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Em um depoimento contundente à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das plataformas de apostas online (bets) no Senado nesta terça-feira (21), o padre e influenciador digital Patrick Fernandes alertou para os graves danos sociais e psicológicos causados pela ludomania, também conhecida como vício em jogos de azar, especialmente em jovens e famílias.
Padre Patrick iniciou sua fala destacando o impacto significativo da publicidade de apostas no Brasil. Ele ressaltou que, apesar da grande exposição, muitos – incluindo ele próprio – se recusam a promover esse tipo de conteúdo por convicções éticas e morais.
Em sua experiência como religioso, o padre observou que homens adultos são o grupo que mais apresenta dificuldades com o vício em apostas online. No entanto, ele também destacou a vulnerabilidade dos jovens, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde a falta de oportunidades os torna mais suscetíveis a “promessas ilusórias”.
Ludomania como Questão de Saúde Pública
“Existe um caso, a meu ver, de saúde pública. Eu acho que o senhor, médico, pode até dizer melhor a respeito disso, né? Porque não é um padre que está falando. Isso são dados científicos. Se não querem acreditar num padre, a ciência está aí para isso. Hoje a ludomania é classificada como uma doença, um transtorno mental, que é justamente o vício nos jogos e os estragos que isso pode causar na vida de uma pessoa. E é isso que está acontecendo de forma muito não velada, mas de forma rasgada mesmo, e assim a gente está testemunhando isso”, afirmou Fernandes.
O sacerdote ressaltou que houve um aumento significativo nos últimos anos na procura por tratamentos de transtorno de jogo, com destaque para casos que envolvem depressão, abstinência e ansiedade.
Padre Patrick foi convidado a depor após publicar um vídeo na semana passada, onde expressava seu desejo de contribuir com a comissão por conhecer “muitas famílias endividadas” devido às apostas.
Recusa a Ofertas Vultosas e Apelo a Influenciadores
Durante seu depoimento, o influenciador revelou ter sido procurado por plataformas de apostas com propostas financeiras vultosas. Ele chegou a receber uma oferta de R$ 560 mil para divulgar uma plataforma, quando ainda não tinha um milhão de seguidores. “Eu me lembro de uma proposta de valor, eu não saberia dizer qual delas — depois eu posso ver —, que me procurou me oferecendo, naquela época, que foi bem no início, que acho que eu ainda não tinha 1 milhão de seguidores no Instagram, R$560 mil, naquela época, para divulgar”, afirmou. A proposta incluía divulgação duas vezes por semana por meio de stories.
Ele recusou a oferta e orientou sua equipe a nem mesmo repassar esse tipo de contato, relatando que as abordagens continuam sendo feitas diariamente, principalmente via mensagens diretas nas redes sociais. “Agora, se você pega, por exemplo, o Instagram, nos directs, aí todo dia vai ter uma mensagem: “Ah, eu sou gerente tal, plataforma tal, nós vimos o seu perfil”, existe um aliciamento por detrás disso”, relatou.
Para Padre Patrick, é fundamental que mais influenciadores se posicionem contra as apostas, especialmente aqueles com grande alcance. Ele defende que as recomendações tradicionais, como limitações de idade ou responsabilidade na hora de jogar, são “totalmente ineficazes”. “Eu acho que deveria ter uma restrição maior por parte… Aí vocês estão certos em restringir horário, esse tipo de coisa. E aí eu não sei até que ponto isso é possível, seria proibido influenciadores divulgarem, eu acho que seria o meio talvez que deveria… Acho que deveria ser proibido divulgar casas de apostas”, avaliou.
Os demais parlamentares da CPI concordaram com a preocupação do padre. A relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), comparou a urgência em combater o transtorno de jogo a uma “epidemia moderna”, assim como ocorreu com o tabagismo nos anos 1980. “Nós estamos num trabalho para desestimular a jogatina no nosso país, tal qual aconteceu com o cigarro. Uma campanha muito forte diminuiu o tabagismo”, afirmou a relatora. Para as próximas sessões, os parlamentares defenderam que os donos das plataformas de apostas sejam obrigados a prestar esclarecimentos.
