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Na última sexta-feira (22), algumas das maiores empresas do setor frigorífico começaram a interromper o fornecimento de carne à rede de supermercados Carrefour e suas subsidiárias, como o Atacadão. A medida foi adotada como resposta ao boicote anunciado pelo CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, às carnes de países do Mercosul, conforme publicado pelo Valor Econômico.
O boicote do Carrefour, anunciado na quarta-feira (20), é uma manifestação de apoio ao agronegócio europeu, principalmente contra o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, um tema que tem gerado controvérsia na política internacional. Bompard justificou sua decisão alegando a necessidade de solidariedade com o setor agrícola francês, que se opõe à assinatura do tratado, principalmente devido a preocupações com o impacto que ele pode ter sobre o mercado agrícola da França.
De acordo com fontes do setor frigorífico ouvidas pela reportagem, cerca de 30% das unidades do Carrefour no Brasil já enfrentam dificuldades no fornecimento de carne bovina. Além disso, fornecedores de frango também estariam sendo impactados, embora a carne suína não tenha sido afetada até o momento. O desabastecimento, embora não generalizado, tem gerado tensão entre as empresas envolvidas, com possíveis repercussões para os consumidores brasileiros.
A oposição de Emmanuel Macron, presidente da França, ao acordo Mercosul-UE também tem influenciado o cenário. Durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, o presidente francês reiterou sua preocupação com os efeitos do tratado, especialmente nas questões ambientais e no enfraquecimento do setor agrícola da França. Macron criticou a falta de um compromisso claro por parte do Mercosul em relação à preservação da biodiversidade e às questões climáticas, temas sensíveis para o agronegócio francês.
O Carrefour, por sua vez, afirmou em nota que não há desabastecimento em suas lojas e reiterou seu compromisso com os consumidores brasileiros. Em relação às empresas JBS e Frigol, nenhuma manifestação foi feita até o momento, enquanto Marfrig e Minerva informaram que preferem não comentar a situação.
Em resposta às ações do Carrefour, entidades do agronegócio e da indústria de alimentos do Brasil divulgaram uma nota na quinta-feira (21) criticando a posição do CEO do grupo francês, alertando para os impactos negativos de tais declarações nas relações comerciais entre o Brasil e a Europa.
NOTA DE REPÚDIO DO AGRONEGÓCIO DO BRASIL PARA O GRUPO CARREFOUR
“Em resposta às alegações do CEO Global da rede de supermercados Carrefour, Alexandre Bompard, as entidades abaixo assinadas manifestam o repúdio aos ataques proferidos contra a produção agropecuária no Mercosul. A produção de proteína do bloco econômico sulamericano chega a todos os países do mundo, incluindo os mercados mais exigentes, entre eles as maiores economias mundiais, como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, China e Japão.
Periodicamente as empresas são auditadas e certificadas por centenas de missões sanitárias internacionais e também por clientes que confirmam a segurança de alimentos do que vai para cada destino. Entre as certificações obtidas por empresas do Mercosul destacam-se as do BRC (British Retail Consortium), principal referência global em qualidade quando o assunto é produção de proteína.
O bloco é líder mundial em exportação de carne de frango e bovina e está entre os principais na suína. Foram necessárias décadas para que o Mercosul por inteiro avançasse em sua reputação internacional como produtor de carnes. Com responsabilidade, o setor na região foi o principal fornecedor para todos os mercados durante a maior crise global de saúde pública neste século, a pandemia do coronavírus em 2020 e 2021.
Tudo isso demonstra a excelência da produção na região, num comprometimento que as entidades e associações que representam os 29 milhões de trabalhadores no agronegócio no Brasil reforçam dia a dia com a segurança alimentar e a qualidade do que chega aos consumidores em todo o mundo.
Portanto, se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país.
Reafirmamos o compromisso do setor com a produção responsável, sustentável e com a segurança alimentar.”
Brasília, 21 de novembro de 2024
ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes)
ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal)
ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio)
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil)
SRB (Sociedade Rural Brasileira)
FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)