Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão. Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
Novos áudios obtidos pela Polícia Federal (PF) e divulgados pelo programa “Fantástico”, da TV Globo, no domingo (23), indicam que integrantes das Forças Armadas incentivaram os grupos que acamparam em frente a quartéis do Exército e invadiram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O material faz parte das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
Entre os áudios extraídos dos 1.200 dispositivos apreendidos por meio de quebras de sigilo, um pertence ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então vinculado ao Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Em uma das gravações, Almeida sugere aos manifestantes que avancem para o Congresso Nacional. “Não adianta protestar na frente do QG [quartel-general] do Exército, tem que ir para o Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder. Porque, assim, todo mundo quer Forças Armadas. Por quê? Quer um mecanismo de pressão chamado arma, né?”, afirmou.
O tenente-coronel é um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito que apura a tentativa de golpe. Em outro áudio, Almeida incentiva os manifestantes a pressionarem as autoridades. “Acho que o pessoal poderia fazer essa descida aí, né? E ir atravancando mesmo. Porque, pô, a massa humana chegando lá, não tem PM [Polícia Militar] que segure. Porra, vai atropelar a grade e vai invadir. Depois, não tira mais, né?”, declarou.
As gravações também revelam um plano de deslegitimação do resultado eleitoral. Almeida chegou a defender a anulação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Para apaziguar, a gente resolve destituir, invalidar a eleição. Colocar voto impresso e fazer uma nova eleição. Com ou sem Bolsonaro”, disse.
General preso falava em proteger manifestantes e impedir prisões
O general de brigada da reserva Mário Fernandes também aparece nos áudios divulgados e foi preso pela PF na Operação Contragolpe. De acordo com as investigações, ele teria elaborado um plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em uma das gravações, Fernandes pede a intervenção de Bolsonaro ou do então ministro da Justiça, Anderson Torres, para impedir a ação da PF contra manifestantes.
“Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF. Eu tô tentando agir diretamente junto às Forças. Se tu pudesse pedir pro presidente ou pro gabinete do presidente atuar”, solicitou Fernandes ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O general também teria buscado apoio do ex-ministro Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Bolsonaro. “Então, porra. Se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson, porra. Segurar a PF, porra, para esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército para a gente segurar, pô, proteger esses caras ali”, disse Fernandes.
Militares infiltrados e estratégia para desacreditar urnas eletrônicas
Os áudios também mostram que militares estavam infiltrados entre manifestantes e que havia uma tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas. Em um dos trechos da delação de Mauro Cid, o tenente-coronel comenta sobre a presença de infiltrados. “A gente tá recebendo cara de TI, hacker. Eu não bebo cerveja, mas depois, eu te conto as coisas que a gente fez aqui. A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar. Monitorando e passando para a gente as informações. Refutando ou ajudando a instigar, digamos assim”, afirmou.
Cid também conversou com o então comandante do Exército, general Freire Gomes, sobre uma minuta golpista. “Ele [Bolsonaro] entende as consequências do que pode acontecer. Hoje, ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”, relatou Cid ao general.
Outro áudio revelado pela reportagem cita um suposto hacker do interior de São Paulo que teria como objetivo criar suspeitas sobre o sistema eletrônico de votação. O hacker menciona a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) como um possível contato para disseminar a narrativa. “Por coincidência, uma tia tá na mesma igreja da Damares, da ministra. Aí a Damares, ela escutou e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro”, disse o hacker em um áudio encaminhado para o tenente-coronel do Exército, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.
Em nota, Damares Alves negou envolvimento e afirmou que “não se recorda da situação relatada e não tem como controlar quem usa o nome dela para qualquer que seja o propósito”. A defesa de Mauro Cid declarou que não vai se manifestar fora dos autos.
