Em jantar realizado na segunda-feira (11) de quase 4 horas na casa do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE), o ex-presidiário Lula (PT) foi cobrado sobre as declarações que deu nos últimos dias.
Recentemente, o petista defendeu o direito de mulheres fazerem aborto, incentivou protestos contra congressistas e disse que, se eleito presidente, retiraria militares de cargos comissionados no governo.
Cinco participantes do encontro disseram à CNN Brasil que as primeiras críticas partiram do senador Omar Aziz (PSD-AM) e foram seguidas pelo colega Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Eles apelaram para Lula “maneirar nas discussões sobre a pauta de costumes”. Ambos disseram que, se seguir nesta seara, o petista acabará dando, automaticamente, “palanque” ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.
De acordo com os convidados, Lula ouviu as cobranças dos senadores e disse que vai falar sobre o que o povo está interessado —inflação, desemprego, aumento de combustíveis—, mas afirmou que “não é homem de fugir de debate”.
O petista, segundo os relatos, afirmou que se o presidente quiser debater religião, ele vai “mostrar que é mais cristão que o Bolsonaro”. “Fui coroinha”, brincou Lula, de acordo com senadores ouvidos pela CNN.
O petista também citou episódios que, segundo ele, não seriam práticas cristãs. Lula lembrou o fato de o deputado Eduardo Bolsonaro ter, segundo ele, ironizado a morte de seu neto, em 2019, e que Bolsonaro lançou o filho Carlos na política para concorrer contra a mãe, Rogéria, a uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com participantes do jantar, Lula também disse que “não vai fugir do debate sobre corrupção” com Bolsonaro.
Estrategistas da campanha à reeleição do presidente entendem que a corrupção deve ser o foco dos ataques de Bolsonaro ao petista durante a corrida eleitoral.
Lula voltou a dizer ainda que a disputa pelo Palácio do Planalto neste ano “não é uma luta entre a esquerda e a direita, mas sim entre os que defendem a democracia e os que pregam o retrocesso do país”.
De acordo com senadores que estiveram no jantar, o ex-presidente afirmou que, neste momento, a luta é “para manter o país que a Constituinte de 1988 nos deu”.
No momento em que a senadora Simone Tebet (MDB) trabalha para se consolidar como a candidata à Presidência da chamada Terceira Via, os caciques do MDB também fizeram questão de dizer a Lula que o “MDB não pode brincar de ter candidato” ao Palácio do Planalto.
Os senadores do MDB afirmaram que o partido só vai definir em agosto, durante a convenção partidária, qual será a posição a ser adotada. “A convenção é soberana”, afirmou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) à CNN.
A avaliação da ala do MDB que esteve no jantar —participaram 5 dos atuais 13 senadores— é a de que a candidatura de Tebet ao Planalto só pode ser oficializada se, até a data limite estabelecida pela Justiça Eleitoral, a senadora conseguir mostrar real viabilidade eleitoral.
Esse grupo tem dito que o partido não pode repetir o roteiro de 2018, quando lançou a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência, que terminou em sétimo lugar, com apenas 1,2% dos votos.