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Quando os 200 deputados recém-eleitos da República Tcheca se reuniram para a sessão inaugural de seu novo parlamento nesta segunda-feira (8), não havia um único membro do Partido Comunista por lá – é a primeira vez que isso acontece em 76 anos.
O Partido Comunista da Boêmia e Morávia (KSCM), o sucessor direto do Partido Comunista totalitário da antiga Tchecoslováquia, abandonou a Câmara Baixa do Parlamento tcheco depois de não conseguir obter nenhuma cadeira nas eleições do último mês.
O partido perdeu sua última cadeira na Câmara Alta, considerada o Senado tcheco, em 2018.
A saída final dos comunistas dos níveis mais altos da política tcheca marca um momento extremamente simbólico para muitos sobreviventes do regime totalitário, especialmente depois que o governo de saída do primeiro-ministro, Andrej Babis, violou um rito de longa data do Parlamento ao contar com os votos dos comunistas para garantir a maioria em 2018.
Com isso, Babis deu aos comunistas acesso indireto ao poder. Embora o partido tenha tentado se renomear como um grupo de esquerda moderno e democrático nos últimos anos, o KSCM nunca removeu totalmente sua associação com os atos do antigo partido totalitário.
Marek Benda, do Partido Cívico Democrático e o mais antigo membro do Parlamento do país, disse que nunca imaginou que os comunistas permaneceriam no Parlamento por tanto tempo depois da revolução. A “revolução de veludo” aconteceu 1989 e resultou na deposição do governo comunista do país.
“Achamos que eles ainda teriam alguns eleitores, mas que desapareceriam gradualmente (…) mas eles acabaram indo muito bem por muito mais tempo”, disse Benda.
Jan Rovny, professor associado da Sciences Po em Paris, disse que o declínio do partido se deve principalmente à “substituição demográfica de seus eleitores mais velhos, nostálgicos pelas certezas do regime comunista”.
Mas, escrevendo em um blog de política, Rovny disse que a ascensão de partidos populistas como o ANO, de Babis, e o SPD, partido da extrema direita, também contribuíram para a queda dos comunistas.
“Desde seu apogeu no comando do regime autoritário, o KSCM foi reduzido a um partido de protesto de esquerda radical na democracia pós-1989”, escreveu ele.
“A recente ascensão de temas culturais, centrados nos temores de migração apresentados pelo SPD e cada vez mais pelo ANO, mudou a substância da política de protesto. Os distritos centrais do partido nas regiões pós-industriais do norte mudaram sua fidelidade.”
Liderança do KSCM renuncia após derrota
A liderança do KSCM renunciou após a derrota do partido nas eleições. Jiri Dolejs, membro do conselho do KSCM, disse à CNN que o fim do partido reflete uma queda mais ampla da esquerda na Europa, apontando para outros grupos que sofreram perdas, como Die Linke, da Alemanha.
“A esquerda tem competido com os populistas, a migração e as crises de saúde afastaram a competição tradicional entre a esquerda e a direita”, disse ele.
Vojtech Filip, o ex-líder do KSCM que está deixando o cargo, disse a Halo Noviny, um jornal de esquerda tcheco intimamente ligado ao partido é “uma grande decepção.”
“O fracasso [eleitoral] do KSCM significa que, pela primeira vez na história moderna, o partido comunista não fará parte da democracia parlamentar na República Tcheca. Os comunistas agora enfrentam a tarefa de fazer tudo ao seu alcance para recuperar a proeminência”, disse.
A líder recém-nomeada do grupo, Katerina Konecna, disse que sua prioridade será trabalhar para ganhar mais apoio entre os jovens. De acordo com o jornal oficial do partido, a idade média dos membros do KSCM é agora de 75 anos.
‘Eles fracassaram por conta própria’
Benda foi um dos líderes estudantis da revolução de 1989 e ingressou no Parlamento tcheco logo após a queda do regime comunista.
“Quando entrei pela primeira vez no Parlamento, éramos 70 novos deputados e 130 velhos”, disse ele à CNN.
“Foi bastante extremo, alguns dos antigos membros eram os verdadeiros camaradas da velha escola. Claro que as piores pessoas foram expulsas, mas as que permaneceram ainda estavam muito presas aos velhos hábitos.”
Ele disse que, aos 21 anos, era tratado de maneira informal por muitos dos comunistas da chamada “velha escola”, algo com o qual ele “simplesmente não conseguia se acostumar”.
Benda disse que vê a saída do KSCM do Parlamento tcheco como um “grande sucesso”. “Especialmente porque aconteceu de forma democrática, eles fracassaram por conta própria”, acrescentou.
O deputado disse que não havia clima para que o partido fosse banido depois da revolução: “O ambiente não era de vingança e o Ocidente também não apoiava a ideia de tornar o partido ilegal”.
Embora tenha demorado 32 anos para o KSCM sair do Parlamento, a saída final do grupo é mais simbólica em 2021 – um século depois que o Partido Comunista da antiga Tchecoslováquia foi formado.
*Com informações de CNN Brasil