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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (13) em defesa do fim das “guerras comerciais” durante sua visita a Pequim, onde assinou cerca de 30 atos bilaterais com o governo chinês em diversas áreas da economia. As declarações de Lula ocorreram em um contexto de trégua entre os Estados Unidos e a China, que anunciaram uma pausa de 90 dias nas tarifas e sobretaxas impostas pelas administrações de ambos os países.
Após se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, Lula afirmou que a relação entre Brasil e China “nunca foi tão necessária”. Em sua fala, destacou: “Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas. Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentado. China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo.”
O presidente brasileiro também criticou as guerras comerciais, afirmando que “não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países”. Lula reiterou a defesa por um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), um posicionamento que compartilha com o presidente Xi Jinping.
Em relação às tarifas adicionais impostas pelo governo Trump sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio, Lula ressaltou que o Brasil busca negociar a redução ou até a eliminação dessas taxas. “Não é exagero dizer que, apesar dos mais de 15 mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos”, afirmou o presidente brasileiro sobre a relação com a China.
Este foi o terceiro encontro presencial entre Lula e Xi Jinping desde o início do mandato de Lula, em 2023, e o segundo realizado em território chinês.
A visita acontece um dia após os governos dos Estados Unidos e da China anunciarem um acordo para uma trégua de 90 dias nas tarifas recíprocas, que vinham gerando tensões comerciais. As tarifas foram inicialmente impostas pelos Estados Unidos em abril, com foco em países com superávit na balança comercial com os americanos, e tiveram resposta da China.
Eis a íntegra do discurso:
Retorno a Pequim apenas seis meses depois de receber o companheiro Xi Jinping para uma visita de Estado histórica em Brasília.
Realizo hoje minha segunda visita de Estado à China no atual mandato.
Trouxe comigo expressiva delegação de ministros, governadores, parlamentares e empresários.
A relação entre o Brasil e a China nunca foi tão necessária.
A Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável, que estabelecemos em novembro passado, é uma alternativa às rivalidades ideológicas.
Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas.
Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentado.
China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo.
A defesa intransigente do multilateralismo é uma tarefa urgente e necessária.
Como demonstrado na discussão que tivemos no Foro CELAC-China, a América Latina e o Caribe são uma das regiões que mais sofre nesse cenário.
Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países.
O presidente Xi Jinping e eu defendemos um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio.
Superar a insensatez dos conflitos armados também é pré-condição para o desenvolvimento.
Os “Entendimentos Comuns entre o Brasil e a China para uma Resolução Política para a Crise na Ucrânia” oferecem base para um diálogo abrangente que permita o retorno da paz à Europa.
A humanidade se apequena diante das atrocidades cometidas em Gaza. Não haverá paz sem um Estado da Palestina independente e viável, vivendo lado a lado com Israel.
Somente uma ONU reformada poderá cumprir os ideais de paz, direitos humanos e progresso social consagrados em 1945 pela Carta de São Francisco.
O Conselho de Segurança deve refletir a diversidade contemporânea.
Amigas e amigos,
A fome e a pobreza em pleno século XXI são inaceitáveis.
A China, de forma admirável, conseguiu tirar 800 milhões de cidadãos da pobreza em apenas quarenta anos.
Unir esforços para combater essas chagas é o propósito da Aliança Global lançada pelo Brasil no G20 no ano passado.
China e Brasil também trabalham juntos para enfrentar a crise climática.
Vamos atuar em prol de metas ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
A ciência nos mostra que é preciso limitar o aumento da temperatura a 1.5 graus Celsius.
A COP30, em Belém, no coração da Amazônia, será determinante no caminho para um futuro de baixo carbono.
No plano bilateral, as sinergias estabelecidas entre nossos projetos de desenvolvimento mostram que dois grandes países emergentes podem cooperar e obter benefícios mútuos.
Nunca um número tão grande de projetos foi discutido de maneira sistemática em tão pouco tempo.
Os primeiros resultados concretos já podem ser constatados.
A cooperação entre os Bancos Centrais permitirá maior integração financeira e facilitará investimentos.
Com o programa Satélite de Recursos Terrestres Brasil-China, lançaremos dois satélites adicionais (o CBERS 5 e 6). Vamos gerar e compartilhar imagens para uso ambiental, agrícola e meteorológico com os países do Sul Global.
Hoje, estabelecemos um fórum para dinamizar a relação entre estaleiros brasileiros e chineses, em linha com o compromisso do meu governo de resgatar a indústria naval nacional.
Com os protocolos que assinamos ontem na área de saúde, estamos expandindo a capacidade brasileira de produção de remédios e vacinas, e de manufatura de equipamentos médicos.
O presidente Xi e eu também conversamos sobre mobilização de financiamento para projetos de infraestrutura, sustentabilidade e energia.
Há poucas semanas, uma missão chinesa esteve no Brasil para examinar oportunidades de investimento em infraestrutura no âmbito das Rotas de Integração Sul-Americana.
As Rotas são mais do que corredores de exportação entre o Atlântico e o Pacífico: são vetores de indução do desenvolvimento.
O evento empresarial realizado ontem, que reuniu mais de 700 participantes, demonstra a pujança de nossas empresas e o potencial dos investimentos recíprocos.
Para aproximar ainda mais nossas sociedades, vamos realizar o Ano Cultural Brasil-China em 2026 e ampliar incentivos para desenvolver o mercado do turismo.
Os quase 30 atos que assinamos hoje comprovam o dinamismo que o presidente Xi e eu temos imprimido ao relacionamento bilateral.
Não é exagero dizer que, apesar dos mais de quinze mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos.
Espero retribuir a calorosa acolhida que recebi do presidente Xi Jinping ao encontrá-lo na Cúpula do BRICS, em julho.
O BRICS será, cada vez mais, um espaço fundamental de coordenação do Sul Global para a construção de uma ordem multipolar, mais justa e eficaz.
Muito obrigado.
