O homem cujo codinome era “Moch” – abreviação de “mochila” – nas planilhas de propinas reveladas logo no início da Operação Lava Jato está solto:
João Vaccari Neto, ex-tesoureiro nacional do PT e homem de confiança de Lula e Dirceu, foi beneficiado pelo indulto natalino que Michel Temer assinou em 2017 e que reduziu em 24 anos a soma das penas a que foi condenado; já tendo cumprido parte (cerca de 4 anos) em regime fechado, recebeu o benefício da progressão para o semiaberto.
Acusado de prejudicar milhares de bancários que depositaram suas economias na cooperativa habitacional que presidiu e cujos fundos foram desviados para o PT, apontado por vários delatores de ser o arrecadador do partido, responsável por receber e transportar grandes somas em espécie (daí o uso constante da mochila que lhe rendeu o apelido) e criador da expressão “pixuleco” como sinônimo de propina, Vaccari está sendo festejado pelos seus comparsas:
ao contrário de outros envolvidos na gigantesca máquina de roubar instalada durante os anos petistas, o homem da mochila não assinou nenhum acordo de delação premiada e suportou resignado – e em silêncio – os anos de cárcere.
Tido como um “burro de cargas”, um “carregador de piano”, o cara que sujava as mãos para que as estrelas da constelação criminosa brilhassem, Vaccari é tratado como um “herói” ou mesmo como um “preso político”, finalmente libertado das masmorras da Lava Jato, onde passou anos sendo “pressionado” ou até “torturado” – e mesmo assim manteve-se firme, recusando-se a entregar os “companheiros”.
Caso você tenha alguma dúvida disso, encontre blogs petistas por aí e comprove: são usadas exatamente essas palavras para defini-lo.
Mas como aqui, do lado de fora da bolha petista, ninguém é tão idiota, é óbvio que Vaccari fez um bom acordo: não com a justiça, mas com o próprio partido. Sua defesa, entregue ao renomado Luiz Flávio D’Urso, certamente foi regiamente paga. Obrigado a residir e trabalhar em Curitiba para que lhe fosse concedida a progressão de pena, foi imediatamente empregado pelo escritório da CUT na cidade.
E claro que há muito mais: acordos de delação sempre incluem a admissão da própria culpa e a devolução do dinheiro roubado. Vaccari deve ter calculado que alguns anos em cana sairiam bem mais barato: alguém duvida que ele tenha mochilas recheadas e muito bem guardadas?
No grande circo em que um sujeito como esse é tratado como herói, os palhaços – como sempre – somos nós.