Ele é o político que virou suco.
Ex-presidente da Câmara, ex-governador, ex-senador, ex-presidente de seu partido e ex-quase-presidente da república com mais de 50 milhões de votos, Aécio Neves viu sua carreira se desmanchando até chegar à mais absoluta irrelevância.
Tido como natural líder da oposição ao governo da então reeleita Dilma Rousseff em 2014, apequenou-se logo na largada ao preferir manter distância das primeiras manifestações populares pelo impeachment, surgidas naquele mesmo ano; um ano e meio depois, em um dos maiores erros de cálculo político já vistos por aqui, tentou surfar na onda de um movimento que tornara-se gigantesco e foi ridiculamente expulso, juntamente com Geraldo Alckmin, da Avenida Paulista durante uma manifestação, impedido de se aproximar dos carros de som.
Tragado pelo mar de lama exposto pela Lava Jato, desde as conversas vazadas entre Sérgio Machado e Romero Jucá, em 2016, até as gravações feitas por Joesley Batista, em 2017, Aécio Neves tornou-se um nada:
sequer tentou a reeleição ao Senado, contentando-se com uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde é um parlamentar fantasma – não se tem notícias de sua atuação, há muito não é chamado para programas de TV, não dá entrevistas.
Em seu próprio partido tornou-se um pária – e um grande incômodo.
Desde que saiu-se vitorioso das eleições de 2018, como era previsível, o governador João Doria vem tratorando todas as vozes divergentes no PSDB, relegando suas lideranças históricas a segundo plano, chamando para si todo o protagonismo e tentando posicionar o partido na centro-direita, como opção moderada ao bolsonarismo, em cujo desgaste nos próximos anos aposta todas as suas fichas:
Doria quer ser presidente e tirar a figura corroída de Aécio Neves do partido faz parte da “faxina ética” que pretende promover para, depois do fracasso retumbante de 2018, fazer com que a legenda tenha força eleitoral em 2022.
Nesta quarta-feira, a Executiva Nacional do PSDB pode decidir se abre ou não o processo de expulsão de Aécio, que é réu por corrupção e obstrução de justiça e eterno candidato a ocupar uma vaga em alguma carceragem.
A decisão, seja qual for, poderá mexer as peças no tabuleiro político nacional: pode significar, caso o processo seja aberto, um ainda maior fortalecimento de Doria ou – caso seja permitido que o deputado mineiro continue respondendo a seus processos sem se afastar do partido – pode culminar até mesmo, em futuro próximo, com a saída do governador paulista e de seu grupo para outro partido:
e o DEM, de ACM Neto e Rodrigo Maia, certamente os receberiam de braços abertos.