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A resposta veio após autoridades dos Estados Unidos e da Europa afirmarem, no sábado, que o Irã enviou mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, mesmo após avisos de Washington e seus aliados.
Dmitri Peskov, porta-voz da Presidência russa, disse que esse tipo de informação “nem sempre é verdade”, destacando apenas que o Irã é “um parceiro importante” e que ambos os países cooperam em diversas áreas, inclusive as mais sensíveis. Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Naser Kanani, declarou que o Irã não é “parte interessada” no conflito, acusando os que criticam Teerã de serem os maiores exportadores de armas para uma das partes em guerra.
A União Europeia (UE), por sua vez, afirmou que possui informações confiáveis sobre a entrega de mísseis balísticos iranianos à Rússia, e alertou para possíveis sanções caso essa informação seja confirmada. Peter Stano, porta-voz da diplomacia europeia, reiterou que a posição dos líderes do bloco é clara e que a UE responderá rapidamente, com novas medidas restritivas contra o Irã, se necessário.
Na semana anterior, autoridades americanas e europeias haviam confirmado ao Wall Street Journal que o Irã enviou “vários mísseis balísticos” para a Rússia, algo que poderia intensificar os esforços de Moscou para destruir a infraestrutura civil da Ucrânia. Segundo especialistas, esses novos armamentos ajudariam na ofensiva russa, que, de acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, envolve cerca de 4 mil bombas por mês em todo o país.
Na sexta-feira, o Irã já havia negado qualquer envolvimento por meio de uma declaração emitida por sua missão permanente nas Nações Unidas. O governo iraniano considerou “desumano” o fornecimento de assistência militar a qualquer parte envolvida no conflito, alegando que isso apenas aumentaria as baixas humanas e dificultaria as negociações de cessar-fogo. Além disso, Teerã exortou outros países a cessarem o fornecimento de armas para ambos os lados.
O Grupo dos 7, composto por Japão, Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Canadá e Reino Unido, já havia advertido em março sobre a possibilidade de sanções coordenadas contra o Irã caso a transferência de mísseis fosse concretizada. O alerta foi repetido durante uma cúpula da Otan, em julho. No sábado, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Sean Savett, recusou-se a confirmar o envio dos mísseis, mas expressou preocupação com a crescente cooperação entre Teerã e Moscou. Ele afirmou que a parceria de segurança entre os dois países, desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia, é motivo de alarme e que a transferência de mísseis balísticos representaria uma escalada dramática no apoio iraniano à Rússia.
Apesar das tensões com Teerã, o presidente dos EUA, Joe Biden, tem agido com cautela, considerando que seu governo está envolvido em uma complexa diplomacia com o Irã para evitar que o conflito na Faixa de Gaza se expanda. A Casa Branca tem utilizado intermediários para exortar o Irã a não lançar ataques militares contra Israel ou ordenar ofensivas por meio do Hezbollah, grupo xiita aliado.
Com a campanha presidencial americana em andamento, a resposta de Washington às ações iranianas ainda não é clara. Um alto funcionário europeu revelou ao The Times que Biden rejeitou pedidos de Zelensky para suspender restrições ao uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia, que poderiam atingir bases aéreas no interior da Rússia, de onde partem ataques contra o território ucraniano.
Na sexta-feira, Zelensky fez novos pedidos por armamentos durante uma reunião em Ramstein, na Alemanha, e em uma conferência na Itália. Ele argumentou que os mísseis seriam usados apenas contra bases aéreas militares e lamentou que não possa atacar o Kremlin.
Desde o início da guerra na Ucrânia, Irã e Rússia estreitaram sua cooperação econômica, energética e militar. O fornecimento de mísseis iranianos para a Rússia pode levar Biden a aprovar o envio de mísseis de longo alcance para a Ucrânia, embora haja receio de que isso intensifique o conflito. Andrew Weiss, especialista em Rússia no Fundo Carnegie para a Paz Internacional, questionou a decisão do Irã de transferir os mísseis, considerando os avisos claros sobre sanções por parte da Europa.
Além disso, há uma preocupação em não pressionar demais o novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, que busca aliviar as sanções contra o Irã para melhorar a economia do país. A expectativa é que ele também ajude a restringir o programa nuclear iraniano.
Enquanto isso, o Exército russo reivindicou nesta segunda-feira a tomada de uma nova localidade no leste da Ucrânia, próxima à cidade estratégica de Pokrovsk. As tropas russas avançam na região de Donetsk, após semanas de tentativas de capturar Pokrovsk. Embora a Ucrânia tenha lançado uma ofensiva na região russa de Kursk em agosto, a Rússia registrou seus maiores ganhos territoriais dos últimos dois anos.
Putin reiterou que a captura do Donbass, onde Donetsk está localizada, continua sendo o “objetivo prioritário” de Moscou.