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Estudantes judeus da Universidade de Harvard relataram terem sido cuspidos por usarem quipás, perseguidos dentro do campus e alvo de gritos como “heil Hitler” — enquanto a universidade teria sido “deliberadamente indiferente” ou até mesmo “cúmplice intencional” desses abusos, segundo relatório divulgado nesta segunda-feira (30) pela administração do ex-presidente Donald Trump.
A denúncia faz parte de um documento de 57 páginas entregue ao reitor Alan Garber pela Força-Tarefa Conjunta para Combater o Antissemitismo, ligada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS). O texto aponta que mais de 25% dos estudantes judeus disseram se sentir fisicamente inseguros, e quase 60% relataram ter sofrido discriminação, estereótipos ou preconceito após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 contra Israel.
O levantamento, que envolveu mais de 500 estudantes e ocorreu ao longo de 50 sessões de escuta, também revela que cerca de 75% deles evitam expressar opiniões políticas dentro da universidade, com receio de represálias.
“O fracasso em implementar mudanças imediatas resultará na perda de todos os recursos financeiros federais e continuará afetando o relacionamento de Harvard com o governo”, alertou a força-tarefa em carta enviada a Garber.
A carta informa ainda que Harvard estaria violando leis federais de direitos civis, o que poderia colocar em risco cerca de US$ 800 milhões já recebidos desde 2023, além de contratos federais avaliados em US$ 256 milhões e outros US$ 8,7 bilhões em compromissos plurianuais de financiamento.
“Padrão de discriminação ilegal e negligenciada”
O relatório acusa Harvard de manter um ambiente hostil para estudantes judeus, com casos de assédio direto entre alunos, ações de grupos organizados, exclusão em espaços do campus e tolerância institucional ao antissemitismo.
Entre os episódios listados estão: um estudante que foi seguido e hostilizado por manifestantes anti-Israel; outro que teria sido agredido por dois colegas de pós-graduação em um protesto; além de atos de vandalismo antissemitas — como o ocorrido em outubro de 2023, quando o centro Hillel foi coberto por adesivos com suásticas no lugar da Estrela de Davi da bandeira de Israel.
“Esses incidentes foram ignorados pela universidade”, diz o relatório.
A denúncia se soma a um processo judicial movido por um grupo de estudantes judeus contra a universidade. Eles alegam que passaram a evitar espaços públicos do campus para não serem atacados.
Disputa entre Trump e Harvard
A tensão entre o governo Trump e Harvard já dura meses. No início de junho, Trump assinou uma proclamação que proíbe estudantes internacionais de ingressarem nos EUA para estudar na universidade, citando o descumprimento de obrigações legais, como registro e relatórios de conduta.
“Quando uma universidade se recusa a cumprir suas obrigações legais, as consequências vão muito além do campus”, afirmou Trump na ocasião. O ex-presidente disse ainda que era de “interesse nacional” negar o acesso de estrangeiros à instituição.
A decisão foi temporariamente barrada por um juiz federal, que concedeu liminar impedindo a revogação da certificação da universidade no Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio.
Após a liminar, Trump afirmou em sua rede Truth Social que as negociações avançaram:
“É muito possível que um acordo seja anunciado na próxima semana. Harvard tem agido de forma apropriada durante as negociações e parece comprometida com o que é certo”, escreveu em 20 de junho.
Resposta de Harvard
Em nota, Harvard se defendeu:
“A universidade tomou medidas substanciais e proativas para enfrentar as causas do antissemitismo em sua comunidade.”
A instituição afirma que, além de compartilhar um relatório próprio sobre antissemitismo e viés anti-Israel, revisou políticas internas, puniu infratores, incentivou o diálogo civil e promoveu debates respeitosos.
“Harvard está longe de ser indiferente a essa questão e discorda fortemente das conclusões do governo”, diz o comunicado.
