Lavrov alerta sobre risco de Terceira Guerra Mundial após ataques dos EUA ao Irã: “Estamos à beira do caos total”

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou neste domingo (22) que “a Terceira Guerra Mundial poderia estar muito perto”, ao comentar os ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. A fala foi feita durante entrevista ao jornalista Pavel Zarubin, e incluiu uma citação direta ao presidente russo, Vladimir Putin.

Lavrov alertou que o uso do direito à autodefesa por alguns países, sem respeito à Carta das Nações Unidas, pode conduzir o mundo a um cenário catastrófico. “A aplicação do direito à autodefesa sem respeitar a Carta da ONU levará o mundo ao ‘caos total’”, afirmou o chanceler russo.

O comentário veio após os bombardeios norte-americanos contra os centros nucleares iranianos de Fordow, Natanz e Isfahan, realizados no sábado (21), por ordem do presidente Donald Trump. Os ataques marcam um novo capítulo na escalada de tensão no Oriente Médio, que teve início em 13 de junho, quando Israel atacou alvos no Irã e declarou estado de emergência. Em resposta, Teerã lançou diversas ofensivas com mísseis.

Ao criticar a postura do Ocidente diante dos ataques contra o Irã, Lavrov questionou a seletividade nas reações internacionais. “Bom, esses são os mais cínicos. O resto diz que Israel tem direito à autodefesa, como disse Macron. Autodefesa contra o quê?”, indagou.

O ministro reconheceu que a autodefesa é um direito garantido pela Carta da ONU, mas condenou sua interpretação unilateral. “Se cada um decidir sozinho quando exercer esse direito, sem considerar a Carta da ONU, isso deixaria de ser uma ordem mundial. Seria, obviamente, um caos total”, enfatizou.

Lavrov citou diretamente uma declaração recente de Putin: “E, como disse anteriormente o presidente, a Terceira Guerra Mundial poderia estar muito perto”. O presidente russo já havia expressado preocupação com o cenário durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. “Existe um grande potencial de conflito bem diante dos nossos olhos, na Ucrânia e no Oriente Médio”, declarou Putin na sexta-feira (20), um dia antes dos bombardeios dos EUA.

Até o momento, Putin não se pronunciou publicamente sobre o ataque. No entanto, o ex-presidente russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança, Dmitri Medvedev, criticou duramente a ofensiva norte-americana. Segundo ele, a maioria dos países do mundo é contra os ataques, que, de acordo com sua avaliação, “não destruíram infraestrutura crítica” e ainda estimularam o interesse de outros Estados em fornecer armas nucleares ao Irã.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou os ataques dos EUA como “irresponsáveis” e contrários ao direito internacional, à Carta da ONU e às resoluções do Conselho de Segurança. Moscou considerou “especialmente alarmante” o fato de terem sido realizados por um membro permanente do Conselho.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, que segue para Moscou para se reunir com Putin, afirmou que os EUA e Israel “cruzaram uma linha vermelha muito grave ao atacar instalações nucleares”. Já o embaixador iraniano na Rússia, Kazem Jalali, disse que Teerã espera que as negociações em Moscou “se tornem o ponto de partida para estabilizar a situação no Oriente Médio”.

Apesar dos bombardeios, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que não houve elevação dos níveis de radiação fora das áreas atingidas e demonstrou confiança de que não haverá impactos à saúde pública ou ao meio ambiente.

Críticas à União Europeia

Na mesma entrevista, Lavrov também disparou críticas à postura da União Europeia em relação à Rússia e à guerra na Ucrânia. “Eles demonizam a Rússia. Essa agressividade quase animal nas palavras e nas ações é evidente”, disse o ministro.

Lavrov fez referência direta a lideranças femininas da Comissão Europeia, como Ursula von der Leyen e Kaja Kallas. “Especialmente se destaca a parte feminina da Comissão Europeia. É triste”, comentou. Segundo o chanceler, o presidente Putin reafirma que “são nossos vizinhos. E não vamos nos isolar deles, mas eles precisam mudar de comportamento”.

Por fim, Lavrov também criticou as consequências econômicas das sanções contra Moscou. “Renunciaram quase completamente aos combustíveis russos, engoliram o atentado terrorista contra o Nord Stream… Tudo isso custa centenas de bilhões de euros e afeta o bem-estar da população”, declarou. “Por inércia, eles mantêm essa agressividade, só para controlar de alguma forma a população”, concluiu. “O Ocidente já mostrou sua verdadeira face em outras ocasiões. Estamos vivendo mais um desses períodos.”