI, na última terça-feira, dia 10, a procuradora geral Raquel Dodge emitiu parecer favorável à cassação de Selma em tempo recorde.
— Naquele dia, ela recebeu a intimação às oito e pouco da manhã e entregou a peça, com 75 laudas, às 3 da tarde, sendo que passou a manhã toda presidindo a sessão do CNMP. Ela assinou o parecer. – disse a senadora, dando a entender que Raquel já tinha o parecer pronto, antes mesmo de que lhe fosse solicitado.
Ontem, Selma Arruda anunciou que está deixando o PSL para se filar ao Podemos.
— O PSL é um partido que me incomoda, não apenas pela falta de solidariedade em relação a todo esse processo que eu estou enfrentando, mas também em relação a essas pressões de membros do partido para tirar a assinatura do pedido de CPI da Lava Toga. Não tenho mais jeito de permanecer nesse ambiente.
Sobre o partido pelo qual se elegeu e ao qual é filiado o presidente da República, a senadora ainda disse:
— O partido não tem uma consistência ideológica própria. Não tem um formato de partido. Não é um lugar que tu encontres uma ideologia que não seja mero repeteco de algumas frases prontas. Tudo é culpa da esquerda. Todo mundo é comunista. Eu não dou conta disso. Não tem uma liderança. Não tem envolvimento nem sequer do próprio presidente da República. Ele não consegue se envolver com a gente.
Selma Arruda acredita que sua cassação só poderia se confirmar por razões políticas; e em função da atual composição do TSE, tem esperanças de manter o mandato:
o tribunal é no momento presidido por Rosa Weber e os outros dois membros do STF que o compõem atualmente são Luís Roberto Barroso e Edson Fachin; a senadora tem razão: as chances de uma cassação política seriam maiores se as vagas estivessem ocupadas por integrantes da banda podre da Suprema Corte, cujos nomes qualquer brasileiro médio conhece.
A situação de Selma Arruda funciona como termômetro e como uma espécie de alarme a respeito daquilo que ninguém mais ignora:
no dia 16 de Julho, quando mesmo estando em recesso, o presidente do STF em pessoa fez as vezes de plantonista e apareceu para acolher o recurso da defesa de Flávio Bolsonaro e suspender todas as investigações em curso que utilizassem dados do COAF, foi dado o start para aquilo que a cada dia exala mais mau cheiro e a cada dia mais toma a forma de um grande e infame “acordão”.