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Após meses de negociações tensas, os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram um acordo que visa garantir a Washington acesso a minerais e outros recursos naturais críticos do país. Kiev espera que o pacto assegure apoio de longo prazo para sua defesa contra a Rússia.
Segundo autoridades ucranianas, a versão final do acordo, assinada na quarta-feira (30), é significativamente mais vantajosa para a Ucrânia do que as propostas anteriores. Estas, segundo eles, relegavam Kiev a um papel secundário e concediam a Washington direitos sem precedentes sobre os recursos do país.
Embora o texto integral do acordo ainda não tenha sido divulgado, o Ministério da Economia e o gabinete do primeiro-ministro ucraniano forneceram alguns detalhes.
O acordo – que ainda precisa ser ratificado pelo parlamento ucraniano – estabeleceria um fundo de reconstrução para a Ucrânia. Funcionários ucranianos esperam que este fundo sirva como um mecanismo para garantir futura ajuda militar americana. Uma tentativa anterior de acordo chegou perto de ser finalizada, mas descarrilhou em uma reunião tensa no Salão Oval, envolvendo o presidente dos EUA, Donald Trump, o vice-presidente americano, JD Vance, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“Elaboramos uma versão do acordo que oferece condições mutuamente benéficas para ambos os países. Este é um acordo no qual os Estados Unidos sinalizam seu compromisso de promover a paz de longo prazo na Ucrânia e reconhecem a contribuição que a Ucrânia deu à segurança global ao renunciar ao seu arsenal nuclear”, declarou a ministra da Economia ucraniana, Yulia Svyrydenko, em uma postagem no Facebook.
A assinatura ocorre em um momento que o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, descreveu como uma semana “muito crítica” para os esforços liderados pelos EUA para encerrar a guerra, que parecem ter estagnado. A Ucrânia vê o acordo como uma forma de garantir que seu maior e mais importante aliado permaneça engajado e não congele o apoio militar, que tem sido crucial em sua luta de três anos contra a invasão em grande escala da Rússia.
“Este acordo sinaliza claramente à Rússia que o governo Trump está comprometido com um processo de paz centrado em uma Ucrânia livre, soberana e próspera a longo prazo”, afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, em comunicado.
Entenda o acordo:
O que o acordo inclui?
O acordo abrange minerais, incluindo elementos de terras raras, além de outros recursos valiosos como petróleo e gás natural, de acordo com detalhes divulgados por autoridades ucranianas. Não inclui recursos que já são fonte de receita para o Estado ucraniano. Em outras palavras, qualquer benefício decorrente do acordo depende do sucesso de novos investimentos.
Embora Trump tenha expressado repetidamente seu interesse nos elementos de terras raras da Ucrânia, não está claro quais outros minerais poderiam fazer parte do acordo. No início deste ano, Andrii Yermak, chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, mencionou a possibilidade de incluir lítio, titânio ou urânio.
Segundo autoridades ucranianas, o acordo garante a plena propriedade dos recursos pela Ucrânia. O Estado determinará onde e o que pode ser extraído.
Os funcionários também afirmaram que o acordo não faz referência a nenhuma obrigação de dívida para a Ucrânia, o que significa que os lucros do fundo não serão destinados a reembolsar os Estados Unidos por seu apoio anterior.
O que são elementos de terras raras?
São um grupo de 17 elementos essenciais para muitos tipos de tecnologia de consumo, como telefones celulares, discos rígidos e veículos elétricos e híbridos.
A China é o maior produtor mundial de elementos de terras raras, e tanto os Estados Unidos quanto a Europa têm procurado reduzir sua dependência de Pequim, o principal adversário geopolítico de Trump.
Como o fundo funcionará?
O acordo estabelece um fundo de investimento para a reconstrução, e tanto os EUA quanto a Ucrânia terão igual peso em sua gestão, segundo Svyrydenko.
O fundo contará com o apoio do governo dos EUA por meio da agência Corporação Financeira Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos, que a Ucrânia espera que atraia investimentos e tecnologia de países americanos e europeus.
Espera-se que a Ucrânia contribua para o fundo com 50% de todos os lucros futuros dos recursos naturais de propriedade do governo. Os Estados Unidos também contribuirão com fundos diretos e equipamentos, incluindo sistemas de defesa antiaérea e outras ajudas militares.
As contribuições para o fundo serão reinvestidas em projetos relacionados à mineração, petróleo e gás, bem como em infraestrutura.
Nenhum lucro será retirado do fundo durante os primeiros 10 anos, informou Svyrydenko.
Funcionários do governo Trump inicialmente pressionaram por um acordo no qual Washington receberia US$ 500 bilhões em lucros de minerais explorados como compensação por seu apoio em tempos de guerra.
No entanto, Zelensky rejeitou a oferta, afirmando que não assinaria um acordo “que será pago por 10 gerações de ucranianos”.
Qual a situação da indústria de mineração ucraniana?
Os elementos de terras raras da Ucrânia estão em grande parte inexplorados devido a políticas estatais que regulamentam a indústria, à falta de informações precisas sobre os depósitos e à guerra.
O potencial da indústria não é claro, pois os dados geológicos são escassos, as reservas minerais estão dispersas por toda a Ucrânia e os estudos existentes são considerados inadequados por empresários e analistas.
Em geral, no entanto, as perspectivas para os recursos naturais ucranianos são promissoras. Acredita-se que as reservas de titânio do país, um componente chave para as indústrias aeroespacial, médica e automotiva, estejam entre as maiores da Europa. A Ucrânia também possui algumas das maiores reservas conhecidas de lítio da Europa, necessário para fabricar baterias, cerâmica e vidro.
Em 2021, a indústria mineral ucraniana representou 6,1% do Produto Interno Bruto do país e 30% das exportações.
Estima-se que 40% dos recursos minerais metálicos da Ucrânia sejam inacessíveis devido à ocupação russa, de acordo com dados do We Build Ukraine, um think tank com sede em Kiev. A Ucrânia argumenta que é do interesse de Trump desenvolver o restante antes que os avanços russos capturem mais territórios.
