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O chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou nesta quarta-feira (28) um novo acordo de cooperação militar com a Ucrânia que permitirá a Kiev fabricar armas de longo alcance sem restrições de uso — inclusive para ataques contra o território russo. O anúncio foi feito durante visita oficial do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, a Berlim.
O acordo, formalizado por meio de uma declaração de intenções a ser assinada pelos ministros da Defesa dos dois países, Boris Pistorius e Rustem Umérov, marca “o início de uma nova forma de cooperação militar e industrial” entre Alemanha e Ucrânia, afirmou Merz em coletiva de imprensa conjunta às 13h30 (horário local).
“Hoje damos o primeiro passo nessa cooperação para a produção de armas de longo alcance. Trata-se de uma parceria industrial que poderá ocorrer tanto na Ucrânia quanto aqui na Alemanha”, disse o chanceler, sem revelar detalhes.
Merz também reiterou o compromisso de Berlim com o apoio militar a Kiev. “Seguiremos e ampliaremos nosso apoio para que a Ucrânia possa continuar se defendendo, agora e no futuro, dessa agressão russa.” Segundo ele, o acordo prevê a aquisição de armamentos ucranianos de longo alcance “sem qualquer limitação de alcance, o que permitirá à Ucrânia se defender plenamente, inclusive contra alvos militares fora de seu território”.
A medida representa uma mudança significativa na estratégia de apoio do Ocidente, pois permite a produção de armamento avançado em solo ucraniano, sem as restrições geográficas que limitavam o uso de armas fornecidas por aliados.
Recepção com honras militares
Zelensky foi recebido com honras militares por Merz na Chancelaria Federal, em sua primeira visita à Alemanha desde que o novo governo conservador tomou posse no início do mês. Vestido de preto, o presidente ucraniano apertou a mão do chanceler no pátio da sede do governo e conversou brevemente antes de cumprimentar as delegações.
A cerimônia incluiu a execução dos hinos nacionais e revista à tropa de honra do Exército alemão. Zelensky havia desembarcado momentos antes na área militar do aeroporto de Berlim-Brandemburgo, sob forte esquema de segurança que impactou o centro da capital alemã.
A visita, confirmada oficialmente apenas nesta manhã pelo porta-voz do governo, Steffen Kornelius, teve como foco o apoio alemão à Ucrânia e os esforços por um cessar-fogo. Após a reunião bilateral, houve um almoço oficial e, em seguida, um encontro com representantes de empresas alemãs.
Acordo militar com detalhes sob sigilo
Durante a coletiva, nenhum dos dois líderes revelou quais tipos de armamentos estão contemplados no acordo. “Não falaremos publicamente sobre os detalhes”, afirmou Merz, limitando-se a dizer que haverá “facilitação de armas de longo alcance, incluindo produção conjunta”.
“Vamos intensificar a cooperação, mas, acima de tudo, nos empenhar em fornecer ao Exército ucraniano as capacidades necessárias para defender com sucesso seu país”, completou o chanceler.
Zelensky explicou que a declaração de intenções “marca o início desses novos projetos”, já definidos. “O primeiro passo é o financiamento conjunto entre nossos países”, afirmou. Segundo ele, há acordos para produção de armas na Ucrânia, incluindo drones, que “ajudam a proteger eficazmente a vida dos nossos soldados”.
De acordo com o site Politico, Berlim poderá fornecer componentes técnicos para que a Ucrânia fabrique seus próprios mísseis e mísseis de cruzeiro.
Fim das restrições para ataques ao território russo
O acordo vem dois dias após Merz mencionar, em entrevista, que França, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha haviam retirado as restrições que impediam Kiev de atacar alvos na retaguarda russa. Os três primeiros países já haviam autorizado essa prática em 2023, mas apenas nas regiões fronteiriças, como forma de proteger a província ucraniana de Kharkiv.
Inicialmente, mísseis como o ATACMS (dos EUA), Storm Shadow (Reino Unido) e SCALP (França) só podiam ser usados contra alvos nas regiões russas de Belgorod, Kursk e Briansk, próximas à fronteira ucraniana.
Ao incluir a Alemanha nesse grupo, Merz não confirmou se o governo enviará a Kiev os mísseis de longo alcance Taurus — com alcance de até 500 km. Em ocasiões anteriores, ele se mostrou favorável à medida, ao contrário do ex-chanceler Olaf Scholz.
Jens Spahn, líder do grupo parlamentar conservador, afirmou hoje à emissora regional RBB que “não faz muito sentido discutir sistemas específicos de armas” e que é melhor que o presidente russo, Vladimir Putin, “não tenha acesso a essas informações”. Para Spahn, o essencial é que “a Ucrânia esteja equipada de forma que possa defender sua pátria e também a nossa liberdade”.
Compromisso com o fim do Nord Stream 2
Merz também reafirmou o compromisso alemão de impedir o retorno do gasoduto Nord Stream 2. “Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia. Faremos o possível para garantir que o Nord Stream 2 nunca volte a operar”, declarou.
O gasoduto, que conecta a Rússia à Alemanha pelo Mar Báltico, foi danificado em setembro de 2022 por explosões submarinas, consideradas sabotagem. As explosões destruíram um dos dois tubos do Nord Stream 2 e ambas as linhas do gasoduto irmão, Nord Stream 1.
Embora o Nord Stream 2 nunca tenha sido ativado, o Nord Stream 1 forneceu gás russo barato à Europa por anos. Críticos alegam que os gasodutos tornaram a Alemanha e a Europa excessivamente dependentes do fornecimento de combustíveis fósseis russos.
Recentemente, veículos de imprensa alemães e britânicos informaram que Washington e Moscou discutiram a reativação do Nord Stream 2 durante conversas sobre o fim da guerra na Ucrânia.
Tensões envolvendo a cúpula da OTAN
Zelensky também falou sobre sua possível exclusão da próxima cúpula da OTAN, marcada para o fim de junho em Haia. O presidente ucraniano afirmou que sua ausência seria “uma vitória de Putin, não na guerra contra a Ucrânia, mas sobre a OTAN”. No entanto, reconheceu que a decisão cabe aos parceiros da aliança.
Segundo ele, já recebeu “sinais” de aliados sobre a participação de Kiev, mas considera “importante esclarecer em que nível” a Ucrânia será representada. Há especulações de que Zelensky possa ser vetado pelos EUA — o que seria a primeira exclusão desde o início do conflito.
O ministro da Defesa da Holanda, Ruben Breklemans, confirmou que está sendo buscado um formato para viabilizar a presença de Zelensky, apesar das objeções norte-americanas. Zelensky participou das duas últimas cúpulas da OTAN, em 2022 de forma remota.
A administração do ex-presidente Donald Trump já havia se manifestado contra a entrada da Ucrânia na aliança, no contexto das negociações de paz buscadas por Washington, Kiev e aliados europeus.
Encerrando a visita, Zelensky foi recebido com protocolo oficial pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, no Palácio de Bellevue — residência oficial da chefia de Estado alemã — encerrando uma jornada diplomática que marca um novo capítulo na cooperação militar entre Alemanha e Ucrânia.
