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O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez duras críticas à condução econômica e social do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista à jornalista Adriana Fernandes, publicada neste domingo (6) na Folha de S.Paulo, ele afirmou que a administração petista tem “uma obsessão com igualdade e não com diminuição da pobreza”.
“Como a igualdade não é um fenômeno natural, o governo se vende como necessário para corrigir este erro”, declarou Campos Neto, que comandou o BC entre 2019 e 2024 e agora ocupa os cargos de vice-chairman e chefe global de Políticas Públicas do Nubank.
Para ele, a busca por igualdade tem levado a um modelo de crescimento baseado em dívida e alta carga tributária sobre as empresas, o que, segundo sua avaliação, desestimula o investimento privado e “atrofia a capacidade de aumentar a oferta de bens e serviços no futuro”. “No fim, estimula a demanda de curto prazo com transferências de renda e paga a conta com investimento futuro”, disse.
Segundo Campos Neto, esse modelo resulta em um “Estado maior, setor privado atrofiado, dívida insustentável, inflação estrutural mais alta, juros altos e baixa produtividade”. Para ele, “o jogo acaba quando a injeção pública de recursos faz mais mal do que bem e fica claro que todos vão terminar em uma situação pior”.
O ex-presidente do BC também criticou a polarização política. “O discurso de ‘nós contra eles’ é ruim para todo mundo. Não é o que vai fazer o país crescer de forma estrutural. Precisamos unir todo mundo, o empresário, o empregado, o governo”, declarou. Ele mencionou um estudo que mostra o Brasil como o país da América Latina com maior número de milionários emigrando e criticou a saída de empresas da Bolsa brasileira para listagens no exterior. “Em vez de reclamar que o empresário foi morar fora, temos que dizer: ‘Vem cá, como faço para manter você aqui dentro?’. Precisamos reverter isso e passar uma mensagem para as pessoas de que o empresário é importante”, afirmou.
Campos Neto também apontou que “qualquer decisão hoje do fiscal também cai na polarização política, na disputa entre ricos e pobres” e destacou que há uma “falta de credibilidade em relação à ancoragem fiscal”. Segundo ele, “sem reverter [a trajetória da dívida], poderemos ter movimentos moderados de queda ou de alta [nos juros], mas a âncora está no fiscal”.
Ele alertou para a elevação do endividamento público. “Estamos num momento em que, mesmo quando se arrecada muito mais, não se consegue produzir superavits. Sem ter condições de cair muito os juros, vamos para um déficit nominal que fica preso em uma faixa ao redor de 8%. Como não conseguimos gerar um primário positivo, nossa dívida vai crescer em torno de 3 a 5 pontos porcentuais ao ano. Como nossa dívida já é a maior do mundo emergente, este crescimento é muito grave. Precisamos de um plano ambicioso”, defendeu.
Campos Neto ainda comentou propostas de reforma tributária: “Diminuir isenção tributária, eu concordo. Eliminar isenção em títulos de renda fixa, concordo desde que se abaixe do resto, para equalizar. Aumentar imposto em dividendo e reduzir Imposto de Renda da Pessoa Jurídica também vejo com bons olhos. Eliminar vantagem tributária em investimentos de longo prazo não é positivo porque o ‘funding’, a liquidez de longo prazo, é importante para projetos estruturantes”.
Sobre a taxa Selic, disse que o fundamental é o mercado perceber seriedade na condução fiscal: “Falei no passado que o governo, se quisesse trabalhar com juros mais baixos, precisava gerar um choque positivo de credibilidade no fiscal. Mais recentemente, disse: vai ter um choque positivo no fiscal, independente do governo, porque a gente não tem condições de avançar muito com nenhum tipo de política pública, não tem mais espaço de arrecadação. O choque fiscal vai acontecer sim ou sim. Vai ser feito de qualquer forma. Quanto mais cedo, melhor”.
Questionado sobre críticas recentes que recebeu do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto afirmou: “A história mostrou que é uma narrativa política infundada. Acho triste que se priorize a construção de uma narrativa em vez de se procurar uma solução estrutural para o problema. Empobrece o debate”.
Ele ainda elogiou o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo: “Não tenho nenhum reparo a fazer. Tem atuado de forma técnica, comunicado com transparência. Está fazendo um trabalho irretocável. Só que o problema não está no lado monetário, está no lado fiscal. O BC é um pouco passageiro desse momento fiscal, onde tem uma incerteza, uma guerra de narrativas. Inseriu-se um elemento político dentro do debate fiscal, que eu acho que está muito forte hoje”.
